COP30 Fecha com Acordo Frágil: Financiamento Triplicado, Fosséis Omitidos e Tensão Diplomática Evidente

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A conferência de Belém aprovou um pacote robusto para adaptação climática, mas evitou compromissos sobre combustíveis fósseis, deixando a descoberto um processo multilateral tenso, fracturado e aquém da urgência climática.

Questões-Chave:
  • A COP30 triplicou o financiamento para adaptação climática até 2035;
  • Não houve consenso para incluir linguagem sobre a eliminação dos combustíveis fósseis;
  • A UE, a Colômbia, o Panamá e o Uruguai criticaram a falta de ambição no texto final;
  • A conferência registou momentos de tensão diplomática e divisões profundas;
  • O desfecho deixa questões críticas para África e para o futuro da acção climática global.

A COP30 encerrou em Belém com um acordo que, embora importante no reforço da adaptação climática, ficou claramente aquém das expectativas no capítulo central da mitigação. O pacote financeiro aprovado representa um avanço para países vulneráveis, mas a ausência total de linguagem sobre combustíveis fósseis — o principal motor do aquecimento global — expôs a fragilidade da arquitectura diplomática e o peso da realpolitik num momento crítico da emergência climática.

Presidência Brasileira Força um Compromisso em Ambiente de Fortes Divisões

Após negociações prolongadas e tensas, que ultrapassaram o tempo previsto, a presidência brasileira conseguiu aprovar um acordo de compromisso que mantém viva a dinâmica diplomática, apesar das divergências profundas entre países.
O esforço de Brasília ganhou particular relevância perante a ausência de uma delegação oficial dos Estados Unidos, o maior emissor histórico, facto que colocou pressão adicional sobre o processo.

Aumento do Financiamento de Adaptação: Uma Vitória Incompleta

O acordo para triplicar o financiamento destinado à adaptação climática até 2035 foi recebido como uma vitória por economias vulneráveis, países africanos e pequenos Estados insulares.
Esse reforço abre oportunidades para investimentos em resiliência, protecção contra eventos extremos e implementação de planos nacionais de adaptação.
Contudo, permanecem por definir os mecanismos de financiamento, os prazos de execução, as fontes concretas de recursos e a forma de monitorização.
Sierra Leone chamou a atenção para a falta de indicadores claros, assumindo publicamente que esta ausência cria espaço para interpretações que podem comprometer a eficácia do apoio.

A Questão Mais Sensível: A Omissão Completa dos Combustíveis Fósseis

O texto final não incluiu qualquer referência à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, apesar de mais de oitenta países terem defendido uma linguagem clara sobre a transição energética.
Colômbia, Panamá e Uruguai foram particularmente firmes ao rejeitar um acordo que contorna o tema que, segundo afirmaram, é central para a ciência climática.
A delegação colombiana declarou de forma contundente que um consenso construído sobre “negação climática” não pode ser considerado um acordo robusto.
O silêncio sobre os fósseis reflecte o bloqueio imposto por países produtores de petróleo e gás, com a Arábia Saudita à cabeça, para quem qualquer menção ao sector seria inaceitável.

Embora a União Europeia tenha inicialmente exigido a inclusão de linguagem sobre a transição, acabou por aceitar não bloquear o acordo final, reconhecendo, contudo, que o desfecho não correspondeu às suas expectativas de ambição climática.

Momento de Tensão: O Incidente Diplomático que Expôs Fracturas

As negociações ficaram marcadas por um incidente envolvendo a delegação russa, cujo representante acusou países latino-americanos de “se comportarem como crianças que querem todos os doces”.
O comentário provocou reacções imediatas de indignação, especialmente entre os países alvo, que repudiaram publicamente a declaração e defenderam o seu direito de exigir um acordo alinhado com a ciência.

O episódio simbolizou a crescente polarização dentro do regime climático, num ano já marcado por desconfiança, comportamentos unilaterais e falta de convergência.

Metano: Avanços Relevantes, Mas Distantes da Escala Necessária

Apesar da falta de acordo sobre fósseis, registaram-se avanços moderados na redução de emissões de metano, com um grupo de países a assumir compromissos voluntários no sector energético.
Embora positivo, o pacote é considerado insuficiente para garantir reduções significativas num horizonte de curto prazo, especialmente perante a urgência de cortar emissões deste gás altamente poluente.

Um Acordo Que Avança Nuns Eixos e RecuA Noutros

No balanço geral, a COP30 resultou num acordo que reforça a adaptação, cria margem para avanços futuros, mas deixa em aberto a dimensão mais estruturante da mitigação e recusa abordar directamente o principal motor da crise climática.
Simon Stiell, Secretário Executivo da UNFCCC, sintetizou o sentimento geral ao afirmar que o mundo não está a ganhar a luta climática, mas permanece empenhado nela.

Impactos e Oportunidades para África e Moçambique

Para países africanos como Moçambique, o reforço do financiamento de adaptação abre espaço para fortalecer a resiliência climática e proteger comunidades expostas a eventos extremos.
Ao mesmo tempo, a ausência de um plano global de transição energética implica que o continente continua vulnerável a decisões externas, mantendo a necessidade de reforçar a diplomacia climática, criar instrumentos internos de financiamento e avançar em políticas nacionais de resiliência.

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