Moçambique possui um dos litorais mais longos da África Austral, com cerca de 2.800 quilómetros de costa. Apesar do potencial pesqueiro e da riqueza das suas espécies, o sector enfrenta uma crise estrutural que compromete a sustentabilidade económica e ambiental. Em entrevista ao O.Económico, Muzila Nhatsave, Presidente da Associcao Moçambicana dos Armadores de Pesca Industrial e Camarão (AMAPIC), traça um diagnóstico preocupante e sugere soluções que requerem acção imediata e coordenada.

Para Nhatsave, o declínio dos recursos pesqueiros está profundamente ligado a práticas predatórias e ao impacto das mudanças climáticas. Espécies valiosas como o camarão, bandeira do sector pesqueiro moçambicano, sofrem com a sobre-exploração, resultando na redução drástica da produção industrial de 9.200 toneladas anuais em 2000 para menos de 3.000 toneladas em 2024. Este fenómeno, segundo o líder da AMAPIC, não é exclusivo de Moçambique, mas reflecte a pressão global sobre os recursos renováveis.

Pesca ilegal e sustentabilidade
A pesca ilegal e o uso de artes nocivas, como redes que capturam indiscriminadamente tudo que encontram, ameaçam a regeneração dos recursos. Nhatsave menciona que a falta de fiscalização adequada perpetua estas práticas, especialmente nas zonas costeiras mais vulneráveis. “Sem controlo rigoroso, estamos a comprometer não apenas a biodiversidade, mas a sobrevivência das comunidades que dependem da pesca”, alerta.

Muzila Nhatsave, Presidente da Associcao Moçambicana dos Armadores de Pesca Industrial e Camarão (AMAPIC)

Medidas para a recuperação
A criação de santuários de pesca e a redução do esforço pesqueiro, tanto industrial como artesanal, são propostas centrais de Nhatsave. Estas medidas, embora exigentes, podem garantir a regeneração dos ecossistemas marinhos. Ele destaca ainda a necessidade de um sacrifício conjunto entre os operadores e o Governo: “Temos de entender que as perdas actuais são um investimento na sobrevivência futura do sector.”

Mudanças climáticas e adaptação
As alterações climáticas impõem novos desafios à gestão dos recursos pesqueiros. Nhatsave enfatiza que os períodos de veda e defesa devem ser ajustados às condições climáticas e biológicas regionais. Ele cita o exemplo do camarão, cuja reprodução está directamente ligada às temperaturas. “Políticas baseadas em dados científicos são indispensáveis para uma gestão eficaz dos recursos”, defende.

O sector pesqueiro moçambicano está num ponto de inflexão. As palavras de Nhatsave representam um apelo urgente por medidas estruturais que possam salvar uma das actividades económicas mais emblemáticas do país. Contudo, sem uma abordagem integrada, o sector corre o risco de desaparecer, deixando um vazio económico e social difícil de preencher.

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