
À medida que as preocupações com a dívida mundial aumentam, estará a surgir uma nova crise?
- A mais longo prazo, “as trajectórias da dívida pública representam a maior ameaça para a estabilidade macroeconómica e financeira”, afirmou Claudio Borio, Chefe do Departamento Monetário e Económico do Banco de Pagamentos Internacionais.
Dívidas recorde, taxas de juro elevadas, custos das alterações climáticas, despesas com a saúde e as pensões à medida que as populações envelhecem e políticas fraturantes estão a alimentar os receios de uma crise nos mercados financeiros das grandes economias desenvolvidas.
O aumento dos custos dos empréstimos do Estado colocou a dívida elevada no centro das atenções, com os investidores a exigirem uma maior compensação para manterem obrigações de longo prazo e os decisores políticos a apelarem à prudência nas finanças públicas.
A agência Reuters dá conta de que mais de 80% do aumento de 10 biliões de dólares da dívida global no primeiro semestre, para um recorde de 307 biliões de dólares, veio das economias desenvolvidas, citando dados do Instituto de Finanças Internacionais.
Os Estados Unidos, onde o braço de ferro em torno do limite de endividamento o deixou perto de um incumprimento, a Itália e a Grã-Bretanha são os mais preocupantes, disseram à Reuters mais de 20 economistas proeminentes, antigos responsáveis políticos e grandes investidores.
Não esperam que uma economia desenvolvida tenha dificuldades em pagar a dívida, mas dizem que os governos devem apresentar planos orçamentais credíveis, aumentar os impostos e impulsionar o crescimento para manter as finanças controláveis. As tensões geopolíticas acrescem aos custos.
Um ambiente frágil, com taxas mais elevadas e um apoio cada vez menor do banco central, aumenta o risco de um passo em falso na política económica provocar uma derrocada do mercado, como demonstrado pela crise do “mini-orçamento” britânico de 2022.
Peter Praet, antigo economista-chefe do Banco Central Europeu, afirmou que, embora a dívida ainda pareça sustentável, as perspectivas são preocupantes, dadas as necessidades de despesa a longo prazo.
 
											“Se houver um acidente, ou uma combinação de acontecimentos, entramos num tipo de processo dinâmico não linear adverso. É algo que é uma possibilidade real”.
Sophia Drossos, Economista e Estratega do fundo de investimento Point72 Asset Management, afirma que as elevadas necessidades de financiamento e a retirada do apoio dos bancos centrais estão a aumentar a incerteza dos preços para os investidores.
“O défice e os níveis de endividamento deixam-nos desconfortáveis”, afirmou Daniel Ivascyn, Diretor de Investimentos do gigante das obrigações PIMCO, que está um pouco relutante em possuir obrigações de longo prazo.
Os planos de despesa sem credibilidade foram considerados como os mais susceptíveis de desencadear a agitação do mercado.
A mais longo prazo, “as trajectórias da dívida pública representam a maior ameaça para a estabilidade macroeconómica e financeira”, afirmou Claudio Borio, Chefe do Departamento Monetário e Económico do Banco de Pagamentos Internacionais.
PONTOS DE INFLEXÃO
As disputas orçamentais prejudicaram a credibilidade dos Estados Unidos, custando-lhe uma notação AAA de primeira categoria.
 
											“Como é que isto vai acabar? Suspeito que não por incumprimento, mas quando os mercados começarem a reflectir as suas preocupações nos preços do Tesouro, através de uma crise política e de um ajustamento potencialmente feio”, afirmou o antigo economista-chefe do FMI.
Ray Dalio, do fundo de investimento Bridgewater Associates, prevê uma crise da dívida dos EUA
Um porta-voz do Tesouro dos EUA destacou os recentes comentários da Secretária de Estado de Tesouro, Janet Yellen, sobre o défice orçamental e o aumento das taxas.
Yellen disse ao Wall Street Journal na semana passada que o Governo estava empenhado numa “política fiscal sustentável” e que o orçamento poderia ser ajustado para garantir isso.
