Tensões Económicas Globais e Receios de Sobreoferta Acentuam Queda do Brent e do WTI

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Questões-Chave:
  • A cotação do Brent caiu para níveis mínimos desde Março, pressionada pelo aumento inesperado dos inventários nos EUA;
  • O WTI acumulou perdas superiores a 3,4% na última semana, influenciado pela redução do consumo industrial norte-americano;
  • A economia chinesa voltou a revelar fraqueza, com o PMI manufacturero abaixo de 50 pontos pelo terceiro mês consecutivo;
  • As projecções para o início de 2026 dividem analistas entre a continuação da tendência descendente e a possibilidade de cortes adicionais da OPEP+.

Os mercados internacionais de petróleo registaram uma semana de forte volatilidade, com o Brent e o WTI a acumularem perdas significativas, pressionados pelo aumento dos inventários norte-americanos, pelos sinais persistentes de abrandamento económico global e pela incerteza sobre a capacidade da OPEP+ de estabilizar o mercado no início de 2026.

Inventários Norte-Americanos Aumentam Muito Acima das Previsões

A publicação dos dados semanais da Energy Information Administration (EIA) provocou um ajustamento imediato das expectativas do mercado. Os inventários comerciais de crude nos Estados Unidos aumentaram 4,3 milhões de barris na última semana, enquanto o consenso dos analistas antecipava uma variação de apenas 1,2 milhões de barris. Este desvio reforçou a percepção de que a procura interna norte-americana está a perder dinamismo num período que, sazonalmente, tende a ser mais forte devido ao aquecimento e ao transporte de bens de consumo de fim de ano.

A reacção nos mercados foi imediata. O Brent desceu para 77 dólares por barril, aproximando-se de mínimos de nove meses, enquanto o WTI recuou para 72 dólares, reflectindo uma queda semanal acumulada de 3,4%. A diferença entre ambos os preços — o chamado spread Brent-WTI — alargou-se para mais de 5 dólares, um sinal de que a pressão sobre o crude norte-americano é particularmente acentuada.

China Mantém o Mercado Sob Pressão com Sinais de Abrandamento Estrutural

A economia chinesa continua a ser o principal factor de incerteza para a procura global de petróleo. O índice PMI manufacturero oficial voltou a situar-se abaixo da linha de expansão, fixando-se em 49,3 pontos, marcando o terceiro mês consecutivo de contracção industrial. As exportações chinesas cresceram apenas 0,8% em Novembro, muito abaixo dos 2,5% esperados pelos analistas internacionais.

A desaceleração da China tem impacto directo nas expectativas de consumo, dado que o país absorve mais de 16% do crude globalmente comercializado. Os dados de importações de Novembro confirmaram uma retracção de 2,1% face ao mês anterior, sugerindo que o sector industrial e a refinação estão a operar com níveis de utilização inferiores.

Oferta Global Continua Elevada e Limita a Capacidade de Reacção da OPEP+

Apesar das quedas de preço, a produção global mantém-se elevada. Os Estados Unidos voltaram a reportar níveis historicamente altos de produção de petróleo, atingindo 13,3 milhões de barris por dia, reforçando a sua posição como maior produtor mundial. As exportações de petróleo e derivados continuam robustas, ultrapassando 6 milhões de barris por dia, o que contribui para o excesso de oferta nos mercados internacionais.

No seio da OPEP+, aumentam as discussões sobre potenciais cortes adicionais para 2026. Contudo, a eficácia de novas medidas é questionada. A quota de mercado do grupo caiu para 36% da oferta global, afectada pelo rápido crescimento da produção norte-americana, pelo reforço do shale oil e pela entrada de novos projectos offshore em África e América Latina.

Relatórios da Agência Internacional de Energia (AIE) mantêm a perspectiva de que a oferta poderá continuar a exceder a procura no primeiro trimestre de 2026 em cerca de 1,2 milhões de barris por dia, caso não ocorram ajustamentos significativos por parte dos principais produtores.

Mercados Financeiros Intensificam a Volatilidade com Ajustamentos Técnicos

O comportamento dos fundos especulativos contribuiu para amplificar a volatilidade semanal. Segundo a ICE Futures Europe, as posições líquidas compradas em Brent caíram 14% na última semana, sinalizando menor confiança dos investidores na capacidade de recuperação imediata dos preços.

Operações de hedging mais agressivas por parte de refinarias asiáticas, combinadas com ajustamentos técnicos de curto prazo em fundos algorítmicos, provocaram oscilações intradiárias superiores a 2 dólares em determinados pregões, um fenómeno menos comum em períodos de procura estável.

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