DÓLAR REFORÇA-SE APÓS SEMANAS DE VOLATILIDADE, ENQUANTO EURO TESTA LIMITES E MERCADO AVALIA POLÍTICAS MONETÁRIAS

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Divisas globais oscilam com a divergência das políticas dos bancos centrais e sinais mistos da economia mundial

Questões-Chave:
  • O dólar norte-americano (USD) recupera parte das perdas recentes, sustentado pela expectativa de política monetária prudente da Reserva Federal;
  • O euro (EUR) mantém tendência firme, apoiado pela resistência da economia da Zona Euro e pela cautela do Banco Central Europeu;
  • As moedas ligadas a matérias-primas mostram estabilização após meses de queda, mas permanecem sensíveis à liquidez global;
  • O mercado de câmbios ultrapassa 9 triliões de dólares por dia, num ambiente de crescente interligação entre derivados e fluxos de capitais;
  • A incerteza monetária e geopolítica define o tom da última parte do ano nos mercados cambiais.

O mercado cambial global encerra Outubro sob o signo da incerteza. O dólar voltou a ganhar força depois de semanas de recuo, enquanto o euro permanece nos seus níveis mais elevados do ano, num contexto de divergência entre bancos centrais e de expectativas cada vez mais divididas sobre o rumo da economia mundial.

Bancos Centrais Definem o Ritmo da Revalorização do Dólar

A recuperação da moeda norte-americana reflecte a mudança de tom na Reserva Federal (Fed).
Após o corte de juros decidido no início do mês, Jerome Powell sinalizou que a instituição adoptará maior prudência, evitando novos cortes até que os indicadores mostrem enfraquecimento claro da economia.

Esse reposicionamento deu novo fôlego ao dólar face ao iene e às principais moedas emergentes.
Já na Europa, o Banco Central Europeu mantém-se cauteloso, mas sem pressa em cortar taxas, o que tem sustentado o euro acima de 1,09 USD.

Segundo a Convera FX, “o dólar parece ter reencontrado o seu piso técnico, mas o euro beneficia da percepção de disciplina orçamental e de resiliência económica no bloco europeu”.

Euro Mantém-se Firme, Mas Sinais Técnicos Sugerem Excesso de Otimismo

A valorização do euro face às principais moedas comerciais atingiu máximos de vários meses.
Relatórios da Fitch Ratings apontam para um ganho real de mais de 5 % desde o início do ano, impulsionado por fluxos para activos europeus.
Contudo, a força da moeda única pode tornar-se contraproducente: um euro demasiado valorizado pode travar exportações e limitar a recuperação industrial.

Analistas técnicos observam que o movimento recente poderá dar lugar a ajustes de curto prazo, caso a Fed mantenha a pausa nos cortes e os mercados corrijam expectativas de convergência monetária.

Moedas de Commodities Testam Limites da Recuperação

O dólar australiano, o canadiano e o rand sul-africano registam ligeira recuperação, apoiados pela estabilização dos preços do petróleo e dos metais.
Mesmo assim, o movimento continua frágil.
A XE Global observa que “os fluxos para mercados emergentes permanecem altamente voláteis e vulneráveis a choques de liquidez”, o que significa que qualquer endurecimento monetário adicional da Fed poderá inverter o sentido das cotações.

Em África, o rand consolidou-se em torno dos 17,85 por dólar, beneficiando de factores técnicos, mas a volatilidade continua elevada devido à fraca confiança empresarial e ao ambiente político incerto.

Liquidez Global e Dependência dos Derivados Aumentam a Exposição ao Risco

O mercado cambial mundial movimenta hoje mais de 9 triliões de dólares diários, de acordo com o Financial Times.
A maior parte das transacções envolve operações de cobertura e produtos derivados, o que aumenta a interligação entre mercados e amplifica o risco de choques súbitos de liquidez.

O Fundo Monetário Internacional alertou este mês para a necessidade de reforçar mecanismos de supervisão e transparência, face ao risco de que um aperto de liquidez possa provocar deslocamentos bruscos das taxas de câmbio.
Num contexto de taxas ainda elevadas e de procura por activos de refúgio, o dólar volta a posicionar-se como porto seguro preferencial.

Mercados Entram em Fase de Consolidação Cautelosa

Para o último trimestre, as projecções apontam para movimentos contidos, mas assimétricos.
Se a Fed mantiver estabilidade e o BCE persistir na contenção, o dólar tende a consolidar-se e o euro poderá recuar ligeiramente.
Já as moedas emergentes e de matérias-primas continuarão dependentes da procura asiática e da evolução industrial na Europa.

Um abrandamento mais acentuado na China poderá redireccionar capitais para activos seguros, reforçando o dólar e penalizando divisas periféricas.

Pressão Cambial e Implicações Para Economias Dolarizadas

Para países como Moçambique, onde uma parte relevante da dívida e das importações está indexada ao dólar, a valorização da moeda norte-americana pode agravar o custo de financiamento e de importação de combustíveis.
Por outro lado, a estabilização dos preços internacionais decorrente da força do dólar pode atenuar pressões inflacionistas internas.

A evolução da taxa metical/dólar dependerá da gestão cambial do Banco de Moçambique e do comportamento dos fluxos de capitais ligados ao sector energético, factores críticos para o equilíbrio externo.

Volatilidade Contida, Mas Expectativas Em Suspenso

O mês de Outubro fecha com um mercado cambial marcado pela prudência e por sinais de divergência estrutural entre economias desenvolvidas.
O dólar retoma o estatuto de moeda-refúgio, o euro resiste por inércia e as moedas emergentes enfrentam o desafio de manter estabilidade num contexto de liquidez apertada.

Em síntese, a confiança substituiu a euforia: o capital global permanece em modo defensivo, à espera de maior clareza sobre o rumo das políticas monetárias e do crescimento mundial.

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