Coral Norte: A Decisão de Investimento da Eni e o Novo Horizonte da Economia Moçambicana

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Questões-Chave

  • O investimento de 7,2 mil milhões de dólares da Eni no Coral Norte projeta Moçambique como protagonista no mercado global de GNL;
  • O Estado prevê arrecadar 23 mil milhões de dólares em receitas ao longo de 30 anos, reforçando a base fiscal;
  • O projeto prevê 1.400 empregos para moçambicanos e integra um plano de sucessão e capacitação de mão-de-obra local;
  • A disponibilização de 25% do gás ao mercado interno abre caminho para a industrialização e diversificação da economia;
  • A decisão insere-se na estratégia nacional de economia azul, industrialização e reforma fiscal.

A assinatura da Decisão Final de Investimento (FID) do Coral Norte pela Eni, em Maputo, marca um dos momentos mais decisivos para a economia moçambicana na última década. Mais do que um megaprojeto energético, trata-se de um marco estratégico, que se cruza com as reformas estruturais em curso, o esforço de industrialização e a necessidade de consolidar a soberania económica do país.

Moçambique tem, nos últimos anos, enfrentado os desafios de consolidar a sua economia entre restrições fiscais, volatilidade cambial e dependência externa. Neste quadro, o Coral Norte surge como uma âncora de confiança internacional, ao confirmar que o país continua a oferecer condições para investimentos de grande escala em sectores estratégicos.

O impacto esperado é expressivo: 23 mil milhões de dólares em receitas públicas ao longo de 30 anos, recursos que poderão reforçar o espaço fiscal e permitir ao Governo expandir investimentos em infraestruturas, educação e saúde. Contudo, o verdadeiro potencial do Coral Norte não reside apenas no fluxo de receitas, mas sim na forma como poderá servir de alavanca para a industrialização.

O compromisso de destinar 25% do gás ao mercado interno cria uma oportunidade sem precedentes para desenvolver cadeias de valor locais — desde a produção de energia mais barata e estável até à instalação de indústrias transformadoras que dependem de gás natural como insumo. Essa medida enquadra-se no esforço governamental de estimular a diversificação económica e reduzir a dependência de matérias-primas brutas para exportação.

A geração de 1.400 empregos directos para moçambicanos é outro elemento crítico, sobretudo por estar vinculada a um plano de sucessão que reforça a capacitação técnica nacional. Trata-se de um contributo directo para o conteúdo local, uma das prioridades inscritas nas reformas mais recentes do sector extractivo.

No plano internacional, o Coral Norte reafirma Moçambique como um player relevante no mercado global de GNL, num momento em que a transição energética obriga países e empresas a diversificar fontes de energia. Para a Eni e os seus parceiros (ExxonMobil e CNPC), este é também um passo que reforça a confiança nas reservas moçambicanas, consideradas pela Deloitte como capazes de gerar até 100 mil milhões de dólares em receitas potenciais no longo prazo.

O desafio central será garantir que as receitas provenientes deste megaprojeto não sejam absorvidas apenas pelo equilíbrio fiscal, mas transformadas em investimento produtivo, infraestruturas estruturantes e inclusão socioeconómica. Nesse sentido, a governação e a gestão transparente das receitas de gás serão determinantes para que o Coral Norte seja não apenas um projeto de exportação, mas uma plataforma de transformação económica.

Moçambique entra, assim, numa nova fase: com o Coral Norte, o país não apenas reafirma o seu papel no mapa global da energia, mas também abre caminho para redefinir o seu modelo de desenvolvimento, tornando o gás natural um motor para a industrialização, a diversificação económica e a soberania nacional.

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