Armadores querem da Indústria Pesqueira fora do PAC, porque já segue regras específicas do sector

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“Para nós, como sector privado, pesqueiro, achamos que não faz sentido. Primeiro, nós já temos um tratamento de conformidade, que é através do Instituto Nacional de Inspecção do Pescado (INIP) e que logo à priori o produto final está fora desta análise. O que nos apoquenta tem a ver com o processo porque um barco de pesca é uma fábrica que usa centenas e centenas de itens para que ela esteja a funcionar. Para ter uma ideia, por exemplo, um barco de pesca, quando ligam os seus motores fica de 7 a 10 meses a funcionar sem que se desligue. Então nós temos feito importações constantes em função do desempenho da própria pescaria”. Disse o Presidente da Associação dos Armadores de Pesca e Camarão, Muzila Nhatsave

Muzila Nhatsave, diz que como parte da Confederação das Associações Económicas (CTA) a agremiação não está contra o PAC, no que diz respeito à defesa e protecção do consumidor. No entanto, no entendimento dos armadores, tendo em conta a complexidade do sector, os processos da indústria pesqueira não devia ser abrangidos pelo PAC. Explica porquê:

“Porque nós estamos a importar para o nosso próprio consumo e não há aqui ninguém por incúria que vai pôr em risco maquinarias ou embarcações que custam milhões de dólares e vai lá pôr peças falsas ou qualquer coisinha assim. Por exemplo, a pescaria do camarão, nós estamos com um fundo de sete meses para trabalhar e temos que fazer uma pescaria olímpica, tem que pôr o barco altamente funcional durante os sete meses que tem direito a pescar”.

 A medida vai aumentar custos e condicionar as operações pelo tempo de espera para passar na indústria pesqueira, diz Nhatsave.

Presidente da Associação dos Armadores de Pesca e Camarão, Muzila Nhatsave

“No mínimo um barco parado custa por dia cerca de US$ 5 mil, sem contar com a alimentação e estar a gastar combustível, porque o barco mesmo parado gasta combustível com os motores auxiliares. Só para ter uma noção, um barco de pesca por dia gasta cerca de três toneladas de combustível, cerca de 3 mil litros por dia. Então é preciso ter consciência e noção sobre os problemas operacionais que isto vai criar”.

Muzila Nhatsave defende que é preciso perceber e conhecer as diferentes áreas da economia, como cada uma funciona, as suas sensibilidades e a sustentabilidade, de contrário, sublinha, “vai se sacrificar a todos e o próprio Estado vai ficar sem receitas porque as empresas vão ter que fechar. Se não vale a pena produzir, não vale a pena estar na indústria. O foco tem de ser o produto final. Deixem o processo de lado, salvo tratar-se matérias-primas altamente sensíveis”.

Já há foco de as empresas do ramo pesqueiro estarem a enfrentar dificuldades com as importações.  

“Alguns dos importadores dos nossos materiais já estão a ter problemas no sentido de que a Intertek lá fora está a exigir-lhes que façam a tal conformidade sem que haja, por exemplo, uma ordem de serviço. Isto para estar eficaz a alfândega tem que mandar uma ordem de serviço. Não foi, não tem sido feito isto. As importações têm que vir aqui normalmente, mas infelizmente o que está sendo espalhado lá fora está pouco receoso. Nossos fornecedores não se querem comprometer com os custos relativamente aos envios, porque estão a receber essa informação”. 

Face ao problema e incertezas criados pelo PAC, os armadores sugerem que se deixe a indústria pesqueira “fora do jogo”.

“O que nós sugerimos é que deixem este sector fora disso, para já é um sector que tem um processo, tem programas de conformidade próprios. Nós operamos embarcações e as todas as embarcações anualmente têm que lhes ser passado um certificado de navegabilidade, onde é aferido todo o tipo de material que foi usado nas reparações das embarcações. Nós seguimos as directrizes da IMO que é a Organização Internacional Marítima que faz descer as suas regras de competências para o nosso regulador, que é o Instituto Nacional da Marinha –Inamar, que tem todos os instrumentos necessários para aferir isso. Porque um barco certificado em Moçambique, de acordo com o Inamar, pode navegar em qualquer parte do mundo porque segue os requisitos e obrigações internacionalmente aceites para fazer um paralelismo do mesmo jeito que a Associação Internacional de Transporte Aéreo IATA, a aviação tem as suas regras e obrigações, no lado do mar é a mesma coisa”.

Se a situação permanecer como está, segundo Nhatsave, a produção pesqueira fica sem competitividade, sem capacidade de concorrer com todo e qualquer produto pesqueiro vindo de outras praças.

“O nosso valor lá fora é o nome que o produto moçambicano tem e pela diferenciação da qualidade que tentamos manter ainda num nicho de mercado específico nos mercados onde a gente está. Agora com estes assuntos todos é corroer por completo o pouco que a gente ainda consegue pôr lá fora”

Outra solução proposta por Muzila Nhatsave é que se tenha uma visão holística dos problemas e conhecer principalmente as diferenças e as particularidades de cada sector, à medida que se estabelece também a clareza sobre o que se pretende com as regras. E, segundo Nhatsave, a filosofia patente no decreto deve ser para garantir que o produto final consumido pela população esteja de acordo com os padrões de qualidade e de segurança e não encarecer os processos de produção.

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