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Moçambique: O Impacto profundo do comércio de roupas usadas

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Em Moçambique, o comércio de roupas usadas, conhecido localmente como “calamidades”, tem desempenhado um papel central na criação de empregos e na subsistência de milhares de famílias. Segundo o estudo liderado por Joseph Feyertag, o sector de roupas usadas emprega directamente mais de 1,28 milhões de pessoas nos cinco países analisados, incluindo Moçambique. Este número inclui trabalhadores ao longo de toda a cadeia de valor, desde importadores e transportadores até vendedores de rua e alfaiates que adaptam e consertam roupas para revenda.

Criação de emprego e subsistência em Moçambique

Em Moçambique, como no resto da África subsahariana, onde cerca de 85% da população ativa trabalha na informalidade, o sector de SHC oferece oportunidades de emprego que de outra forma seriam inexistentes. De acordo com o relatório, a cada tonelada de roupas importadas para Moçambique, são criados em média 6,5 empregos, o que reforça a importância do sector no combate ao desemprego. 

Além disso, o impacto dessas oportunidades de emprego vai além do próprio trabalhador, beneficiando cerca de 2,5 milhões de pessoas indiretamente, uma vez que grande parte dos trabalhadores são os principais provedores de suas famílias. Isso ajuda a aliviar a dependência exclusiva de actividades agrícolas de subsistência, que tradicionalmente sustentam grande parte da população moçambicana.

Sustentabilidade e Economia Circular em Moçambique

O comércio de roupas usadas em Moçambique também tem um impacto significativo na promoção de práticas sustentáveis. Ao prolongar o ciclo de vida das roupas e reduzir a necessidade de novas produções têxteis, o sector contribui para a economia circular. Segundo o relatório, apenas cerca de 2-5% das roupas usadas acabam em aterros sanitários, o que minimiza o desperdício têxtil e ajuda a reduzir os impactos ambientais negativos. Em Moçambique, isso é especialmente relevante, pois a infraestrutura para gestão de resíduos sólidos é limitada.

Além disso, a venda de roupas usadas oferece uma alternativa acessível para a população de baixa renda, permitindo que milhões de moçambicanos adquiram roupas de boa qualidade a preços acessíveis. Este aspecto é vital num país onde grande parte da população vive com menos de US$ 2,15 por dia, um dos índices mais elevados de pobreza extrema no mundo.

Contribuição fiscal e desenvolvimento

Outro ponto importante destacado pelo relatório é a contribuição fiscal do sector de SHC para a economia moçambicana. Em 2022, o comércio de roupas usadas gerou mais de US$ 73,5 milhões em receitas fiscais nos cinco países estudados, incluindo Moçambique. Esses fundos são cruciais para governos com orçamentos limitados, como o de Moçambique, pois ajudam a financiar serviços públicos essenciais, incluindo saúde, educação e infraestrutura.

A receita proveniente do sector de SHC ajuda a aliviar a pressão fiscal sobre o governo, oferecendo uma fonte de recursos constante e previsível. Isso é especialmente importante num contexto em que Moçambique enfrenta desafios económicos substanciais, desde o serviço da dívida pública até o financiamento de projetos de desenvolvimento sustentável.

Desafios e oportunidades Futuros para Moçambique

Apesar dos benefícios, o sector de SHC em Moçambique enfrenta uma série de desafios. A “informalidade” permanece uma questão central, com muitos trabalhadores desprovidos de protecção social e outros benefícios de trabalho. A formalização do sector, como sugerido pelo estudo, poderia proporcionar melhores condições de trabalho e aumentar a segurança social dos trabalhadores envolvidos.

Além disso, o comércio de roupas usadas é frequentemente criticado por alegadamente competir com a indústria têxtil local. No entanto, o relatório argumenta que o declínio da indústria têxtil em Moçambique e em outros países africanos deve-se a uma combinação de factores estruturais, como a falta de investimento em infraestruturas e a concorrência com produtos de baixo custo vindos da Ásia, e não apenas ao influxo de roupas usadas.

O estudo conclui que o sector de roupas usadas tem um papel crucial a desempenhar no desenvolvimento socioeconómico de Moçambique. Com o apoio adequado, políticas de formalização e investimentos estratégicos, o sector poderia continuar a crescer, oferecendo oportunidades de emprego formais, sustentáveis e, ao mesmo tempo, contribuindo para a economia circular e para a redução da pobreza.

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