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Desaceleração acentuada da concessão de crédito pode comprometer o crescimento económico – FMI

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  • Juros elevados e uma política monetária restritiva, resultam no aumento no custo de financiamento e um maior risco de inadimplência, alerta o FMI
  • Inflação, Rentabilidade Bancária e Dilemas da Política Monetária: O Que Revela o FMI?

O mais recente relatório do Fundo Monetário Internacional (Inflation and Bank Profits: Monetary Policy Trade-offs) lança luz sobre uma questão central para os mercados financeiros: como a inflação e a política monetária afetam a rentabilidade dos bancos e a estabilidade económica. Numa conjuntura global marcada por juros elevados, instabilidade financeira e incerteza económica, o estudo expõe um dilema fundamental: o aperto monetário necessário para conter a inflação pode gerar riscos para a solvência dos bancos e a sustentabilidade do crédito.

Lucros Bancários Sob Pressão: O Impacto Directo da Inflação

A inflação tem um efeito dual sobre a rentabilidade dos bancos. No curto prazo, uma inflação elevada pode impulsionar os seus lucros, pois as taxas de juro aplicadas aos empréstimos sobem mais rapidamente do que o custo de captação de recursos. No entanto, à medida que os bancos centrais apertam a política monetária para conter a escalada dos preços, os efeitos negativos tornam-se mais evidentes.

O relatório do FMI destaca que, com juros elevados e uma política monetária restritiva, os bancos enfrentam um aumento no custo de financiamento e um maior risco de inadimplência, o que pode comprometer a expansão do crédito e reduzir os lucros bancários a médio e longo prazo.

Bancos Sólidos vs. Bancos Vulneráveis: Quem Está Mais Exposto?

O impacto da inflação sobre os bancos não é uniforme. A estrutura de balanço e o modelo de negócios de cada instituição determinam a sua resiliência ou vulnerabilidade às oscilações macroeconómicas. O FMI identifica dois grupos distintos:

Os bancos bem capitalizados e diversificados, que possuem uma base de depósitos estável e uma carteira de activos equilibrada, conseguem absorver melhor os efeitos da inflação e das taxas de juro elevadas.

Por outro lado, os bancos altamente dependentes de financiamento de curto prazo e expostos a activos de longo prazo – como títulos de dívida pública de vencimento prolongado – enfrentam riscos significativos. Quando as taxas de juro sobem, os rendimentos desses activos não acompanham o aumento dos custos de financiamento, levando a perdas potenciais.

A quebra de instituições financeiras, como evidenciada pela falência de bancos regionais nos EUA em 2023, demonstra que o aumento acelerado das taxas de juro pode gerar crises bancárias, especialmente quando os bancos não estão preparados para lidar com a reprecificação dos seus ativos.

O Dilema da Política Monetária: Conter a Inflação ou Proteger a Estabilidade Financeira?

Os bancos centrais enfrentam um dilema delicado. Por um lado, devem manter a inflação sob controlo, utilizando aumento das taxas de juro para restringir o consumo e reduzir a pressão inflacionária. Por outro, uma política monetária excessivamente restritiva pode desencadear efeitos adversos no sector bancário, aumentando o risco de crise financeira.

O FMI alerta que uma desaceleração acentuada da concessão de crédito pode comprometer o crescimento económico, dificultando a recuperação de sectores-chave, como indústria e construção. Ao mesmo tempo, um ambiente de juros elevados pode limitar a liquidez das empresas, aumentando as falências e agravando o desemprego.

As Alternativas Possíveis: Como Evitar um Choque Financeiro?

Diante deste cenário, o relatório sugere que os bancos centrais e os reguladores adotem uma abordagem mais equilibrada, combinando medidas de política monetária e prudencial para mitigar os riscos no sector financeiro. Entre as alternativas mencionadas pelo FMI, destacam-se:

  • Ajuste gradual das taxas de juro, evitando mudanças abruptas que possam desestabilizar os mercados financeiros;
  • Supervisão reforçada da liquidez e solvência bancária, garantindo que as instituições estejam preparadas para cenários de stress financeiro;
  • Adoção de medidas macroprudenciais, como requisitos de capital mais elevados para bancos com grande exposição a ativos de longo prazo;
  • Melhoria da comunicação dos bancos centrais, reduzindo a incerteza dos mercados sobre futuras decisões de política monetária.

A Necessidade de um Novo Paradigma Regulatório

O relatório do FMI destaca que o equilíbrio entre inflação, rentabilidade bancária e estabilidade financeira é mais frágil do que se pensava. O aumento das taxas de juro tem sido uma ferramenta eficaz para travar a inflação, mas os efeitos colaterais sobre o sector bancário e a economia real não podem ser ignorados.

Diante deste desafio, os decisores políticos precisam de um novo paradigma regulatório, que contemple a resiliência bancária num ambiente de inflação elevada e evite que os ajustes da política monetária criem choques financeiros desnecessários.

O debate permanece aberto: como calibrar a política monetária para controlar a inflação sem comprometer a estabilidade financeira? A resposta a esta questão poderá definir o futuro do sector bancário e da economia global nos próximos anos.

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