Conflito russo-ucraniano atrasará o processo de recuperação das economias africanas

0
772

A invasão da Ucrânia e as sanções resultantes impostas à Rússia pelos principais países do ocidente, incluindo Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Canadá e Japão, estão a ter enormes repercussões em todo o mundo, incluindo no continente africano.

Embora a Rússia e a Ucrânia não sejam potências sistemicamente determinantes na economia mundial, o custo da guerra, as sanções e outras restrições impostas pelos países ocidentais à Rússia e as respostas imediatas às referidas medidas deverão, segundo as várias análises realizadas sobre o assunto, implicar efeitos em cascata globalmente.

Considerando as incertezas em torno da evolução do conflito, as suas repercussões imediatas são consideradas de difícil avaliação. Entretanto, tratando-se de duas economias que desempenham um papel de liderança para as principais commodities alimentares e do sector energético, pressões inflacionárias, crescimento reduzido e algumas turbulências no mercado financeiro, destacam-se entre os principais resultados imediatos do conflito.

Neste contexto, a magnitude do impacto económico dependerá de como a guerra progride e como isso afecta o comércio global de commodities-chave, no entanto, antevêem-se impactos muito maiores nos resultados económicos globais em relação aos custos da própria guerra, principalmente para as economias mais vulneráveis, a maioria delas em África, destaca um estudo do Departamento de Desenvolvimento Económico, Comércio, Turismo, Indústria e Minerais da União Africana.

“O que aparentemente é certo é que esse conflito atrasará os ganhos modestos no caminho para a recuperação económica global pós-COVID para as economias africanas, que estão ficando para trás à medida que o mundo se recupera”, refere a organização.

Com efeito, o continente já se ressente dos efeitos do conflito e as sanções impostas à Rússia pelas economias do ocidente. Preços mais altos de alimentos e combustíveis, menores receitas do turismo e potencialmente mais dificuldades de acesso aos mercados de capitais internacionais são, de acordo com a UA, os principais canais pelos quais a guerra deverá afectar o crescimento no continente.  

Resultado do elevado grau de dependência de algumas economias africanas na importação das principais commodities, os preços estão a experimentar pressões para um maior aumento no continente, commodities como o milho aumentaram 21%, o trigo 35%, a soja 20% e o óleo de girassol 11%, produtos que respondem por mais de 50 % das respectivas importações desses países: “Os agregados familiares pobres e vulneráveis suportam o fardo mais pesado destes aumentos de preços, uma vez que tanto os combustíveis como os produtos alimentares constituem parcelas mais ponderadas das despesas nos seus orçamentos.

Interrupções nas cadeias de abastecimento, acordos de pagamentos, rede de viagens, entre outros, também afectarão a África. Além das referidas interrupções, avança a organização, altas pressões e expectativas inflacionárias e desafios na cadeia de suprimentos prejudicarão as actividades económicas em todo o continente.

A situação será particularmente mais grave na medida em que o conflito surge em um momento desafiador, quando a maioria das economias africanas estão sofrendo com altos níveis de endividamento interno e externo e deteriorando as dificuldades na balança de pagamentos.

Segundo a fonte, a margem fiscal dos países deverá reduzir ainda mais como consequência do conflito na medida em que é expectável uma redução da assistência ao desenvolvimento, com a Ucrânia tornando-se a principal atenção do ocidente: “Com este novo foco estratégico, os compromissos dos países ocidentais para a recuperação económica de África da pandemia de COVID-19 podem não ser totalmente honrados, nomeadamente no que diz respeito à realocação do Saque Especial do FMI”.

Resultados mistos ao nível das economias  

Embora as análises apontem, no geral, para um agravamento das dificuldades económicas em toda região, avança a organização, as repercussões da crise afectarão de forma diferente as economias africanas.

Devido as ligações do continente com o resto do mundo, mesmo sem escolher lados, as economias africanas deverão pagar o preço da guerra na Ucrânia, entretanto, outros deverão aproveitar-se da onda de sanções contra a Rússia para impulsionar o seu processo de crescimento. Aqui destaca-se o caso da Argélia, que pode se tornar o principal fornecedor de gás para a Itália e a Espanha e o maior exportador de energia para a União Europeia depois da Rússia e da Noruega.

No cômputo geral, enquanto os exportadores de energia terão ganhos significativos, os importadores de energia e alimentos sofrerão as consequências, acentuando assim seus desequilíbrios externos e suas preocupações com os níveis de endividamento. De igual modo, produtores não petrolíferos também experimentarão resultados negativos, levando a “stress social” adicional.

SUBSCREVA O.ECONÓMICO REPORT
Aceito que a minha informação pessoal seja transferida para MailChimp ( mais informação )
Subscreva O.Económico Report e fique a par do essencial e relevante sobre a dinâmica da economia e das empresas em Moçambique
Não gostamos de spam. O seu endereço de correio electrónico não será vendido ou partilhado com mais ninguém.