
EDM Entre a Pressão da Transição Energética e o Desafio da Sustentabilidade
A entrada acelerada de produtores privados e de renováveis está a reconfigurar o mercado eléctrico; a EDM tenta equilibrar missão social, viabilidade financeira e uma reforma regulatória inadiável.
- Crescimento de produtores privados e projectos de renováveis pressiona modelo de negócio da EDM;
- Redução de cerca de 500 MW na capacidade de distribuição devido a impactos climáticos agrava o défice de oferta;
- Especialistas alertam para risco de sistema paralelo se não houver regulação clara do acesso à rede nacional;
- Preços praticados por alguns produtores independentes são considerados insustentáveis para o modelo tarifário da EDM;
- Reformas no sector eléctrico são vistas como inevitáveis para conciliar investimento privado, competitividade e segurança energética.
Pressionada por um défice estrutural de oferta, impactos climáticos que reduziram cerca de 500 MW de capacidade de distribuição e pela ascensão de produtores independentes, a EDM confronta um ponto de viragem: sem regulação clara de acesso à rede e um novo modelo económico, arrisca perder receitas e escala, comprometendo investimento, competitividade e segurança energética.
As celebrações dos 48 anos da Electricidade de Moçambique (EDM), à margem da FACIM 2025, transformaram-se num palco de reflexão crítica sobre o futuro do sector eléctrico nacional. A empresa pública enfrenta pressões inéditas, decorrentes da combinação de défice energético estrutural, impactos das mudanças climáticas e o avanço de projectos privados de produção e renováveis, que começam a redesenhar o mapa do mercado.
Para muitos especialistas, a proliferação de produtores independentes, se não for acompanhada por uma política regulatória firme e clara, pode reduzir drasticamente a base de receitas da EDM e comprometer a sua capacidade de financiar projectos estruturantes. O risco é a formação de um sistema paralelo, em que empresas privadas garantem a sua própria geração e vendem o excedente à EDM a preços que a empresa não consegue repercutir ao consumidor final.
“Hoje estão a surgir clientes grandes com necessidades de 15 a 20 megawatts, e nós não estamos a ser competitivos. O Plano Director tem de garantir que, em 2050, teremos capacidade suficiente para responder com renováveis e, quando não for possível, integrar outras fontes. É preciso planificar agora para não limitar os nossos clientes nem a rede nacional”, sublinhou Luís Amado, administrador da EDM
A Confederação das Associações Económicas (CTA) partilhou preocupações semelhantes. Para o empresário Munir Sacoor, “não podemos comprar energia mais cara do que conseguimos vender. O preço final não se limita à central; inclui toda a infra-estrutura até ao cliente. Se não houver racionalidade económica, a sustentabilidade do sistema fica em causa”.
O debate também sublinhou a dimensão da segurança energética. Para Amilton Alissone, assessor do Conselho de Administração da EDM, o Estado não pode abdicar do seu papel: “Em situações de crise, como avarias na HCB, deve haver planos de gestão da procura. A responsabilidade de proteger a população é do Estado, não do produtor privado”.
Apesar das fragilidades, o potencial energético de Moçambique é visto como enorme. Os recursos hídricos, solares e eólicos oferecem margem para uma estratégia de integração público-privada que atraia capital, promova competitividade e assegure sustentabilidade ambiental. O dilema está em equilibrar o papel social da EDM, garantindo acesso universal a preços acessíveis, com a necessidade de manter viabilidade financeira num mercado em mutação.
O PCA da empresa, Joaquim Henrique Ou-chim, resumiu essa encruzilhada: “A EDM tem dois vectores — o social e o empresarial. Deve continuar a cumprir a sua função social, mas tem de criar a sua própria sustentabilidade”.
A leitura que emerge é clara: a EDM precisa de uma reforma estrutural que redefina o seu posicionamento no sector eléctrico, assegure regulação efectiva da entrada dos privados e mantenha a capacidade de investimento em infra-estruturas críticas. O futuro da empresa e a segurança energética de Moçambique estão intimamente ligados à forma como este equilíbrio será alcançado.
MIREME PROPÕE ISENÇÃO FISCAL PARA IMPULSIONAR USO DE GÁS NATURAL VEICULAR
30 de Outubro, 2025
Conecte-se a Nós
Economia Global
-
EXXONMOBIL CANCELA BRIEFING SOBRE PROJECTO DE 30 MIL MILHÕES USD EM MOÇAMBIQUE
30 de Outubro, 2025 -
METAIS RAROS: A MATÉRIA-PRIMA INVISÍVEL QUE MOVE A NOVA ECONOMIA MUNDIAL
30 de Outubro, 2025
Mais Vistos
Sobre Nós
O Económico assegura a sua eficácia mediante a consolidação de uma marca única e distinta, cujo valor é a sua capacidade de gerar e disseminar conteúdos informativos e formativos de especialidade económica em termos tais que estes se traduzem em mais-valias para quem recebe, acompanha e absorve as informações veiculadas nos diferentes meios do projecto. Portanto, o Económico apresenta valências importantes para os objectivos institucionais e de negócios das empresas.
últimas notícias
-
EXXONMOBIL CANCELA BRIEFING SOBRE PROJECTO DE 30 MIL MILHÕES USD EM MOÇAMBIQUE
30 de Outubro, 2025 -
METAIS RAROS: A MATÉRIA-PRIMA INVISÍVEL QUE MOVE A NOVA ECONOMIA MUNDIAL
30 de Outubro, 2025
Mais Acessados
-
Economia Informal: um problema ou uma solução?
16 de Agosto, 2019 -
LAM REDUZ PREÇO DE PASSAGENS EM 30%
25 de Maio, 2023
















