
Análise Semanal –13 – 17 de Março de 2023
- Mercado Cambial Doméstico
O metical manteve-se estável face ao dólar norte-americano, em 63.88 meticais por um dólar.
O metical registou uma tendência depreciativa face a libra esterlina em 0.84pb, de 76.67 no inico da semana passada, para 77.51 meticais por uma libra esterlina, no fecho da semana em análise. E face ao rand sul-africano, e o euro, o metical apreciou em 0.03pb de 3.51 para 3.48, e em 0.1pb de 67.99 para 67.99, respectivamente.

Fonte: Banco de Moçambique
Em relação as operações cambiais, USD/MZN, entre os bancos comerciais e o público, estas registaram uma variação maioritariamente positiva, pese embora os volumes transacionados na semana em análise tenham sido inferiores aos da semana anterior.
Observando as operações ocorridas na semana em análise, os bancos comerciais voltaram a fechar a semana com um excedente em dólares, facto que, de certa forma, , justifica a actual estabilidade do metical face ao dólar.

Fonte: Banco de Moçambique
Legenda: O gráfico acima ilustra as variações dos volumes das operações cambiais entre os bancos comerciais e o público, em milhões de dólares norte-americanos, numa base diária de 06 a 17 de Março de 2023.
Mercado Internacional
O aperto monetário nos EUA começa a dar origem a alguns resultados adversos. Um deles, mais aparente e recente, foi a falência do banco Sillicon Valley Bank (SVB).
O SBV foi um banco comercial com uma grande presença nos EUA, concentrado em empréstimos para empresas de tecnologia, fornecendo vários serviços para capital de risco, financiamento baseado em receita e empresas de capital privado que investem em tecnologia, e também em serviços bancários privados para indivíduos de alto património liquido, no seu mercado domestico no Vale do Silício `Sillicon Valley´, nos EUA.
O Sillicon Valley Bank, que é um banco comercial norte-americano, focado no segmento de novas empresas no ramo inovador e de tecnologia viu um grande influxo de fundos durante a pandemia de COVID – o banco cresceu em cerca de US$ 50 mil milhões em activos em 2018 para US$ 209 mil milhões no final de 2022.
Com esse influxo de caixa, o banco comprou títulos do Tesouro de longo prazo e títulos lastreados em hipotecas, que eram considerados, na altura, um investimento bom e seguro.
Como medida de contenção das crescentes pressões inflacionárias, o banco central dos EUA elevou sua taxa de juros directora em 4,5 pontos percentuais em um ano. No entanto, os títulos adquiridos e mantidos pelo SVB passaram a valer muito menos do que os novos títulos que o Governo dos Estados Unidos vem emitindo.
O banco viu os primeiros sinais de perigo no final de Outubro de 2022 mas, apenas tentou resolver o problema levantando capital por meio de uma venda de acções realizada pelo banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, na semana passada (semana de 06-10 de Março). No entanto, desfazerem-se dos seus activos de renda fixa e tentarem aumentar o seu capital por meio de uma venda de acções eram as últimas tentativas de sobrevivência que restavam ao banco. Foram tentativas feitas, discutivelmente, muito tarde. Os depositantes do SVB perceberam a situação do banco e correram para sacar seu dinheiro.
Entretanto, temendo que a corrida ao banco aumentasse, a entidade reguladora bancária dos EUA sessou as funções do SVB ao meio do dia de 10 de Março de 2023.
No mesmo dia, o Governo disse que todos os depositantes abaixo do teto de seguro de US$ 250,000.00 seriam recuperados. Contudo, isso deixou o destino dos depositantes além da rede de segurança. No final da noite de domingo, 12 de Março, o departamento de tesouraria e a corporação federal de seguros de depósitos anunciaram que todos os depositantes do banco do Vale do Silício seriam assegurados.
O Fed também implementou um programa de empréstimos de emergência para estabilizar outros bancos regionais. De acordo com o programa, os bancos podem prometer seus títulos pelo valor de face ao Fed em troca de dinheiro se enfrentarem depositantes inquietos com a questão de liquidez do banco.
Para além disto, na quarta-feira, 15 de Março, os mercados despencaram com notícias envolvendo o banco suíço Credit Suisse. Dessa vez, a complicação agravou-se com o anúncio de que seu principal accionista, o Saudi National Bank, da Arábia Saudita, não iria aumentar sua participação no banco.
A questão que se levante perante estes eventos é se os mesmos, a eles junta-se o caso da Signatura Bank, se estamos ou não diante de um risco sistêmico? E se isso pode e/ou em quanto tempo pode atingir Moçambique.
O balanço do Credit Suisse no quarto trimestre de 2022, divulgado em Fevereiro, mostrou que o banco teve, nesse exercício, o quinto prejuízo consecutivo. Mas, o problema não foi apenas esse. Na última terça-feira, dia 14 de Março, o banco informou ter identificado “fragilidades materiais” registadas nos seus relatórios financeiros dos últimos dois anos. Portanto, os problemas do Credit Suisse não são de hoje. Recentemente, duas empresas deram ao Credit Suisse um prejuízo de cerca US$ 15 mil milhões ao falirem, após tomarem recursos do banco. Investigações mostram que houve falhas na análise de riscos da parte do Credit Suisse.
Com isto, surgiu uma insegurança a respeito do funcionamento e, consequentemente, do futuro do banco. Esta sequencia de eventos, sugere dizer, que o caso do Credit Suisse pode ser particular, e que não contribui, necessariamente, para ideia de que estejamos diante de um risco sistémico.
De novo, analisando o Sillicon Valley, os juros altos têm um papel ainda mais direto. O banco tinha a maior parte dos seus ativos (ou seja, dos seus recursos) aplicada em títulos do tesouro norte-americano de médio e longo prazo. Porém, os seus passivos (suas obrigações) eram de curto prazo. Com a alta dos juros nos EUA, esses activos caíram de preço, mas isso não aconteceu com os passivos. Assim, o banco ficou com as contas debilitadas.
Portanto, pode se argumentar que o SVB cometeu muitos erros. Um dos quais, pode ser atribuído ao facto de o banco não ter sido ágil o suficiente com sua gestão de portfólio para garantir que a ‘duração’ dos activos circulantes (investidos a longo prazo) pudesse atender à ‘duração’ dos passivos de curta duração, e o facto de não terem feito uma leitura atempada sobre da mudança da tendência, ambiente do mercado em mudança, que resultou em perdas significativas do valor dos activos que o banco mantinha em carteira e que consequentemente levou a grandes saques de dinheiro. No entanto, o exemplo do SVB, pode sim servir como alerta para os demais bancos que demonstrem estas fragilidades e que possam eventualmente sucumbir se não derem respostas suficientemente dinâmicas às mudanças da tendência do mercado.
Para além disso, parece estar a surgir uma crise de confiança no sistema bancário como um todo. E para despenhar um banco, basta um boato. Esse clima de risco no sector contaminou principalmente outros bancos na Europa, onde há mais instituições sob desconfiança do mercado por trabalharem com níveis de rentabilidade baixos, serem pouco lucrativas, terem uma estrutura muito inchada e dificuldade de suprir a operação.
O cenário supracitado juntamente com a subida expressiva das taxas de juro diretoras em 50pb, por parte do Banco Central Europeu (ECB), o euro registou uma tendência mista face ao dólar, aproveitando-se da sua fragilidade, mas posteriormente registou perdas, a medida que se anunciou que os depositantes no SBV estariam assegurados, o que demostrou, de certa forma, boas politicas e robustez das entidades reguladoras norte-americanas.
No caso de Moçambique No caso de Moçambique, a subida expressiva dos coeficientes de reservas obrigatórias para os passivos em moeda estrangeira e moeda nacional de 10.50% para 28%, e de 11.50% para 28.5%, respectivamente, em Janeiro, parece fazer mais sentido agora, pois esta medida pode ter vindo com o intuito de garantir, antecipadamente, que os bancos se previnam, garantido reservas que os protejam de choques de um risco sistémico, a medida que o ambiente do mercado muda.
Ainda olhando para Moçambique, o País tem pouca exposição directa a activos de risco nos EUA e a bancos europeus, mas em toda crise financeira a tendência é de investidores migrarem para activos mais seguros.
Da perspectiva externa, ao reduzir o risco da carteira, o investidor estrangeiro precisaria diminuir sua exposição a mercados emergentes. Aí, sim, Moçambique pode ser afetado. É possível haver uma fuga de capital internacional, o que provocaria uma redução no investimento directo em Moçambique e, como consequência, fuga também do investidor doméstico para a renda fixa.
Do aspecto de mercado, o aumento de desemprego e uma possível recessão na Europa e nos EUA poderá afectar a demanda por exportações do mercado moçambicano.
Rand Sul Africano
O rand-sul africano esteve numa tendência mista ao longo da semana em análise, tendo recuperado algumas das suas perdas registadas na semana passa. Contudo, o rand não conseguiu fechar a sessão semanal em alta, em relação ao nível de abertura da semana passada, abaixo dos 18.20 rands sul-africanos por um dólar.

