Criptomoedas Recuam Para o Fim de Ano Com Volatilidade Elevada e Correlação Recorde Com os Mercados de Acções

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Bitcoin aproxima-se de terminar 2025 em queda pela primeira vez desde 2022, após um ano marcado por máximos históricos, liquidações massivas e um vínculo crescente às oscilações das bolsas e às tensões políticas dos EUA.

Questões-Chave:
  • Bitcoin pode terminar 2025 com o primeiro recuo anual desde 2022;
  • Correlação entre criptos e bolsas reforça-se, sobretudo com acções ligadas à inteligência artificial;
  • Maior liquidação da história do mercado cripto ocorreu após novos anúncios tarifários do Presidente Trump;
  • Probabilidades de queda abaixo dos 80 mil USD diminuíram, mas persistem riscos de “inverno cripto”;
  • Analistas avisam que a política monetária e a volatilidade das “AI stocks” ditarão o rumo das criptomoedas em 2026.

O mercado das criptomoedas caminha para fechar 2025 sob forte instabilidade, com o bitcoin a aproximar-se de um raro desempenho anual negativo num ano que registou máximos históricos, quedas abruptas e a maior liquidação de posições alavancadas de sempre. O comportamento do principal criptoactivo tornou-se mais dependente do sentimento das bolsas globais, sobretudo num contexto de volatilidade das acções ligadas à inteligência artificial e de decisões políticas nos Estados Unidos. 

Um Ano de Picos Históricos e Quedas Brutais Para o Bitcoin

O bitcoin entrou em 2025 com forte impulso, sobretudo após a eleição do Presidente norte-americano Donald Trump, amplamente visto como favorável ao sector cripto. Esse entusiasmo levou a fortes entradas de investidores de retalho e institucionais, culminando num novo máximo histórico acima dos 126 mil dólares em Outubro.

Mas o ciclo de euforia durou pouco. Dias depois do máximo, os mercados foram sacudidos por um novo pacote de tarifas sobre importações chinesas anunciado por Trump, acompanhado de ameaças de controlo às exportações de software estratégico. O impacto foi imediato: mais de 19 mil milhões de dólares em posições alavancadas foram liquidadas, numa queda súbita que constituiu a maior limpeza de posições da história do mercado cripto. 

Desde então, o bitcoin tem demonstrado dificuldade em recuperar o dinamismo de princípio de ano e, já em Dezembro, negociava em torno dos 89 mil dólares, pressionado por incertezas macroeconómicas e pelo nervosismo crescente nos mercados accionistas.

Correlação Entre Cripto e Bolsas Atinge Novo Patamar

O relatório evidencia uma mudança estrutural no comportamento do bitcoin: a sua valorização passou a acompanhar de forma mais intensa as oscilações das bolsas, sobretudo dos índices tecnológicos.

Para analistas citados no texto, a crescente participação de investidores institucionais e de retalho tradicionais no mercado cripto reduziu a distinção entre criptoactivos e outros activos de risco.
Segundo Jasper De Maere, estratega da Wintermute, “o cripto está a reagir cada vez mais ao que acontece nas bolsas, e esse tem sido o tema dominante de 2025”

A volatilidade em torno das acções de inteligência artificial desempenhou papel crucial. A combinação de avaliações elevadas, receios de bolha tecnológica e flutuações associadas à política comercial norte-americana intensificou a sensibilidade das criptomoedas às ondas de pessimismo ou optimismo no mercado de acções.

Trump, Tarifas e a Psicologia dos Mercados Cripto

Os dois episódios de queda mais violenta do bitcoin em 2025 — em Abril e Outubro — coincidiram exactamente com anúncios tarifários feitos pela Administração Trump.

Em Abril, o anúncio de tarifas iniciais provocou quedas simultâneas em acções tecnológicas e criptomoedas.
Em Outubro, o anúncio de tarifas adicionais sobre produtos chineses e potenciais restrições à exportação de software desencadeou a já referida liquidação de 19 mil milhões USD, deteriorando significativamente a confiança dos investidores.

Estes episódios demonstram que, ao contrário da tese histórica de descorrelação, o bitcoin tornou-se cada vez mais sensível à política económica norte-americana, incluindo tarifas, expectativas de política monetária e volatilidade geopolítica. 

Probabilidades de Queda Persistem, Mas “Inverno Cripto” Não É Consensual

Apesar do clima de incerteza, a probabilidade atribuída pelos mercados a um encerramento do ano abaixo de 80 mil dólares desceu de 20% para 15%, sugerindo algum alívio no pessimismo.

Ainda assim, vários agentes de mercado alertam para riscos contínuos.
A Strategy, liderada por Michael Saylor e conhecida por ser a maior acumuladora corporativa de bitcoin, chegou a projectar que o activo atingiria 150 mil USD ainda este ano.
Contudo, a própria empresa adoptou um tom mais cauteloso: o CEO Phong Le afirmou recentemente que é possível um “inverno cripto”, apesar de Saylor continuar a defender que a sua empresa sobreviveria até a uma queda de 95% no preço do bitcoin. 

Expectativas Sobre a Política Monetária Moldarão 2026

Os próximos meses serão cruciais para determinar o rumo dos criptoactivos.
As expectativas de cortes limitados nas taxas de juro da Reserva Federal, juntamente com a possível desaceleração nas acções de inteligência artificial, deverão continuar a influenciar de forma directa o comportamento do bitcoin.

Muitos analistas acreditam que, em 2026, a correlação entre cripto e acções poderá intensificar-se ainda mais, especialmente se a incerteza sobre a política tarifária norte-americana persistir e se a volatilidade dos mercados de tecnologia continuar elevada.

Um Mercado Cada Vez Mais “Tradicional”

Efectivamente, o panorama de 2025 deixa claro que o mercado das criptomoedas está cada vez mais integrado no ecossistema financeiro global, perdendo parte da sua natureza alternativa e tornando-se vulnerável às mesmas forças que afectam acções, obrigações e outros activos de risco.

Com a correlação crescente, a influência da política norte-americana e a sensibilidade às avaliações tecnológicas, 2026 poderá testar de forma decisiva a resiliência do sector cripto e o apetite dos investidores institucionais que, em grande medida, têm definido os movimentos do mercado nos últimos dois anos.

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