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Extensionistas agrários suspendem actividades e somam-se às reivindicações salariais no sector público

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Extensionistas agrários contratados no âmbito do programa SUSTENTA, na província de Maputo, suspenderam as suas actividades em protesto contra atrasos salariais que já se arrastam por três meses. Os técnicos, que desempenham um papel crucial no apoio aos produtores agrícolas, afirmam que os atrasos têm sido recorrentes desde o início do programa há quatro anos, expondo-os a graves dificuldades financeiras e desmotivação profissional.

Um sector em crise

As queixas dos extensionistas agrários reflectem uma crise mais ampla no sector público moçambicano, onde atrasos salariais têm sido recorrentes em áreas fundamentais como saúde, educação e, agora,  agricultura. Nos últimos meses, professores e profissionais de saúde também têm denunciado atrasos no pagamento de salários, bem como condições precárias de trabalho, numa altura em que o país enfrenta desafios económicos significativos.

“A nossa situação é insustentável. Trabalhamos durante meses sem remuneração e recorremos a agiotas para sobreviver,” afirmou um dos técnicos, que preferiu não ser identificado. Muitos relatam dificuldades em arcar com despesas básicas e afirmam que, mesmo quando os salários são pagos, não são suficientes para cobrir as dívidas acumuladas devido aos atrasos.

Protesto como último recurso

A decisão de suspender actividades surge como forma de pressionar o ex – Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER) e o Governo a regularizar os pagamentos. “Estamos desiludidos e cansados de promessas não cumpridas,” disse outro extensionista, sublinhando que a sua motivação para continuar a trabalhar está no limite.

Este movimento ocorre numa altura em que a falta de salários ameaça comprometer a implementação de programas essenciais como o SUSTENTA, que visa fortalecer a produção agrícola e a segurança alimentar em Moçambique. A paralisação dos extensionistas agrava os desafios enfrentados pelo sector agrícola, que já lida com os efeitos de fenómenos climáticos extremos e um custo de vida crescente.

Resposta do Governo

A secretária permanente do MADER, Dária Nhancale, afirmou que os procedimentos para o pagamento dos salários atrasados já foram realizados junto ao Ministério da Economia e Finanças, mas não forneceu uma data específica para que os valores sejam transferidos. “Estamos a trabalhar para que os pagamentos sejam efectuados o mais breve possível, mas reconhecemos as dificuldades enfrentadas pelos técnicos,” declarou Nhancale.

Contudo, esta declaração não parece ter apaziguado os extensionistas, que permanecem cépticos quanto à resolução rápida da situação. “São promessas repetidas que nunca se concretizam. Estamos cansados,” afirmou um dos manifestantes.

Um problema estrutural

A actual situação dos extensionistas não é isolada, mas sim parte de uma problemática mais ampla que afecta o sector público em Moçambique. Profissionais da saúde e educação, sectores essenciais para o desenvolvimento do país, também têm reportado atrasos salariais frequentes, insuficiência de materiais básicos e condições de trabalho inadequadas. Estas dificuldades têm gerado manifestações e greves que evidenciam a fragilidade do sistema de gestão de recursos públicos.

O contexto pós-eleitoral, marcado por manifestações, tensões sociais e um aumento generalizado no custo de vida, agrava ainda mais o cenário. Analistas apontam que a falta de liquidez e os desequilíbrios na alocação de recursos são factores-chave que têm pressionado o Governo.

Consequências para o desenvolvimento

A paralisação de actividades no programa SUSTENTA, considerado estratégico para impulsionar a agricultura e a economia rural, levanta preocupações quanto ao impacto nos objectivos de desenvolvimento do país. A agricultura representa uma das bases da economia moçambicana, e atrasos no pagamento de técnicos como os extensionistas podem comprometer avanços em segurança alimentar e no combate à pobreza.

Especialistas alertam que a repetição de episódios de atrasos salariais no sector público mina a confiança nas instituições e pode levar a uma maior insatisfação social. “É necessário um plano robusto e transparente para gerir os recursos públicos e evitar que crises como esta se tornem recorrentes,” afirmou um analista económico.

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