Fonte: Stooq Legenda: O gráfico acima ilustra a evolução do rand sul africano por uma unidade do dólar norte-americano, de 06 a 17 de Março de 2023.
O rand favoreceu-se da fragilidade do dólar norte-americano registada ao longo desta semana, essencialmente justificada pela turbulência no sector bancário nos EUA. Ainda assim, devido aos constrangimentos domésticos na África do Sul em relação aos níveis historicamente altos de cortes de energia, o rand não conseguiu superar todas as perdas registadas na semana antecedente.
Commodities
Neste período em análise, o Gás Natural esteve numa tendência depreciativa, tendo saído de USD 2.83/MMBTU no inicio da semana passada para USD 2.51/MMBTU no fecho da semana em análise. Na mesma linha, o petróleo bruto Brent, foi transacionado em baixa, saindo de USD 85.83/barril no inicio da semana passada, para USD 74.70/barril no fecho da semana em análise.

Fonte: Stooq
A turbulência no sector bancário, que se evidenciou nestas duas últimas semanas, forçou os participantes do mercado a adoptar uma visão mais conservadora do provável crescimento da demanda petróleo neste ano.
Isso ocorre apesar da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) ter declarado, na ultima sexta-feira, 17/03, que as perspetivas económicas globais melhoraram em relação a alguns meses atrás. A OCDE elevou a sua previsão de crescimento global para 2,6% este ano, de 2,2% em sua última publicação em Novembro, citando um declínio nos preços de energia e alimentos e a flexibilização das restrições anti-covid na China.
Por outro lado, a Agência Internacional de Energia aumentou a sua estimativa de oferta russa em 300 milhões de barris por dia, no seu último relatório mensal do mercado de petróleo, justificando que as exportações russas se mantiveram melhores do que o esperado.
Além disso, “o actual ambiente de superávit também significou que as reservas dos EUA atingiram uma alta de 18 meses e espera-se que o mercado permaneça em superávit no primeiro semestre e 2023.
Assim sendo, o comportamento bearish no mercado do petróleo tende a pesar mais que o bullish, de tal modo de que o petróleo continue a ser transacionado em baixa.
Mercado de Capitais
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