Manifestações violentas em Moçambique causam perdas económicas e alertam para crise de produtos básicos

0
812

Desde Outubro de 2024, Moçambique tem enfrentado momentos de grande tensão devido a manifestações violentas em várias províncias, com maior incidência na cidade e província de Maputo. Estas manifestações, organizadas por apoiantes do candidato da oposição, Venâncio Mondlane, têm como principal motivação a contestação dos resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, onde o Conselho Constitucional declarou Daniel Chapo, da Frelimo, como vencedor com 65,17% dos votos.

O cenário tem gerado um impacto devastador em diversos sectores da economia. Infra-estruturas públicas foram vandalizadas, fronteiras encerradas, corredores comerciais paralisados, estabelecimentos comerciais saqueados e agências bancárias destruídas. Estes eventos já resultaram em quase 300 mortos e 600 feridos, conforme relatado por organizações da sociedade civil. A situação agravou-se com a suspensão de actividades de várias empresas, deixando milhares de moçambicanos desempregados.

Impacto no sector das importações informais

O sector das importações informais foi duramente afectado, com perdas superiores a 3,7 milhões de dólares (cerca de 237,2 milhões de meticais). Em entrevista ao “Diário Económico”, Sudecar Novela, Presidente da Associação Moçambicana dos Pequenos Importadores Informais, afirmou que o encerramento da fronteira de Ressano Garcia, principal ligação com a África do Sul, tornou quase impossível o abastecimento de mercadorias no País. “A violência era uma realidade em Ressano Garcia e a circulação estava limitada, portanto, houve um impacto negativo para o nosso sector”, afirmou.

Durante o pico das manifestações, camiões com mercadorias ficavam retidos por dias na África do Sul, o que resultava na deterioração de produtos. “Estimamos perdas em mais de 70 milhões de rands, houve muita mercadoria que se estragou e foi directamente para a lixeira”, revelou Novela em entrevista ao DE.

Recuperação e alerta para uma crise iminente

Com a suspensão das manifestações no final de Dezembro, as actividades comerciais começaram a ser retomadas. “Conseguimos abastecer o mercado e, com esta trégua, estamos a trabalhar para recuperar dos prejuízos”, explicou Novela ao “Diário Económico”, destacando o abastecimento do mercado grossista de Zimpeto.

Apesar disso, Novela alertou para a possibilidade de uma crise de abastecimento a longo prazo, caso os protestos sejam retomados. “Quando há manifestações, fecham as vias e isso é algo que não combina com o comércio. Caso o cenário se volte a repetir por sete dias ou mais, a situação alimentar vai ficar caótica, teremos pouca oferta para muita procura e os preços também vão disparar”, avisou ao DE.

Contexto político e o futuro incerto

As manifestações têm como pano de fundo a insatisfação com os resultados eleitorais, que atribuíram à Frelimo a maioria parlamentar e a presidência da República. Apoiantem pró-Mondlane, que obteve 24% dos votos, acusam o Conselho Constitucional de irregularidades no processo. Este clima de tensão continua a pairar sobre o país, com receios de que novos episódios de violência possam agravar ainda mais a situação económica e social.

A incerteza política e os danos já causados representam um grande desafio para a estabilidade de Moçambique, com efeitos que podem reverberar por vários sectores e agravar as condições de vida da população.

SUBSCREVA O.ECONÓMICO REPORT
Aceito que a minha informação pessoal seja transferida para MailChimp ( mais informação )
Subscreva O.Económico Report e fique a par do essencial e relevante sobre a dinâmica da economia e das empresas em Moçambique
Não gostamos de spam. O seu endereço de correio electrónico não será vendido ou partilhado com mais ninguém.