Eduardo Neves: “Actualidade Económica de Moçambique”, não traz nada de novo, reflecte uma tendência global

0
1598

Entrevistado pelo O.Económico, na sequência do mais recente pronunciamento do Grupo Banco Mundial, no qual recomenda que Moçambique deve proceder a inflexão do paradigma de orientação económica, priorizando o sector de serviços, o economista Eduardo Neves, considerou que “a recomendação procede, porém não trás nada de novo, pois é uma questão teórica, mas também é uma questão empírica”.

Referindo-se, especificamente a questão teórica, Eduardo Neves disse que, uma economia que pretende crescer deve apostar, ou investir em sectores mais produtivos, citando dados históricos desde a altura da revolução industrial, que revelam que as economias que mais avançam tendem a ser são aquelas que se encontram atreladas ao sector de serviços.

O economista, recordou que em tempos passados, a agricultura era o sector base, e ocupava um espaço muito grande, portanto, acima de 50%.

 “Só para dar alguns dados do que estou a dizer, em termos médios a agricultura passou de 50%, para actuais 4% da mão-de-obra ocupada, ou seja, a força de trabalho ocupada pela agricultura ao nível global actualmente é em média de cerca de 4%, e o sector secundário, a manufactura, que foi o sector globalmente dominante em tempos, actualmente anda em volta de 30 a 40%.”

“Porém com o processo da industrialização, transformação, cadeia de valor nos processos produtivos, o sector de serviços passou a encenar o papel de principal actor nas economias, ou seja, ocupou o plano principal”, enfatizou Eduardo Neves.

Eduardo Neves, realçou que o sector de serviços actualmente tem maior peso em termos de contribuição para o PIB de forma global, porque é o sector o mais produtivo.

“Só para termos uma ideia do que estou a dizer, “ o que 100 trabalhadores fazem na agricultura, pode ser feito por uma pessoa que está no sector de serviços, em termos de contribuição para economia”. Explicou.

É por isso que o economista e docente universitário, afirma que o relatório da actualidade económica do Banco Mundial não traz nada de novo, pois o seu conteúdo reflecte uma tendência global.

Eduardo Neves observa que nesta fase em que o mundo tende a migrar para a IV revolução industrial, em que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) passarão a ser elemento chave nas economias, proporcionarão muita eficiência nas diversas fases produtivas das economias, pois há muita coisa que será feita de forma remota, vai fazer com que a maior parte dos serviços sejam ainda mais produtivos, pois a inteligência proporcionada pelas inovações neste sector irão permitir que apenas um trabalhador, de forma remota possa executar múltiplas tarefas, e igualmente de forma remota possa estar presente em vários quadrantes do mundo.

Nessa perspectiva, o economista concorda que, se Moçambique quer efectivamente se inserir neste “comboio”, deve criar meios para melhorar este sector, de modo a capitalizar os benefícios derivados do sector de serviços, ciente de que Moçambique ainda está desenquadrado em relação a tendência global, pois ao nível global os serviços ocupam em média 74% da força de trabalho.

Todavia, Eduardo Neves frisou que a sugerida mudança de paradigma (da agricultura para os serviços) é complexa, porque boa parte da população moçambicana é rural, “e não temos alternativas imediatas que possam tirar este grosso da força de trabalho da agricultura, para os sectores mais produtivos”.

“Contudo, essa é que deve ser a aposta, o País deve libertar cada vez mais maior número possível da força de trabalho do sector agrícola para o sector de serviços, pois não constitui novidade a ninguém que a agricultura em Moçambique é de baixa produtividade. Afirmou Eduardo Neves.

“Por outro lado, o país conta também com uma localização geográfica privilegiada para exploração de serviços como transporte, que pode constituir um vector para impulsionar o crescimento da economia, ou ainda, um enorme potencial no sector do turismo que pode servir de força motriz para alavancar esta economia, pois temos uma vasta costa, recursos florestais e faunísticos extraordinários”, disse o economista.

“Com isso não quero dizer que a agroindustrialização tem que ser regalada ao segundo plano, não quero com isso dizer que devemos negligenciar o sector da agricultura”. Concluiu.

SUBSCREVA O.ECONÓMICO REPORT
Aceito que a minha informação pessoal seja transferida para MailChimp ( mais informação )
Subscreva O.Económico Report e fique a par do essencial e relevante sobre a dinâmica da economia e das empresas em Moçambique
Não gostamos de spam. O seu endereço de correio electrónico não será vendido ou partilhado com mais ninguém.