CFM Celebram 130 Anos: Legado Ferroviário Impulsiona Debate Sobre Futuro Logístico de Moçambique

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Questões-Chave:

  • Presidente Chapo considera os CFM a “espinha dorsal da soberania logística nacional”;
  • Aniversário dos 130 anos reacende debate sobre modernização, concessões e papel do Estado;
  • Sector ferroportuário enfrenta desafios de manutenção, competitividade e captação de carga regional;
  • Novas oportunidades emergem com projectos logísticos, como o Corredor de Maputo, Techobanine e Mphanda Nkuwa;
  • Papel dos CFM é visto como estratégico na industrialização e integração económica da África Austral.

Legado Histórico e Relevância Nacional

A efeméride dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM), celebrada a 8 de Julho de 2025, marcou o reconhecimento público de uma instituição cuja existência se confunde com a própria formação do Estado moçambicano moderno. Desde a ligação ferroviária entre Lourenço Marques e o Transvaal, em 1895, os trilhos desempenharam um papel de integração territorial, construção de cidadania e circulação de mercadorias e ideias.

“Celebramos um marco que ultrapassa a nossa imaginação e entra para o domínio da memória nacional e do orgulho colectivo dos moçambicanos”, afirmou o Presidente Daniel Chapo, recordando que o que poderia ter sido apenas um empreendimento colonial transformou-se, nas mãos e no suor dos moçambicanos, num instrumento poderoso de coesão territorial, desenvolvimento económico e afirmação nacional.

Na visão do Chefe do Estado, os trilhos dos CFM costuraram o país de norte a sul e ligaram Moçambique a países vizinhos como o Zimbabwe, Malawi, África do Sul, Zâmbia e Eswatini, tornando-se num eixo estratégico de integração regional e comercial. A ligação entre o transporte ferroviário e a identidade nacional foi ainda evocada na referência ao Estádio da Machava, construído pelos CFM, palco da proclamação da independência em 1975.

Desafios Estruturais e Estratégicos

A celebração dos 130 anos dos CFM ocorre num momento de grandes interrogações e exigências para o sector ferroportuário moçambicano. De um lado, há o peso de infra-estruturas envelhecidas e redes que exigem urgente modernização. Do outro, há a pressão crescente para tornar os corredores logísticos de Moçambique mais competitivos face às alternativas que países vizinhos estão a desenvolver.

Um dos principais desafios prende-se com o estado de conservação das linhas férreas, particularmente nos ramais menos movimentados, onde a velocidade comercial é reduzida e os custos operacionais são elevados. Acresce ainda a necessidade de maior equilíbrio entre a presença do Estado e a eficiência trazida pelas concessões ao sector privado, num cenário onde a busca por rentabilidade não pode comprometer o interesse público.

Outro ponto sensível é a capacidade de Moçambique captar volumes significativos de carga dos países do interior, que dependem de acesso aos portos marítimos. A fiabilidade, o custo e a previsibilidade das rotas ferroviárias serão decisivos para manter e expandir esse mercado.

Oportunidades Emergentes e Perspectivas Futuras

Apesar das dificuldades, o sector vive um momento de reconfiguração com oportunidades claras de reposicionamento estratégico. O país continua a deter uma vantagem geográfica significativa para se afirmar como plataforma logística regional. Os corredores ferroviários de Maputo, Beira e Nacala podem ser catalisadores de desenvolvimento económico, se forem modernizados, integrados e bem geridos.

O projecto de Techobanine, que prevê a construção de um porto de águas profundas e a respectiva ligação ferroviária até ao Botswana e, eventualmente, à Zâmbia, é um exemplo de visão transformadora que ainda aguarda viabilização. A mesma lógica aplica-se ao reforço do Corredor de Nacala, com os seus vínculos à indústria mineira, e à ligação de infra-estruturas energéticas, como Mphanda Nkuwa, aos principais eixos logísticos.

Moçambique poderá também tirar proveito do aumento da procura por cadeias de abastecimento sustentáveis e eficientes, apostando na digitalização, na intermodalidade e em soluções logísticas verdes. Nesse contexto, os CFM devem posicionar-se não apenas como operadores de transporte, mas como actores integradores da industrialização nacional.

Reforçar o Papel Público e Reafirmar a Visão Nacional

O discurso do Presidente da República deixa claro que a história dos CFM é inseparável do destino do país. Ao classificá-los como “coluna vertebral da soberania logística nacional”, Chapo lança uma mensagem política que reafirma o interesse estratégico do Estado neste sector. Tal visão implica que, mesmo em contextos de concessão e parcerias público-privadas, o Estado deve manter a capacidade de direcção, planeamento e regulação efectiva das infra-estruturas críticas.

Numa era de instabilidade logística global, mudanças climáticas e transição energética, a construção de uma visão logística nacional robusta, inclusiva e inovadora é imperativa. Os CFM, com a sua história, experiência e legado institucional, continuam a ser uma peça-chave nesse desenho estratégico.

Comemorar os 130 anos dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique é mais do que evocar o passado. É convocar a nação para um compromisso renovado com o futuro. Os desafios são grandes, mas as oportunidades também o são. A infra-estrutura está lá. A história está lá. A vontade política está a ser reafirmada. O comboio da vida continua a apitar — e é preciso garantir que não descarrila, mas que chega cada vez mais longe.

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