
Inclusão Financeira em Moçambique Aumenta, Mas Desigualdades Persistem
Expansão do dinheiro móvel e reforço da supervisão regulatória alimentam o progresso, mas o país ainda enfrenta o desafio de transformar acesso em inclusão real
- O número de contas de dinheiro móvel ultrapassou 12 milhões, impulsionando a inclusão digital;
- O sistema financeiro cobre 78% dos distritos, embora persistam assimetrias regionais significativas;
- 85% das reclamações dos clientes tiveram decisão favorável, reforçando a confiança no sistema;
- As mulheres representam 43% dos titulares de contas, mas continuam sub-representadas;
- O BdM recomenda mais literacia financeira, inovação digital e supervisão reforçada para consolidar o progresso.
Moçambique continua a avançar no processo de inclusão financeira, mas de forma desigual. O Relatório de Inclusão Financeira 2024, divulgado pelo Banco de Moçambique (BdM), revela progressos sustentados na expansão dos serviços financeiros — sobretudo através das plataformas digitais —, embora persistam desafios estruturais que limitam o acesso equitativo entre regiões e grupos populacionais.
Digitalização: O motor silencioso da inclusão
A digitalização consolidou-se como o principal catalisador do acesso financeiro no país.
O número de contas de dinheiro móvel ultrapassou 12 milhões, reflectindo a crescente adesão da população às soluções digitais. As transacções móveis aumentaram tanto em volume como em valor, com forte expansão de pagamentos de serviços, transferências entre particulares e microcrédito digital.
A interoperabilidade entre bancos, operadoras e fintechs reforçou o ecossistema financeiro, embora o relatório aponte custos de transacção ainda elevados, riscos de segurança digital e limitações de conectividade em áreas remotas como entraves à expansão inclusiva.
Cobertura territorial cresce, mas desigualdade mantém-se
O sistema financeiro formal cobre actualmente 78% dos distritos moçambicanos, uma taxa historicamente elevada, mas com marcadas disparidades regionais.
As províncias do sul e do centro apresentam níveis de penetração significativamente superiores aos do norte, em especial Niassa e Cabo Delgado, onde a baixa densidade populacional e os desafios de segurança limitam a actividade bancária.
O Banco de Moçambique defende que a inclusão financeira é uma condição necessária à estabilidade macroeconómica e à transformação produtiva, mas alerta que o simples acesso não garante uso nem impacto socioeconómico efectivo.
O paradoxo do acesso: Mais contas, pouca utilização
Embora o número de contas bancárias e digitais continue a crescer, o uso efectivo dos serviços permanece limitado.
Grande parte das contas de depósito e carteiras electrónicas registam actividade irregular ou inactiva, o que indica que a expansão quantitativa ainda não se traduz em inclusão funcional.
O relatório sublinha que o desafio está em transformar a posse de uma conta em ferramenta de cidadania económica, promovendo maior literacia financeira e produtos ajustados às realidades locais.
Mulheres ganham espaço, mas barreiras persistem
As mulheres representam 43% dos titulares de contas no sistema formal, um avanço modesto mas relevante.
Programas de educação financeira e crédito orientado permitiram que mais empreendedoras acedessem a microcrédito e a plataformas digitais. Contudo, as desigualdades persistem: o acesso feminino é mais restrito em zonas rurais e as condições de crédito continuam menos favoráveis.
O BdM recomenda a adopção de estratégias de género mais robustas, com incentivos específicos à inclusão de mulheres e jovens em instrumentos de poupança, investimento e financiamento agrícola.
Supervisão e confiança: A outra face da inclusão
A confiança no sistema financeiro reforçou-se com o papel activo do Departamento de Supervisão de Conduta do BdM, que tratou 1.809 reclamações em 2024, das quais 85% resultaram em decisões favoráveis aos clientes.
Estas deliberações levaram à devolução de 18 milhões de meticais aos reclamantes e demonstram maior capacidade do regulador em corrigir práticas abusivas e proteger o consumidor financeiro.
O Banco de Moçambique destaca que a inclusão financeira sustentável depende tanto da inovação tecnológica quanto da ética e transparência do sector.
Desafios estruturais ainda por superar
Apesar dos ganhos, o relatório identifica cinco travões principais à inclusão financeira:
- Desigualdades regionais persistentes;
- Custos operacionais elevados e margens reduzidas nas zonas rurais;
- Infraestrutura tecnológica desigual e conectividade limitada;
- Baixos níveis de literacia financeira;
- Dependência excessiva de canais informais e falta de diversificação de produtos.
Política, inovação e literacia: os três eixos do futuro
Para consolidar o progresso, o Banco de Moçambique recomenda uma agenda tripartida:
- Reforçar a interoperabilidade digital entre bancos, fintechs e operadoras móveis;
- Expandir programas de literacia financeira, com enfoque em mulheres e juventude;
- Aprofundar a supervisão prudencial e de conduta, fortalecendo a confiança e a transparência.
O regulador defende ainda maior envolvimento do sector privado e das tecnologias financeiras (fintechs) na promoção da inclusão económica e social.
Inclusão Sustentável: o Novo Imperativo Económico
O Relatório de Inclusão Financeira 2024 mostra que Moçambique está a progredir na direcção certa, mas que a inclusão plena exige mais do que tecnologia: requer equidade, educação e confiança.
A digitalização e a regulação prudente são hoje pilares fundamentais, mas o próximo passo será converter o acesso num instrumento real de desenvolvimento humano e produtivo.
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