
Eduardo Sengo: “A Banca Precisa Menos Margens e Mais Coragem”
O economista defende uma reforma estrutural do sistema bancário, com revisão do modelo de cálculo das taxas de juro, redução dos spreads e maior transparência na formação de preços. Acredita que só uma banca moderna e eficiente poderá sustentar o crescimento sustentável.
- O actual modelo de cálculo das taxas de juro contém duplicações e distorções;
- O spread bancário permanece elevado e penaliza o crédito produtivo;
- Eduardo Sengo propõe revisão do modelo indexado, eficiência operacional e transparência na formação das taxas;
- A banca deve diversificar a sua carteira, reduzir a dependência da dívida pública e investir em tecnologia e mercados alternativos;
- O economista defende reformas estruturais para alinhar política monetária, fiscal e industrial.
Com a taxa de juro directora em queda e um ambiente de maior estabilidade, o foco vira-se agora para a banca. Para Eduardo Sengo, o desafio é reposicionar o sistema financeiro. “A estabilidade é mérito do Banco Central; agora falta que a banca transforme essa estabilidade em desenvolvimento. O problema é que o sistema continua demasiado rígido e dependente de margens elevadas.”
Sengo explica que o modelo actual de cálculo das taxas de juro comerciais está cheio de sobreposições. “Temos a taxa de referência, o prémio de risco, o spread e o indexador — todos a incidir sobre a mesma base. Isso gera duplicação e torna o crédito excessivamente caro. O resultado é um sistema que protege o risco, mas penaliza o investimento.”
“As margens bancárias permanecem anormalmente altas, mesmo num ambiente de baixa inflação. É um modelo que beneficia a rentabilidade imediata, mas não a economia real”, alerta.
O economista considera que o sector financeiro precisa de “menos margens e mais coragem”, sobretudo para apoiar projectos produtivos e inovadores. “A banca moçambicana tem de aprender a crescer com o país, não apenas a financiar o Estado e as grandes empresas.”
Sengo aponta ainda para a necessidade de investir em eficiência tecnológica e diversificação de instrumentos de financiamento. “Os bancos precisam modernizar-se e explorar o mercado de capitais, securitizações, venture funds e mecanismos de partilha de risco. A dependência quase exclusiva dos depósitos e da dívida pública é insustentável.”

“Enquanto os bancos forem também corretores e detentores das mesmas posições que regulam, teremos um conflito de interesses que trava o desenvolvimento do mercado financeiro”, observa.
O economista sublinha que, apesar da robustez da supervisão do Banco de Moçambique, “a regulação deve evoluir do controlo formal para a regulação de performance”. “Precisamos avaliar resultados: quantos projectos produtivos foram financiados? Quanto crédito novo foi concedido às PMEs? Que impacto teve na geração de emprego?”
Contexto e Perspectiva
Nos últimos anos, o spread bancário em Moçambique manteve-se entre 10% e 15%, um dos mais altos da África Austral. Essa rigidez, combinada com custos administrativos elevados e concentração de mercado, continua a afastar pequenas empresas do sistema financeiro formal.
Para Sengo, a reforma deve ser abrangente e pragmática. “Não basta descer taxas ou criar fundos. É preciso mexer no modelo bancário, reduzir custos, partilhar riscos e criar incentivos para o financiamento produtivo.”
“O sistema financeiro moçambicano é sólido, mas precisa ser útil. Hoje, serve mais o Estado do que a economia. O desafio é inverter essa lógica — e isso exige menos margens, mais eficiência e mais coragem.”
Para Eduardo Sengo, o futuro do crescimento económico dependerá da capacidade de a banca reinventar-se: menos burocracia, mais inovação e um compromisso real com o desenvolvimento nacional.
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