
Agricultura: COVID-19 abriu uma janela de oportunidades, mas falta de investimentos fechou.
Dados demonstram que a produtividade dos pequenos e médios agricultores em Moçambique estagnou nos últimos anos, enquanto quase todos os investimentos comerciais na produção agrícola falharam. Isso apesar do facto de a agricultura ser constitucionalmente a base do desenvolvimento do país e ter recebido vários bilhões de dólares em assistência de doadores.
Ainda assim, a prática agrícola no país é a aposta de mais de 70% da população moçambicana. A província de Maputo é uma das que a prática agrícola vai se robustecendo, e há cada vez mais acções, quer governamentais quer privadas, que pretendem industrializá-la.
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Moamba, na parte norte da província, é um dos distritos com uma produção cada vez mais crescente, sobretudo no que diz respeito a hortícolas. Neste distrito, alguns agricultores de média dimensão contaram ao Semanário Económico os principais desafios que enfrentam e as estratégias que adoptam para subsistir nas suas actividades
No Posto Administrativo de Sábiè encontra-se o campo agrícola de Fernando Django, de 54 anos, que se instalou no local em 2011, depois de se mudar do regadio de Mafuiane, em Namaacha, onde também detinha áreas agrícolas de se elogiar. Jango é um agricultor inovador e premiado. Em 2019, na cidade da Beira, foi galardoado como Melhor Agricultor Nacional, por ter inventado um sistema de irrigação, sistema esse que permite irrigar dois hectares em apenas dois minutos, contrariamente ao sistema designado gota-a-gota que precisa de 4 horas para a mesma área. A primeira fase deste sistema – que diz respeito a instalação e a cobertura dos primeiros quatro hectares – custou aos bolsos de Jango 750 mil meticais e, quanto mais cresce o espaço o custo também aumenta.
Hoje, Django cultiva feijão-manteiga e pepino, mas quando chegou à zona apenas produzia tomate, numa área de meio hectar. Com uma área arável de 32 hectares, produz também repolho, maçaroca, feijão-manteiga e pepino.
Os grandes constrangimentos que Django sofre tem que ver com a captação da água, a falta de um tractor moderno e falta de financiamento para capitalizar a produção. Aliás, estes são os principais constrangimentos que produtores agrícolas nacionais enfrentam.
De acordo com este agricultor, um milhão e quinhentos meticais seria o valor ideal para incrementar a produção.
Django tem paixão pela área que decidiu abraçar, mas a sua história retrata as dificuldades que os agricultores nacionais, grosso modo, enfrentam para se impor: desde a falta de infraestruturas agrícolas, como a irrigação, as vias de acesso e sistemas de transporte para escoar a produção, equipamentos, falta de insumos e sementes melhoradas.
Nos últimos tempos, às dificuldades anteriormente mencionadas, vem se juntar a problemática das mudanças climáticas, um fenómeno que já está a condicionar a produção e a produtividade agrícola
Margarida Lemos, agricultora há pouco mais de 20 anos, estabelecida na outra margem do Rio Incomáti, fala hoje de dissabores, quando se refere a sua actividade.
Com uma área de cultivo a variar entre os 100 dos 140 hectares, neste momento só 40 hectares estão com culturas, nomeadamente tomate, repolho, pimento, milho e feijão-verde. A sua produção engloba também aquilo que chama de folhosas, ou seja, alface, couve, salsa e coentro. O objectivo desta produção alternativa é o abastecimento local tendo em conta as circunstâncias da COVID-19, m
as acabou atraindo pequenos comerciantes, muitos dos quais viram suas empresas a fecharem em respeito às medidas de prevenção da pandemia.
O jovem Fernando Nhassengo é disso exemplo. Para o efeito, Nhassengo investe por semana 25 mil meticais, deste valor estão contados todos os custos… e assim, viu na pandemia uma oportunidade de negócio.
Django não tem pequenas culturas, por isso se socorre deste camião para abastecer no Mercado Grossista do Zimpeto, o principal sítio de entregas. Na sua área de dois hectares está plantado feijão-manteiga, onde ao fim de três meses pretende colher 15 toneladas, donde espera uma média de um milhão de meticais. São ao todo 70 hectares. O exercício manual, segundo explica, é que limita o uso do espaço total. Mesmo com os dois tractores, o agricultor vê-se impedido de limpar toda a sua área, mas o seu sonho não tem limites. Um deles é fugir das hortícolas dado a competitividade que o distrito apresenta.
Para a sua produção, Django delimita a plantação em fases. Para ele vale mais concentrar-se numa área pequena, mas organizada, do que ter uma superfície ampla, porém defeituosa.
Aliás, a planificação deste agricultor exige uma produção faseada em cada dois hectares. Para si, assim facilita a controle da sua actividade. O mesmo acontece com Margarida, que pelo facto de querer garantir a colheita todos os meses, prefere trabalhar em áreas pequenas.
A produção aumentou significativamente nos últimos anos… Em dois hectares de tomate, por exemplo, Margarida investe meio-milhão de meticais. Trata-se de um valor que cobre a lavoura, as sementes, os adubos, inseticidas, fungicidas e a mão de obra.
Estes são alguns dos constrangimentos que inibem o desenvolvimento da agricultura. Uma das questões que também afecta o maior produtor do país.
A oscilação de preços de distribuição dos produtos no mercado é outro aspecto que frustra os agricultores.
Por exemplo, neste momento de procura 1kg de repolho varia de 15 a 18 meticais, pepino é de 12 a 17 meticais. Eles não têm a certeza do que vai ser com o feijão, mas preveem que o saco de 50kg custe cerca de 3,5 a 4 mil meticais. Já há caixa de tomate de 22kg chega a atingir 30 meticais, mas a média ideal, para o tomate de primeira, os produtores dizem que devia custar 350 a 400 meticais.
O maior sonho de Django é cobrir toda a sua área de produção e dar uma nova rota aos comerciantes que optam pelos produtos da África do Sul.
Verdade é que apesar do considerável potencial agrícola existente, os agricultores locais não conseguem produzir o suficiente para satisfazer as necessidades de consumo a nível interno, criando a necessidade de importar de outros países. Muitos dos produtos importados até possuem uma produção local, mas esta é insuficiente, é o caso do milho, arroz, o tomate e as hortícolas, cujos níveis de importações, em 2018, por exemplo, ascenderam os 41.5, 221.2, 2.6 e 20.4 milhões de dólares, respectivamente.
Para Margarida, a opção pelo produto da África do Sul está na necessidade dos comerciantes optarem pelo baixo preço, esquecendo as condições de cada país. Margarida descarta, de longe, o discurso de que África do Sul tem mais qualidade.
Com o encerramento das fronteiras, os agricultores vêm uma oportunidade, mas chamam atenção para a falta de poder de compra dos moçambicanos devido ao encerramento de muitas empresas.
E os produtores questionam o papel do Governo para a resolução dos seus problemas, onde uma das saídas está no acesso ao crédito a juros bonificados, bem como a criação de um seguro para Agricultura.
Enquanto a solução não chega, todos os dias, estão nas suas machambas, com esperança de quem dias melhores não tardem chegar.
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