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Economia informal em Moçambique: 90% das empresas fora da formalidade, apenas 11% cumprem regras fiscais e os benefícios da formalização são limitados para MPME

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A economia moçambicana é marcada por uma forte predominância da informalidade, com 90% das empresas a operar fora do sistema formal e empregando 80% da força de trabalho. Apesar dos esforços governamentais para promover a formalização, os resultados de um estudo recente indicam que os benefícios para as empresas são limitados e que as políticas públicas precisam de ser repensadas.

O relatório, conduzido no âmbito do programa “Crescimento Inclusivo em Moçambique”, sublinha que apenas 11% das micro, pequenas e médias empresas (MPME) do sector manufactureiro cumprem integralmente os requisitos fiscais e laborais. Cerca de metade destas empresas não possui qualquer registo oficial, enquanto outras operam com registos municipais sem cobertura fiscal nacional.

Os custos da formalização

Embora se defenda que a formalização abre portas ao crédito, aos mercados e à protecção legal, os dados mostram que os benefícios não são uniformes. Para as microempresas, que empregam até quatro trabalhadores, o impacto da formalização é quase inexistente. Estas empresas continuam sem acesso facilitado ao crédito ou a novos clientes.

Pequenas e médias empresas (PME) com mais de quatro trabalhadores registam melhorias modestas, como um aumento de 9% no acesso ao crédito e de 13% na base de clientes após a formalização. Contudo, especialistas alertam que estes benefícios não são causados exclusivamente pela formalização, mas sim por factores estruturais, como redes de contacto e gestão financeira.

“O registo formal não resolve os problemas estruturais das MPME. Sem apoio adicional, a formalização é pouco eficaz para impulsionar o crescimento empresarial,” explica um analista do programa.

Desafios institucionais

A fraca adesão das empresas ao sistema formal deve-se, em parte, a limitações nos serviços públicos. Balcões Únicos (BAÚ), a Autoridade Tributária e o Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME) enfrentam desafios na prestação de serviços eficientes e acessíveis. Muitos empresários apontam a burocracia e os elevados custos de registo como factores desmotivadores.

Além disso, o impacto fiscal da formalização é limitado. Com 63% das MPME isentas de impostos e apenas 9% pagando o regime fiscal normal, as receitas fiscais geradas pelo registo de empresas informais são marginais. “O custo da formalização, tanto para as empresas quanto para o Governo, muitas vezes supera os benefícios,” afirma o relatório.

Caminhos para o futuro

O estudo recomenda uma abordagem mais inclusiva e adaptada às necessidades das empresas informais. Entre as sugestões destacam-se:

  1. Pacotes de apoio personalizados:
    • Combinar acesso ao crédito com programas de formação empresarial que incluam competências práticas, como literacia financeira.
  2. Melhoria dos serviços públicos:
    • Reforçar a eficiência dos BAÚ, digitalizar processos e simplificar os requisitos de registo.
  3. Incentivos fiscais e regulatórios:
    • Alinhar as exigências fiscais com a capacidade económica das empresas, criando incentivos para a transição para a formalidade.
  4. Parcerias empresariais:
    • Promover a integração entre empresas formais e informais, fomentando oportunidades de negócio e inovação.

A formalização das empresas em Moçambique é um objectivo importante, mas os resultados mostram que a transição para o sistema formal não pode ser tratada como uma solução única. Políticas públicas mais flexíveis e centradas nas necessidades das micro e pequenas empresas são essenciais para transformar a economia informal numa plataforma de crescimento sustentável.

Enquanto isso, os decisores políticos enfrentam o desafio de equilibrar a urgência da formalização com a criação de um ambiente de negócios mais acessível e competitivo, capaz de beneficiar empresas de todas as dimensões. O sucesso dependerá da capacidade de implementar reformas que alinhem a formalização com um apoio abrangente às MPME, fortalecendo o papel destas na economia moçambicana.

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