
Regresso do FMI gera vaga de expectativas
_ A retoma do programa de apoio do FMI gerou um optimismo generalizado sobre o desempenho da economia nos próximos tempos. São enormes os ganhos esperados para o País e traduzem-se, fundamentalmente, no apoio a recuperação económica, entretanto, alertam especialistas, é preciso haver uma gestão de expectativas.
Volvidos pouco mais de cinco anos após a suspensão do apoio directo ao Orçamento do Estado na sequência do escândalo das dívidas não declaradas, o FMI chegou, finalmente, a um acordo com o Governo sobre um novo programa de apoio financeiro no âmbito da Facilidade de Crédito Alargada.
Avaliado em cerca de 470 milhões de dólares, o programa de três anos, compreendendo o período 2022-2025, “equilibra o financiamento com um ajustamento moderado que recuperará o espaço para políticas e reduzirá a dívida e as vulnerabilidades de financiamento”, segundo uma nota publicada no site da organização.
As ideias existentes convergem sobre a oportunidade e a relevância do acordo para a recuperação da economia nacional. O sector privado, por exemplo, vê na retoma do apoio financeiro um “sinal positivo e boa perspectiva” para o financiamento da economia, incluindo o reforço das reservas internacionais, com a melhoria na confiança dos investidores.
O mesmo nível de optimismo é partilhado pela Autoridade Monetária do País. Falando recentemente à imprensa no âmbito da divulgação das decisões do Comité de Política Monetária, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, avançou que a retoma do programa com o Fundo Monetário Internacional poderá contribuir para o aprofundamento de reformas e maior financiamento concessional à economia, iniciando, assim, um “processo gradual” de transição para taxas de juro de um dígito no médio e longo prazo.
Analistas atentos à área orçamental também vêem no novo acordo uma oportunidade para promover o acesso ao financiamento e apoiar o processo de recuperação da economia nacional. “Este acordo tem tudo para revitalizar a nossa economia ”, destacou Estrela Charles, economista e pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP), falando ao “O.ECONÓMICO” sobre o contexto e as perspectivas do novo figurino do relacionamento entre o Governo e o FMI.
“Quando nós temos investimentos a nível interno significa que nós teremos também uma maior produção e vamos gradualmente deixar de depender das importações”, enfatizou, explicando que, na medida em que a retoma do apoio deverá, além de melhorar a imagem do país no mercado internacional, reduzir o peso do Governo na absorção do crédito destinado a economia, resultará num aumento dos recursos disponíveis para o financiamento do sector privado.

Com o programa de apoio financeiro, volta não só o FMI, mas todos nossos principais parceiros de cooperação, criando diversas oportunidades de financiamento para as empresas e famílias, pelo que “a injecção de recursos permitirá apoiar a recuperação económica”, destacou, para depois acrescentar que: “o Governo deve aproveitar esta janela de oportunidade para financiar o sector produtivo da economia”.
Com efeito, o programa de médio prazo do Governo, com o apoio do FMI, centra-se no crescimento, sustentabilidade fiscal, e reformas na gestão e governação das finanças públicas, entretanto, alerta: “Nós como país temos que ir com muita calma, não ter muita expectativa neste financiamento”.
Segundo explicou, não obstante os prováveis e consideráveis benefícios para o País, deve haver uma gestão de expectativas relativamente a retoma do programa, referindo-se particularmente ao risco de um maior endividamento: “vamos traçar planos e programas para que quando tivermos acesso a esse financiamento saibamos o que queremos fazer”, concluiu. (OE)