Zimbabwe compensará agricultores brancos com apoio do BAD: um passo para a reconciliação e a recuperação económica
O Governo do Zimbabwe confirmou que iniciará a compensação de agricultores brancos cujas terras foram expropriadas durante o controverso programa de reforma agrária de 2000, conduzido pelo então Presidente Robert Mugabe. O pacote de compensação, avaliado em aproximadamente 350 milhões de dólares, será implementado com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e representa um marco nos esforços do país para reconstruir a confiança internacional e revitalizar a economia.
Uma medida promissora, mas complexa
O Ministro das Finanças do Zimbabwe, Mthuli Ncube, explicou que o processo começa com uma dotação inicial de cerca de 37 milhões de dólares, incluída no orçamento deste ano. Este montante será destinado a 439 agricultores, com o restante a ser mobilizado através de instituições financeiras internacionais. “O Governo iniciou o processo trabalhando com o BAD e mobilizou 37 milhões de dólares, enquanto a maior parte do dinheiro será fornecida como um empréstimo concessional ao País”, afirmou o Ministro.
Embora significativo, este montante é inferior aos 370 milhões de dólares anunciados anteriormente, devido à revisão no número de agricultores elegíveis para a compensação. A redução reflecte a necessidade de ajustes administrativos e financeiros numa economia que ainda luta para se recuperar das crises económicas e políticas das últimas décadas.
Repercussões económicas e históricas
A expropriação de terras em 2000 foi um divisor de águas na história recente do Zimbabwe. Aproximadamente 4.000 agricultores brancos perderam terras que haviam sido adquiridas durante o período colonial, num contexto de recessão económica e tensões políticas crescentes. Estas terras, antes responsáveis por uma produção agrícola significativa, incluindo tabaco e flores para exportação, foram redistribuídas, mas a produtividade caiu drasticamente, contribuindo para a prolongada crise económica do país.
Para o Governo actual, liderado pelo Presidente Emmerson Mnangagwa desde 2017, a compensação é vista como um passo crucial para reconstruir a confiança de investidores e credores internacionais. Com uma dívida externa de aproximadamente 13,5 mil milhões de dólares e dificuldades em obter empréstimos de instituições como o Banco Mundial e o FMI, o Zimbabwe precisa demonstrar compromisso com reformas estruturais e reconciliação histórica.
O papel do BAD e os desafios da dívida
O Banco Africano de Desenvolvimento tem desempenhado um papel central como mediador e facilitador deste processo. O Presidente da instituição, Akinwumi Adesina, reafirmou o compromisso do BAD em apoiar o Zimbabué. Desde 2022, Adesina e o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, têm actuado como mediadores entre o país e os seus credores, incluindo o Clube de Paris.
Contudo, o desafio de reestruturar uma dívida total de cerca de 21,7 mil milhões de dólares, que inclui obrigações internas e externas, ainda é significativo. O Zimbabwe continua a enfrentar obstáculos para aceder a novos financiamentos e impulsionar a sua recuperação económica.
Impacto no sector agrícola e na economia
A compensação não responde apenas a uma demanda histórica, mas também procura reanimar o sector agrícola, vital para a economia do Zimbabwe. Antes das expropriações, os agricultores brancos desempenhavam um papel crucial na produção de exportação e no sustento da economia rural. A medida também visa atrair novos investidores, que há muito consideram o ambiente de negócios do Zimbabwe arriscado.
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