
Dólar Reforça-se com Crise Política nos EUA e Alimenta Nova Onda de Refúgio Financeiro
Prolongamento do shutdown norte-americano deteriora a confiança global e impulsiona procura por activos de refúgio, enquanto quedas cambiais e cortes de juros na Ásia agravam o nervosismo dos investidores.
- O dólar atingiu o nível mais forte em mais de dois meses, com o índice DXY a subir 0,3% para 98,91 pontos;
- O impasse político em Washington — com ameaças de despedimentos em massa na função pública — deteriora a confiança dos mercados;
- O banco central da Nova Zelândia surpreendeu com um corte de 50 pontos base nas taxas de juro, levando o dólar neozelandês a cair 1%;
- O iene japonês recua para mínimos de oito meses, face às expectativas de nova política expansionista da recém-eleita primeira-ministra Sanae Takaichi;
- O ouro ultrapassou a fasquia histórica dos 4.000 dólares por onça, num movimento clássico de refúgio em períodos de incerteza;
- Os mercados antecipam um novo corte de juros pela Reserva Federal, com probabilidade de 94,6% segundo o FedWatch Tool da CME.
O dólar norte-americano reforçou-se esta semana para o valor mais alto desde Agosto, impulsionado pelo prolongado encerramento parcial do Governo dos Estados Unidos (shutdown), que tem aumentado o pessimismo dos investidores e reforçado a procura por activos de refúgio, numa conjuntura de instabilidade política e incerteza monetária.
A moeda norte-americana valorizou-se 0,3%, levando o índice DXY — que mede o desempenho do dólar face a um cabaz de seis divisas — a 98,91 pontos, o nível mais elevado em mais de dois meses. O movimento foi alimentado pelo clima de incerteza em Washington, onde o impasse político prolonga o shutdown do governo federal, já no seu segundo mês, sem sinais de resolução à vista.
Analistas da Westpac sublinham que “o sentimento nos mercados financeiros deteriorou-se significativamente”, à medida que o Presidente dos EUA ameaçou com despedimentos em massa de funcionários públicos, aumentando o receio de recessão política e económica.
A instabilidade norte-americana teve reflexos imediatos nos mercados cambiais. O dólar da Nova Zelândia caiu 1%, para 0,5739 USD, após o Reserve Bank of New Zealand ter surpreendido com um corte de 50 pontos base nas taxas de juro, o dobro do esperado. “O mercado só atribuía 30% de probabilidade a uma decisão desta dimensão”, observou Joseph Capurso, do Commonwealth Bank of Australia, acrescentando que “a queda era inevitável e poderá prolongar-se nas próximas sessões”.
O dólar australiano recuou 0,4%, para 0,6559 USD, enquanto o iene japonês enfraqueceu para 152,5 ienes por dólar, o nível mais baixo desde Fevereiro. A vitória de Sanae Takaichi nas eleições internas do partido no poder no Japão alimenta expectativas de continuidade de políticas expansionistas semelhantes às de Shinzo Abe, potencialmente favoráveis às bolsas mas penalizadoras da moeda nipónica.
Nos mercados de metais preciosos, o ouro ultrapassou a barreira simbólica dos 4.000 dólares por onça, à boleia do aumento da aversão ao risco. “A incerteza sobre a economia global é um dos principais motores, e o shutdown dos EUA não ajuda o sentimento”, afirmam analistas do ING Bank.
Entretanto, as obrigações do Tesouro norte-americano registaram ligeira alta nos rendimentos: o título de 10 anos subiu para 4,1307%, face aos 4,127% da sessão anterior. Apesar da valorização do dólar e da tensão política, o mercado continua a apostar numa redução de 25 pontos base pela Reserva Federal, com probabilidade superior a 94%, segundo dados do FedWatch da CME.
Na Europa, o euro depreciou-se 0,3%, para 1,1618 USD, e a libra esterlina recuou 0,2%, para 1,3395 USD, enquanto o iuane offshore caiu para 7,1506 por dólar, acompanhando a tendência de fortalecimento do dólar em todo o espectro cambial.
O prolongamento do impasse em Washington reaviva o receio de uma crise de confiança global, num momento em que as economias avançadas procuram equilibrar estímulos monetários e riscos inflacionários. O fortalecimento do dólar, embora benéfico para os investidores norte-americanos no curto prazo, aumenta a pressão sobre países endividados em moeda estrangeira e agrava o custo das importações de energia e alimentos nas economias emergentes.
Como resumem os analistas da ING: “A incerteza política é o pior tipo de risco — não se pode precificar facilmente, mas o mercado reage de forma visceral, procurando refúgio no dólar e no ouro.”
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