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CTA contesta posição do Banco de Moçambique e alerta para agravamento da escassez de divisas

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A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) veio a público contestar o posicionamento do Banco de Moçambique (BdM) sobre a disponibilidade de moeda estrangeira no mercado cambial. O BdM afirmou recentemente que os bancos comerciais não estavam a enfrentar dificuldades na disponibilização de divisas, contrariando as queixas recorrentes do sector privado. Em resposta, a CTA classificou essa posição como “pouco sensível” e apresentou dados concretos que apontam para um cenário de forte restrição de liquidez em moeda externa.

Queda drástica na liquidez interbancária e retenção de divisas

Os dados mais recentes indicam que o volume de permuta de liquidez em moeda externa entre bancos comerciais no Mercado Cambial Interbancário (MCI) caiu drasticamente. Apesar de uma ligeira recuperação no quarto trimestre de 2024, a liquidez continua muito abaixo dos níveis registados em 2023 e 2022. O segundo trimestre de 2024 foi particularmente crítico, com um volume de apenas 5,5 milhões de dólares, atingindo um mínimo histórico.

Nas operações entre bancos comerciais e clientes, verificou-se um crescimento de 13% no volume agregado das transacções cambiais entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2024. Contudo, esse crescimento foi impulsionado pelo aumento das compras de moeda externa pelos bancos comerciais em 18%, enquanto as vendas de divisas aos clientes cresceram apenas 7%. Este comportamento sugere que a liquidez cambial ficou concentrada nos bancos, em vez de ser disponibilizada ao mercado.

A CTA alerta que esta retenção de liquidez por parte dos bancos comerciais é preocupante. Em 2024, estima-se que os bancos absorveram cerca de 1,8 mil milhões de dólares em moeda externa dos seus clientes, sem que esse montante tenha sido devolvido ao mercado.

Queda nos activos externos e dificuldades no pagamento de facturas

Outro indicador crítico é a redução dos activos externos líquidos dos bancos comerciais. Entre Novembro de 2023 e 2024, esses activos caíram 12,8%, enquanto a redução acumulada nos últimos dois anos chegou a 47,5%. Esta situação, combinada com a diminuição das fontes de divisas e o fim das intervenções do Banco de Moçambique no mercado cambial, levou os bancos comerciais a aumentar as compras líquidas de moeda externa para cobrir obrigações externas.

A CTA também revelou que apresentou ao Banco de Moçambique uma lista de empresas com pedidos de pagamento de facturas em divisas não satisfeitos, totalizando 402 milhões de dólares no terceiro trimestre de 2024.

Num encontro realizado entre a CTA e o Banco de Moçambique, representantes de 15 empresas afectadas expuseram os desafios que enfrentam devido à escassez de divisas. No entanto, apesar da promessa de uma análise mais aprofundada da situação, nenhuma solução concreta foi apresentada até ao momento.

Impacto em sectores estratégicos e apelo ao sector privado

A escassez de divisas está a afectar particularmente sectores estratégicos como a indústria transformadora e o turismo. Empresas que dependem de importação de matéria-prima e equipamentos enfrentam dificuldades crescentes para garantir o abastecimento. No sector do turismo, algumas companhias aéreas internacionais suspenderam a emissão de bilhetes em agências moçambicanas devido à impossibilidade de repatriar receitas em dólares.

Diante deste cenário, a CTA lançou um apelo às empresas privadas, solicitando que todas aquelas que tenham pedidos de pagamento de facturas de importação pendentes há mais de três meses enviem a documentação aos escritórios da CTA no prazo de cinco dias. As informações recolhidas serão encaminhadas ao Banco de Moçambique, com o objectivo de encontrar soluções para o problema.

E agora?

A crise cambial em Moçambique continua a representar um entrave ao ambiente de negócios, afectando a estabilidade das empresas e a capacidade de importação. Enquanto o Banco de Moçambique mantém a posição de que não há problemas na disponibilização de divisas, os dados apresentados pela CTA indicam um cenário bem diferente, com restrições severas de liquidez, retenção de moeda estrangeira pelos bancos e dificuldades no pagamento de facturas.

A evolução deste impasse será crucial para o sector empresarial e para a economia moçambicana nos próximos meses.

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