Algodão em Moçambique: Desafios, iniciativas e perspectivas para um futuro Sustentável do ouro branco

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Conhecido como o “ouro branco”, o algodão desempenha um papel essencial na economia de Moçambique, sendo uma das culturas mais valiosas para o país. Envolvendo cerca de 150 mil produtores e contribuindo para a geração de empregos e divisas, o sector algodoeiro é vital tanto para as comunidades rurais quanto para a economia nacional. No entanto, a volatilidade dos preços internacionais, as condições climáticas adversas e a concorrência global colocam em risco a sustentabilidade deste sector, que o governo e a Associação Algodoeira de Moçambique (AAM) estão determinados a revitalizar.

Produção e apoio ao produtor: A campanha recente

A campanha algodoeira de 2023/2024 foi marcada por dificuldades, especialmente devido à queda dos preços internacionais e às condições climáticas desfavoráveis. Para compensar essas adversidades, o governo fixou um preço mínimo de 30 meticais por quilograma, adicionando um subsídio de cinco meticais por quilograma, uma medida que beneficia aproximadamente 600 mil agricultores. O Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, declarou: “O subsídio de cinco meticais por quilograma foi criado para proteger a renda dos produtores, garantindo-lhes estabilidade para enfrentar um mercado internacional instável.”

Francisco Ferreira dos Santos, Presidente da AAM, também destacou a importância deste apoio. “Este subsídio tem um impacto significativo nas vidas dos nossos produtores. Num mercado tão volátil, assegurar uma renda estável é fundamental para que os agricultores possam continuar a cultivar o algodão,” afirmou. Segundo ele, essa intervenção demonstra o compromisso do Governo com o sector e é uma resposta necessária para manter a competitividade de Moçambique no mercado internacional.

Qualidade e Inovação: Preparando-se para o Futuro

Para enfrentar a concorrência global, o sector algodoeiro moçambicano necessita de investimentos em qualidade e inovação. A AAM tem reiterado a importância de melhorar a qualidade das sementes e de adoptar variedades geneticamente melhoradas e mais resistentes. “Para competirmos no mercado internacional, não basta apenas aumentar a produção; é essencial apostar na qualidade,” explicou Ferreira dos Santos. “Estamos a trabalhar para introduzir o algodão orgânico, um nicho que oferece preços mais elevados e responde à crescente demanda por produtos sustentáveis.”

Francisco Ferreira dos Santos, Presidente da AAM

Além disso, o Instituto do Algodão e Oleaginosas de Moçambique (IAOM) lançou um concurso público para atrair investidores privados, focando-se nas províncias de Cabo Delgado, Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Inhambane e Gaza. A iniciativa visa fomentar o cultivo do algodão e criar condições para que o país se destaque como um produtor de algodão de qualidade. “Estamos confiantes de que o envolvimento do sector privado contribuirá para um aumento de produtividade e para a modernização das práticas agrícolas,” afirmou o Ministro Correia.

Desafios climáticos e estratégias de sustentabilidade

A irregularidade das chuvas e os períodos de seca têm sido um obstáculo constante para o sector algodoeiro. Especialmente em regiões como Cabo Delgado, os produtores enfrentam não só desafios climáticos, mas também problemas de segurança, que muitas vezes resultam no abandono das áreas de cultivo. A este respeito, as autoridades agrícolas recomendam práticas agrícolas sustentáveis que ajudem a conservar o solo e a água. Programas de capacitação para os agricultores, que incluem técnicas de conservação e rotação de culturas, têm sido promovidos pelo IAOM para melhorar a resiliência das colheitas.

Perspectivas de mercado e expansão das exportações

No mercado internacional, o “ouro branco” moçambicano enfrenta a volatilidade, mas também oportunidades de crescimento. A diversificação de mercados, incluindo a exploração do algodão orgânico, é vista como uma estratégia-chave para aumentar o valor das exportações. “Queremos que o algodão moçambicano seja reconhecido pela sua qualidade. Para isso, é essencial investir em mercados onde a sustentabilidade e a qualidade são valorizadas,” sublinhou Ferreira dos Santos. A expansão dos mercados, juntamente com o fortalecimento da indústria têxtil local, pode representar um grande avanço para o sector, reduzindo a dependência das exportações de matéria-prima e gerando mais emprego e valor agregado no país.

Um sector em transformação e com enorme potencial

O sector algodoeiro moçambicano está num momento de transformação. As acções do Governo, as medidas de apoio ao agricultor e o empenho da AAM indicam uma tentativa coordenada de fortalecer o sector e enfrentar os desafios existentes. Moçambique está a investir em qualidade e inovação, apostando em estratégias que podem tornar o algodão num produto ainda mais competitivo e valorizado no mercado global.

“Este é um momento importante para o algodão em Moçambique,” concluiu Ferreira dos Santos. “Com um compromisso claro de todos os envolvidos – Governo, agricultores e investidores – acreditamos que é possível transformar o sector algodoeiro numa fonte sustentável de crescimento económico e desenvolvimento social.”

As expectativas são de que, com o apoio contínuo e as melhorias previstas, o algodão moçambicano, o precioso “ouro branco”, possa não só sobreviver às adversidades do mercado, mas também prosperar e consolidar-se como um pilar da economia nacional.

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