A dívida de 2,4 biliões de euros de Itália está no centro das atenções na Europa, onde o FMI afirmou que a dívida elevada torna os governos vulneráveis a crises.
O prémio de risco da dívida italiana aumentou este mês, uma vez que o País reduziu o crescimento e aumentou as previsões do défice orçamental. A Scope Ratings avisou que a Itália poderia não ser elegível para um esquema crucial de compra de obrigações do Banco Central Europeu (BCE).
Um ponto de viragem é a possibilidade de a Itália perder a notação de grau de investimento. A Moody’s classifica-a um nível acima de “lixo”, com uma perspectiva negativa.
Uma nova subida do rácio da dívida de Roma tornaria mais provável uma descida da classificação. Isso arrisca “ramificações significativas” para o sul da Europa, disse Jim Leaviss, da M&G Investments.
O Ministro da Economia, Giancarlo Giorgetti, disse que não temia uma descida da notação da dívida, mas não podia excluí-la.
A Moody’s avalia a Itália em novembro.
O baixo crescimento tem mantido a dívida italiana elevada, o que constitui um risco para toda a Europa e para a Grã-Bretanha, onde os planos de contenção vão deprimir os investimentos públicos.
“Se não tivermos uma perspectiva de crescimento mais brilhante na Europa, então a matemática da sustentabilidade da dívida parece bastante pobre”, disse o Economista-Chefe global de renda fixa da PGIM, Daleep Singh, ex-conselheiro do Presidente dos EUA, Joe Biden.
O Tesouro britânico afirmou estar no bom caminho para reduzir a dívida e fazer crescer a economia através de grandes reformas.
A dívida está próxima ou é superior a 100% do produto na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e em Itália. O envelhecimento da população, as alterações
climáticas e os riscos geopolíticos, como as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, implicam pressões significativas sobre as despesas.
Os pagamentos de juros, que aumentam com as taxas elevadas, contribuem para aumentar a pressão.
Os pagamentos líquidos de juros dos EUA aumentarão de 2,5% para 3,6% do PIB até 2033 e 6,7% até 2053, segundo as estimativas do Gabinete do Orçamento do Congresso. Mas a medida preferida de Yellen, ajustada pela inflação, sugere pagamentos inferiores a 1% do PIB durante o resto desta década.
O Gabinete de Responsabilidade Orçamental do Reino Unido prevê que os custos com juros aumentem para 7,8% das receitas em 2027-28, contra 3,1% em 2020-21, agravados pela dívida indexada à inflação.
Até as despesas com juros da Alemanha aumentaram 10 vezes desde 2021, para quase 40 mil milhões de euros. Uma crise é improvável, mas o planeamento orçamental enfrentará “grandes desafios”, afirmou a Instituição Superior de Auditoria.
AGIR AGORA
É essencial que as despesas, as reformas e os planos de crescimento sejam eficientes.
“Precisamos de mais investimento, não de menos”, disse Jonathan Portes, Professor do King’s College de Londres, economista-chefe do gabinete britânico durante a crise financeira.
A contração de empréstimos é mais difícil de vender a taxas mais elevadas, pelo que os governos precisam de planos credíveis. A UE está a rever as suas regras orçamentais e o Partido Trabalhista britânico, na oposição, promete exigir legalmente que o Office for Budget Responsibility (OBR) reveja os planos fiscais e de despesa.
Embora desagradável, os impostos têm de aumentar, sobretudo nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, e alguns cortes nas despesas são inevitáveis, sublinham os economistas.
Não estão a ser implementadas reformas suficientes, alertou a economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Clare Lombardelli.
Os atrasos prejudicarão a capacidade dos governos para enfrentar futuros choques.
“Se continuarmos a andar como agora, vamos assistir a uma crise na próxima década”, disse o economista-chefe do LBBW, Moritz Kraemer, que supervisionou a descida da classificação da dívida soberana europeia pela S&P em 2011.
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