
Recuos da Casa Branca não travam insegurança nos mercados internacionais
- Dólar sob pressão e confiança abalada: impacto global das tarifas de Trump reabre debate sobre proteccionismo económico
- Índice do dólar caiu 4,76% em Abril, atingindo o seu nível mais baixo em três anos;
A política tarifária da Administração Trump está a gerar instabilidade nos mercados cambiais e a levantar receios de recessão nos Estados Unidos, enquanto fortalece o euro, o yen e o franco suíço
O dólar norte-americano registou, em Abril de 2025, o seu pior desempenho mensal desde Novembro de 2022, pressionado pelas incertezas em torno das tarifas comerciais impostas pelo Presidente Donald Trump. Apesar de recuos estratégicos e tentativas de compensação fiscal, os mercados continuam apreensivos quanto ao impacto económico destas medidas, que já originaram fuga de capitais, deterioração da confiança dos consumidores e alertas de recessão por parte de economistas.
A administração norte-americana, sob a liderança de Donald Trump, tem adoptado uma postura errática nas suas políticas comerciais, com anúncios e recuos sucessivos sobre tarifas aplicadas a veículos, aço e outros bens importados. Apesar de ter assinado ordens executivas que suavizam parte dos impactos iniciais — através de créditos e isenções —, o dano reputacional e económico parece já estar em curso.
O índice do dólar, que mede o desempenho da moeda face a seis outras divisas principais, caiu 4,76% em Abril, o seu pior registo desde Novembro de 2022. A moeda norte-americana perdeu terreno face ao euro (que subiu 5,26%), ao iene japonês (com valorização superior a 5%) e ao franco suíço (que teve o melhor desempenho em uma década, com subida superior a 7%).
Este movimento de desvalorização do dólar é sintomático de uma mudança de humor nos mercados. O receio de uma recessão, combinado com o aumento da inflação induzida pelas tarifas, está a gerar fuga de capitais e a penalizar activos norte-americanos que, até há pouco tempo, eram considerados portos seguros.
Sinais de fragilidade interna
Internamente, os sinais de tensão acumulam-se. O índice de confiança dos consumidores norte-americanos caiu para o nível mais baixo em cinco anos, segundo dados da Conference Board. No mercado de trabalho, registou-se uma queda acentuada nas ofertas de emprego. Empresas como a UPS anunciaram 20 mil despedimentos, enquanto a General Motors reviu em baixa as suas projecções para o ano.
Apesar destes sinais, a Reserva Federal tem adoptado uma postura cautelosa. Analistas como David Kohl, do Julius Baer, defendem que o banco central norte-americano só deverá actuar quando os impactos na actividade económica se reflectirem claramente no mercado laboral. Espera-se, entretanto, dois cortes agressivos de 50 pontos base nas taxas directoras — um em Julho e outro em Setembro.
Perspectiva global e implicações
O aumento da incerteza nas políticas comerciais norte-americanas reaviva o debate sobre os efeitos do proteccionismo económico. “O pico das tarifas pode já ter passado, mas os danos à confiança, à economia dos EUA e ao sistema global de comércio são reais”, afirmou Kristina Clifton, economista do Commonwealth Bank of Australia.
Os efeitos já se fazem sentir noutras geografias, especialmente em países com fortes vínculos comerciais aos EUA. Importadores e exportadores apressaram-se a ajustar os seus fluxos antes que os novos encargos entrem em vigor, o que deverá contribuir para um travão no crescimento do PIB norte-americano no primeiro trimestre de 2025.
O impacto das tarifas de Trump ultrapassa as fronteiras norte-americanas. Ao enfraquecer o dólar e lançar dúvidas sobre a previsibilidade das decisões da maior economia do mundo, os efeitos fazem-se sentir nos fluxos financeiros globais, nas estratégias das multinacionais e nas perspectivas de recuperação pós-pandemia. À medida que se aproxima a marca dos primeiros 100 dias da presidência de Trump, o mundo volta a questionar a lógica económica do nacionalismo tarifário — e o seu preço real.
Sobre Nós
O Económico assegura a sua eficácia mediante a consolidação de uma marca única e distinta, cujo valor é a sua capacidade de gerar e disseminar conteúdos informativos e formativos de especialidade económica em termos tais que estes se traduzem em mais-valias para quem recebe, acompanha e absorve as informações veiculadas nos diferentes meios do projecto. Portanto, o Económico apresenta valências importantes para os objectivos institucionais e de negócios das empresas.
últimas notícias
Mais Acessados
-
Economia Informal: um problema ou uma solução?
16 de Agosto, 2019 -
LAM REDUZ PREÇO DE PASSAGENS EM 30%
25 de Maio, 2023