Estabilidade Financeira Resiste a Choques Mas NPL Sobe para 9,32% e Risco Sistémico Agrava-se

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Questões-Chave:

  • Sistema financeiro moçambicano continua sólido, com rácio de solvabilidade em 26,11%;
  • Crédito em incumprimento (NPL) sobe de 8,24% para 9,32% em 2024;
  • Risco sistémico agrava-se para 35,42%, influenciado pelo risco macroeconómico;
  • Endividamento público interno e tensões pós-eleitorais apontados como vulnerabilidades críticas;
  • Prime rate em queda impulsiona liquidez, mas lucros bancários caem 21,99%.

O sistema financeiro moçambicano mostrou-se resiliente ao longo de 2024, apesar dos múltiplos choques internos e externos, incluindo tensões pós-eleitorais, eventos climáticos extremos e riscos soberanos persistentes. Ainda assim, o agravamento do crédito malparado e a deterioração de alguns indicadores pressionaram o risco sistémico para níveis mais elevados.


De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira – Junho de 2025, publicado pelo Banco de Moçambique, o sistema financeiro manteve-se estável, com os bancos a exibirem níveis confortáveis de capitalização e liquidez. O rácio de solvabilidade global fixou-se em 26,11%, muito acima do mínimo regulamentar de 12%, evidenciando robustez para absorver choques.

Contudo, a qualidade dos activos deteriorou-se: o rácio de crédito em incumprimento (NPL) aumentou para 9,32%, ultrapassando largamente o limite de referência de 5,00%, e o rácio de cobertura do NPL caiu para 60,29% (face a 66,04% em 2023).

Esta realidade reflecte, segundo o Banco Central, o impacto de factores como a instabilidade militar em Cabo Delgado, choques climáticos, e tensões pós-eleitorais, que afectaram o normal funcionamento da economia e a capacidade de reembolso dos mutuários.

Risco sistémico agrava-se e índice atinge 35,42%

O índice de risco sistémico aumentou para 35,42% em Dezembro de 2024, face aos 32,29% do ano anterior, permanecendo em nível moderado, mas com tendência de agravamento. Destaca-se a subida do risco macroeconómico para nível alto, devido à contração do PIB real em 4,9%. O risco soberano manteve-se em nível severo, refletindo o aumento da dívida interna pública, que passou de 4.910 milhões USD em 2023 para 6.368 milhões USD em 2024.

Rentabilidade bancária em queda, mas liquidez sólida

Os resultados líquidos do sector bancário recuaram 21,99% em 2024, para 24 mil milhões de meticais, com destaque para os três bancos de importância sistémica (BCI, BIM e Standard Bank), que representaram 64,63% do total. O ROA caiu para 3,38% e o ROE para 13,91%, contra 4,66% e 19,11% em 2023, respectivamente.

Apesar disso, a liquidez manteve-se sólida, com o rácio de cobertura de liquidez de curto prazo em 49,64%, acima do mínimo de 25%. A redução da prime rate e o processo de normalização da taxa MIMO influenciaram positivamente este desempenho, contribuindo para um rácio de transformação em queda (de 44,90% para 40,82%).

Vulnerabilidades continuam elevadas

Além do endividamento público e das tensões pós-eleitorais, o relatório destaca outras vulnerabilidades com impacto potencial na estabilidade financeira:

  • Permanência de Moçambique na lista cinzenta do GAFI, com repercussões reputacionais e nos fluxos financeiros internacionais;
  • Eventos climáticos extremos, como as tempestades Filipo e Chido;
  • Concentração bancária persistente: os três D-SIBs detêm 60% dos activos, 64% dos depósitos e 54% do crédito.

Mercado de capitais e fundos de pensões ganham relevância

O Mercado de Valores Mobiliários continua dominado por obrigações do Tesouro, que representam 87,22% da capitalização bolsista. Os fundos de pensões reforçaram a sua presença neste mercado, com 30,47% das aplicações totais, embora a sua relevância como fonte de financiamento para o sector bancário tenha diminuído substancialmente (apenas 0,47% dos depósitos bancários).