
Europa Aumenta Procura De Hidrogénio Verde E Pressiona Potencial Solar E Eólico De África
Relatórios internacionais alertam que mais de metade da nova capacidade renovável africana está direccionada para projectos de hidrogénio verde orientados à exportação, enquanto milhões continuam sem acesso à electricidade.
- Europa acelera procura de hidrogénio verde e reposiciona África como fornecedora estratégica;
- 61% da nova capacidade solar e eólica africana está hoje ligada a projectos de hidrogénio verde;
- África regista 216 GW de projectos de hidrogénio anunciados, mas apenas 0,07 GW operacionais;
- Relatórios apontam dependência elevada de empresas europeias e ausência de contratos de compra garantidos;
- Moçambique tem apenas 0,1 GW de capacidade renovável instalada, mas 12 GW propostos para hidrogénio verde.
Dois relatórios internacionais recentes revelam uma tendência que poderá reconfigurar o papel de África na transição energética global: a Europa intensificou a procura por hidrogénio verde e está a atrair grande parte do potencial solar e eólico africano para projectos orientados à exportação. Esta dinâmica levanta preocupações sobre segurança energética, prioridades de desenvolvimento e risco de extracção de valor sem industrialização local.
Europa Reforça Aposta Externa E Reposiciona África Na Cadeia Energética Verde
Segundo o relatório “Europe’s push for hydrogen risks diverting Africa’s solar and wind potential”, elaborado por Joanna Munro, Tom Kenning e a equipa do Global Energy Monitor Europe Programme, “a Europa não conseguirá atingir as suas metas de hidrogénio verde sem recorrer a novos fornecedores externos, e África está a ser reposicionada como uma região estratégica para essa expansão”.
O documento explica que a combinação entre metas de descarbonização e reorganização das cadeias energéticas, após a guerra na Ucrânia, levou a União Europeia a intensificar a procura de fontes externas de hidrogénio, com especial foco em países africanos com recursos renováveis abundantes.
Capacidade Anunciada Para Hidrogénio Supera Necessidades De Electrificação Do Continente
O relatório “Africa Hydrogen Briefing – November 2025”, da equipa técnica do Global Energy Monitor (GEM), apresenta um retrato quantitativo da tendência. O documento afirma que “61% de toda a capacidade solar e eólica anunciada em África está actualmente associada a projectos de hidrogénio verde, apesar do continente continuar a enfrentar um défice de electrificação de 600 milhões de pessoas”.
A mesma fonte identifica 216 GW de projectos de hidrogénio verde propostos, enquanto apenas 0,07 GW se encontram realmente operacionais. O relatório sublinha: “dos 216 GW de capacidade proposta para hidrogénio verde, apenas 0,07 GW estão, de facto, operacionais, ilustrando o fosso entre anúncios e execução”.
Os autores recordam que África necessita de 160 GW de renováveis para garantir acesso básico à energia para toda a população actualmente sem electrificação — muito menos do que o volume destinado ao hidrogénio verde para exportação.
Dependência De Empresas Europeias Reacende Temores De Extractivismo Energético
O relatório europeu alerta que “a maioria dos projectos de hidrogénio verde propostos em África é liderada ou financiada por empresas europeias, o que levanta questões sobre a distribuição de benefícios e sobre a capacidade africana de reter valor económico nas cadeias de produção”.
A equipa do Global Energy Monitor Europe enfatiza ainda que “sem estruturas de governação robustas e políticas industriais claras, África corre o risco de se tornar uma fornecedora de moléculas verdes para a Europa, sem desenvolver competências nem indústria local”.
Este padrão, segundo os autores, pode reproduzir lógicas históricas de extracção, agora aplicadas a energia renovável.
Ausência De “Offtakers” Europeus Prejudica Viabilidade Financeira Dos Projectos
Apesar dos anúncios de grandes projectos, a GEM observa que “não existem contratos de compra de longo prazo assinados entre empresas europeias e projectos africanos de hidrogénio verde”.
O relatório reforça que, sem compromissos firmes de compra, “a viabilidade comercial da maioria dos projectos permanece incerta e depende de mecanismos de financiamento ainda não definidos”.
Para promotores africanos, isto cria riscos elevados, reduz capacidade de mobilizar capitais e condiciona bancos e financiadores multilaterais.
Consumo De Água Coloca Pressão Acrescida Em Países Vulneráveis
Outro ponto crítico destacado no relatório europeu refere que “a produção de hidrogénio verde consome até 30 litros de água doce por cada quilograma produzido, o que poderá agravar tensões hídricas em diversos países africanos que já enfrentam stress climático”.
Os autores alertam que, na ausência de estudos ambientais rigorosos, este factor “deve ser tratado como risco estratégico e não como externalidade marginal”.
Mini-Redes Renováveis Como Alternativa Mais Rápida E De Maior Impacto
O relatório africano contrasta a aposta em mega-projectos com soluções descentralizadas, afirmando: “mini-redes solares e eólicas provam ser mais rápidas, económicas e eficazes para electrificar comunidades locais do que mega-projectos orientados para exportação”.
A equipa do GEM sublinha que estas soluções “geram emprego local, reduzem desigualdades territoriais e apresentam riscos financeiros substancialmente menores”.
Moçambique Entre O Potencial E O Risco De Perder Capacidade Para Electrificação Doméstica
O caso moçambicano recebe destaque no relatório africano, que refere: “a disparidade entre os 0,1 GW actualmente instalados e os 12 GW de projectos propostos para hidrogénio verde ilustra a tensão entre necessidades domésticas e orientações externas”.
Os autores acrescentam que Moçambique “tem potencial para se tornar um actor relevante, mas enfrentará desafios significativos se não assegurar prioridade à electrificação nacional e a mecanismos de retenção de valor”.
Uma Estratégia Africana De Hidrogénio Requer Industrialização Local E Equilíbrio Entre Exportação E Electrificação
Ambos os relatórios concluem que o hidrogénio verde em África só será sustentável se o continente conseguir alinhar políticas industriais, investimento tecnológico, inclusão social e protecção ambiental. O documento europeu resume a posição de forma directa: “África não deve ser vista apenas como uma plataforma de exportação de hidrogénio, mas como um parceiro estratégico na construção de cadeias de valor completas”.
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