Brasil e Moçambique Buscam Fortalecer Cooperação Económica e Diplomática, com Ênfase em PME e Diversificação Sectorial

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Visita de Lula da Silva a Maputo e Fórum Empresarial bilateral destacam necessidade de transformar relações históricas em projectos concretos, ampliando comércio, promovendo investimentos e impulsionando PME com políticas baseadas em evidências.

Questões-Chave:
  • Comércio bilateral ronda apenas 40 milhões de dólares anuais, muito aquém do potencial;
  • Diversificação produtiva e sectorial é prioridade estratégica para os dois países;
  • PME assumem papel central na geração de emprego e no desenvolvimento sustentável;
  • Investimentos brasileiros em Moçambique permanecem baixos, cerca de 15 milhões USD;
  • Cooperação técnica avança em sectores como agricultura, logística, transporte e gás;
  • Capital humano moçambicano destaca-se como activo decisivo na nova economia global;
  • Parceria reforça defesa conjunta do multilateralismo e da estabilidade geopolítica.

A visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Maputo e o Fórum Empresarial Brasil–Moçambique reafirmaram o carácter estratégico da relação bilateral e evidenciaram que o comércio e o investimento ainda estão longe do potencial real. Os dois países convergem agora numa agenda centrada na diversificação produtiva, na dinamização das PME e na implementação de projectos concretos com impacto económico e social sustentável.

Cooperação Técnica Como Eixo Estrutural da Nova Parceria

Na abertura do Fórum, Vinicius Lages salientou que a actual aproximação entre Moçambique e o Brasil ultrapassa a mera diplomacia e assume um carácter técnico e institucional. Sublinhou o papel do SEBRAE — Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas — uma instituição público-privada fundada em 1972, com 53 anos de experiência na modernização de políticas para PME, na promoção da formalização, na capacitação empresarial e no aumento da produtividade das economias emergentes.

Lages lembrou que os pequenos negócios representam mais de 98 por cento do tecido empresarial brasileiro e são responsáveis por dois terços dos empregos formais. Para Moçambique, argumentou, fortalecer as PME é essencial para diversificar a economia, criar emprego e consolidar cadeias de valor inclusivas. A cooperação estruturada entre os dois países visa, assim, adaptar metodologias comprovadas no Brasil ao contexto moçambicano.

Juventude e Capital Humano No Centro da Nova Economia Global

Lages enfatizou igualmente que o maior activo de Moçambique não está apenas nos seus recursos naturais, mas no seu capital humano — jovem, criativo e numeroso. Num mundo marcado pelo avanço da inteligência artificial, pela automação e pela transformação digital, o dinamismo demográfico torna-se um factor estratégico. O dirigente defendeu que, com o investimento adequado em formação técnica e inovação, Moçambique pode posicionar-se de forma competitiva na economia global.

Comércio Bilateral Exíguo e Necessidade Urgente de Diversificação

O diplomata Alex Giacomelli da Silva, Director do Departamento de Promoção Comercial, Investimentos e Agricultura do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), afirmou que a presença de Lula em Maputo simboliza uma nova fase da política externa brasileira para África, assente em pragmatismo económico. Sublinhou, contudo, que os indicadores comerciais permanecem reduzidos. O comércio anual entre os dois países ronda apenas 40 milhões de dólares, apesar de ter registado um crescimento de 27 por cento em 2024.

As exportações brasileiras para Moçambique continuam altamente concentradas: a carne de aves representa 40,8 por cento do total. Em sentido inverso, o tabaco constitui 95,3 por cento das exportações moçambicanas para o Brasil. Este padrão evidencia um grau de especialização limitado e vulnerável, reforçando a urgência de diversificar produtos e sectores.

Também o investimento brasileiro permanece modesto. Moçambique ocupa o 71.º lugar entre os destinos de capital do Brasil, com apenas 15 milhões de dólares investidos nos últimos anos. A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) recorda que, mesmo com o volume de negócios a ultrapassar 100 milhões de dólares em 2024, a relação económica continua abaixo das expectativas e capacidades conjuntas.

Chapo Quer Transformar a Cooperação em Projectos Concretos

O Presidente Daniel Chapo afirmou que Moçambique pretende avançar rapidamente para uma fase de execução e resultados tangíveis. Defendeu que a cooperação deve materializar-se em projectos reais nas áreas de agricultura, agro-processamento, logística, transporte, energia e exploração de gás. Chapo sublinhou que o Brasil possui experiência acumulada em sectores onde Moçambique enfrenta desafios semelhantes, sendo por isso um parceiro técnico importante para acelerar reformas e executar projectos estruturantes.

Multilateralismo e Estabilidade Como Fundamentos da Parceria

Giacomelli observou que, num contexto global marcado por tensões geoeconómicas, proteccionismo e volatilidade, Moçambique e Brasil têm interesse comum em defender o multilateralismo. Ambos cooperam de forma alinhada em plataformas como a CPLP, o G20 e a COP30, promovendo agendas de desenvolvimento sustentável, justiça económica e integração cooperativa. A estabilidade institucional e a previsibilidade regulatória foram identificadas como elementos cruciais para atrair investimento e fortalecer o comércio.

Uma Parceria Orientada Para Impacto Sustentável

O Fórum Empresarial evidenciou que a relação Brasil–Moçambique deixou de assentar exclusivamente em vínculos históricos e passou a reflectir uma visão estratégica de longo prazo. A convergência em torno das PME, da diversificação produtiva, do desenvolvimento humano e de políticas baseadas em evidências demonstra que a cooperação está a migrar para um modelo assente em execução, impacto e sustentabilidade.

O encontro bilateral mostrou que Brasil e Moçambique querem transformar intenções em projectos concretos, criando condições para elevar o comércio, diversificar sectores, fortalecer PME e posicionar o capital humano como eixo do desenvolvimento. Apesar do comércio e do investimento ainda modestos, a parceria revela maturidade política e técnica para se consolidar como uma das mais promissoras no eixo Sul–Sul.

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