
Estados Africanos em Fragilidade e Conflito Enfrentam Caminho Longo e Complexo para o Crescimento Económico Sustentado
Questões-Chave:
- Mais de metade da população da África Subsariana vive em Estados frágeis e afectados por conflitos;
- Crescimento económico estagnado, fraca institucionalidade e serviços públicos deficientes são desafios centrais;
- Se a tendência actual persistir, até 2030 dois terços da população pobre mundial residirá nestes países;
- Experiências como as da Serra Leoa e Libéria mostram que a resiliência é possível com reformas e governação participativa;
- Estratégias de integração de refugiados podem impulsionar emprego e rendimento.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que os Estados frágeis e afectados por conflitos da África Subsariana enfrentam desafios estruturais severos que exigem soluções de longo prazo. Sem reformas profundas, a região poderá concentrar a maioria da pobreza extrema mundial até 2030.
A fragilidade económica e institucional continua a marcar profundamente a realidade de grande parte da África Subsariana. Mais de 50% da população da região vive em Estados frágeis ou afectados por conflitos (FCS), onde a pobreza extrema, o acesso limitado a serviços públicos, os conflitos armados e os deslocamentos forçados internos são fenómenos recorrentes.
Segundo uma nota analítica do FMI, publicada no contexto do Regional Economic Outlook for Sub-Saharan Africa, os FCS enfrentam dificuldades acrescidas em retomar o crescimento económico após os múltiplos choques recentes, incluindo a pandemia, alterações climáticas e instabilidade política.
A vida nestes contextos tem um elevado custo humano: a esperança média de vida mantém-se nos 60 anos, as taxas de pobreza são o dobro das registadas em países não-frágeis da região, e as taxas de conclusão do ensino primário continuam entre as mais baixas do mundo. A manter-se a actual trajectória, dois terços da população mundial em situação de pobreza extrema residirá em países frágeis em 2030, com a África no epicentro.
Um Ciclo de Fragilidade Económica
O relatório sublinha que os FCS têm dificuldade em sustentar ciclos de crescimento económico. Após choques económicos, perdem receitas e têm acesso limitado a financiamento acessível, obrigando-os a cortar despesa pública de forma mais abrupta do que os países vizinhos. Isso leva a contracções fiscais mais longas e profundas, comprometendo investimentos públicos e o próprio tecido económico.
Além disso, as limitações institucionais e o fraco acesso ao financiamento internacional limitam o desenvolvimento do sector privado, impedindo a criação de emprego e o alargamento da base produtiva. O sector privado nestes países contribui menos para o PIB e absorve menos mão-de-obra do que nos países não-frágeis.
Lições de Resiliência e Reforma
Nem tudo, porém, é desolador. O FMI destaca exemplos positivos como Serra Leoa e Libéria, que, após guerras civis, apostaram na reconstrução de infra-estruturas, serviços sociais e reformas institucionais. A chave, afirma o relatório, reside na governação participativa, combate à corrupção, e na diversificação económica.
A análise, baseada em machine learning, mostra que países que apostaram nestes eixos têm maior probabilidade de superar a fragilidade. Participação cívica, gestão responsável das receitas—em especial das provenientes de recursos naturais—e alocação mais justa dos recursos públicos são aspectos decisivos para o sucesso.
Integração de Refugiados: Desafios e Oportunidades
Curiosamente, muitos FCS são simultaneamente origem e destino de fluxos de refugiados. Apesar dos desafios logísticos e orçamentais, países como Camarões, Chade, Etiópia e Níger têm implementado políticas inovadoras que concedem liberdade de circulação, licenças de trabalho e acesso a serviços públicos aos refugiados. Segundo o FMI, estratégias de integração bem desenhadas podem gerar efeitos positivos sobre o emprego e rendimento, tanto para os refugiados como para os países anfitriões.
Recomendações Estratégicas
No quadro da sua Estratégia para Estados Frágeis e Afectados por Conflitos, o FMI defende um conjunto integrado de políticas:
- Restabelecer a estabilidade macroeconómica através de instituições fiscais robustas e melhor gestão financeira pública;
- Reforçar a confiança mediante melhor governação e gestão responsável das receitas, sobretudo as provenientes de recursos naturais;
- Promover a coesão social com maior envolvimento da sociedade e distribuição equitativa de recursos;
- Estabelecer parcerias internacionais de longo prazo para reforçar capacidades institucionais, financiar programas sociais e amortecer choques externos.
O crescimento económico nos países frágeis da África exige resiliência, consistência e parcerias estratégicas. Não existem soluções rápidas, mas há caminhos testados. Como refere o FMI, ignorar a fragilidade é permitir que se transforme numa crise global.
África Reforça Agenda Climática De Investimento Às Vésperas Da COP30
9 de Setembro, 2025Capitec Ultrapassa FirstRand E Torna-Se O Banco Mais Valioso De África
30 de Agosto, 2025
Conecte-se a Nós
Economia Global
-
INCM Revela Avanços E Desafios Na Qualidade Dos Serviços De Telecomunicações
9 de Setembro, 2025 -
Stablecoins E Tokens Colocam Em Causa A Dominância Monetária Global
9 de Setembro, 2025
Mais Vistos
-
Stablecoins E Tokens Colocam Em Causa A Dominância Monetária Global
9 de Setembro, 2025
Sobre Nós
O Económico assegura a sua eficácia mediante a consolidação de uma marca única e distinta, cujo valor é a sua capacidade de gerar e disseminar conteúdos informativos e formativos de especialidade económica em termos tais que estes se traduzem em mais-valias para quem recebe, acompanha e absorve as informações veiculadas nos diferentes meios do projecto. Portanto, o Económico apresenta valências importantes para os objectivos institucionais e de negócios das empresas.
últimas notícias
-
INCM Revela Avanços E Desafios Na Qualidade Dos Serviços De Telecomunicações
9 de Setembro, 2025
Mais Acessados
-
Economia Informal: um problema ou uma solução?
16 de Agosto, 2019 -
LAM REDUZ PREÇO DE PASSAGENS EM 30%
25 de Maio, 2023