N1 à Espera de Solução Integral: Governo Avança com Intervenções em Troços Críticos Enquanto Busca Financiamento Total

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Questões-Chave:

  • Reabilitação integral da Estrada Nacional n.º 1 (N1) exige 3,5 mil milhões USD; apenas 1,1 mil milhões estão actualmente assegurados;
  • Cerca de 508 quilómetros serão reabilitados na primeira fase, com financiamento confirmado de 400 milhões USD;
  • Intervenções de emergência já realizadas em troços críticos como Chissibuca–Lindela, Pambara–Rio Save e Rio Lúrio–Metoro;
  • Concursos lançados para a execução de projectos nos troços Gorongosa–Caia, Inchope–Gorongosa, Chimuara–Nicoadala e Metoro–Pemba;
  • Governo reconhece degradação “incompatível” e promete plano estratégico de 5 anos para garantir transitabilidade mínima.

O Governo moçambicano admite que a reabilitação da Estrada Nacional Número Um (N1) enfrenta entraves financeiros sérios e só poderá ser concretizada gradualmente, mediante mobilização faseada de fundos e priorização de troços mais críticos. Enquanto o financiamento integral continua por assegurar, as autoridades avançam com obras de manutenção de emergência e reabilitação faseada, numa tentativa de evitar o colapso de uma infra-estrutura essencial para a coesão económica e territorial do país.

A N1, com 2.620 quilómetros de extensão, atravessa o país do Sul ao Norte, ligando Maputo a Pemba e servindo como espinha dorsal da mobilidade nacional. A sua importância logística é inquestionável, tanto para o transporte de bens e serviços como para a circulação de pessoas em todo o território nacional. No entanto, o seu estado actual de degradação já compromete níveis mínimos de transitabilidade.

Na sua intervenção à Assembleia da República, o ministro João Matlombe reconheceu que a reabilitação total exige 3,5 mil milhões de dólares norte-americanos, dos quais apenas 1,1 mil milhões estão até agora garantidos — com cerca de 800 milhões USD mobilizados junto de parceiros de cooperação e 300 milhões em processo de angariação.

O plano governamental para lidar com esta situação prevê intervenções de curto, médio e longo prazo:

  • Curto prazo: manutenção de emergência em troços críticos já executada em segmentos como Chissibuca–Lindela, Pambara–Rio Save e Inchope–Caia–Nicoadala;
  • Médio prazo: concursos lançados para Gorongosa–Caia (84 km) e projectos conceptuais em desenvolvimento para Inchope–Gorongosa (70 km), Chimuara–Nicoadala (176 km) e Metoro–Pemba (94 km);
  • Longo prazo: intervenções estruturais a toda a extensão da N1.

“A degradação da N1 atingiu níveis incompatíveis com a segurança rodoviária e o desenvolvimento logístico. O Governo compromete-se com um plano estratégico de cinco anos para assegurar, pelo menos, a transitabilidade mínima”, afirmou o ministro.

Ministro dos Transportes e Logística, João Matlombe

Impacto das Calamidades Naturais e da Fragilidade Orçamental

O Ministério dos Transportes e Logística assinala que eventos climáticos extremos têm tido impacto directo nos activos rodoviários, com destaque para os ciclones Idai, Kenneth, Judy e outras depressões tropicais. Entre 2012 e 2025, os custos de reposição da rede viária devido a desastres naturais ultrapassaram os 650 milhões USD.

Paralelamente, manifestações violentas e a redução da receita nas portagens — resultado da suspensão temporária do princípio utilizador/pagador — agravaram o défice de financiamento para estradas. O valor dos activos rodoviários passou de 10,4 mil milhões USD em 2017 para 8,2 mil milhões USD em 2024, reflectindo um declínio na capacidade de conservação e investimento.

Uma Estratégia a Ser Testada

A estratégia do Governo assenta na reabilitação progressiva, alavancada por financiamentos faseados. Na primeira fase, serão reabilitados 508 km da N1, utilizando 400 milhões USD já disponibilizados por parceiros. A ambição é clara, mas a execução dependerá de factores externos e internos — desde a estabilidade financeira à capacidade de mobilização do sector privado.

Adicionalmente, está em curso um projecto executivo para reabilitação dos troços Benfica–Zimpeto e 3 de Fevereiro–Incoluane em Maputo, num total de 24 km, com financiamento de 50 milhões USD.

“Estamos a priorizar troços críticos. A solução integral depende de factores orçamentais e da resposta dos nossos parceiros”, declarou João Matlombe.

A reabilitação da N1 é um teste à capacidade do Estado moçambicano de planear, negociar e executar projectos de infraestrutura de forma estratégica. O desafio é garantir que as intervenções pontuais actuais não se tornem permanentes, perpetuando o ciclo de degradação. Com um financiamento ainda incompleto, uma rede viária vulnerável e uma economia que depende da logística rodoviária, Moçambique joga nas estradas parte da sua recuperação económica e da sua coesão territorial.

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