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Moçambique enfrenta dilema económico: Reformas urgentes ou estagnação?

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Moçambique está num momento decisivo para o seu desenvolvimento económico. As previsões do Banco Mundial apontam para um crescimento de 4% em 2025, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um ligeiramente superior, de 4,3%, abaixo das expectativas anteriores. Apesar do impulso dado pelas exportações de gás natural, a economia do país continua estruturalmente frágil. A falta de diversificação, a rigidez fiscal e os desafios institucionais ameaçam a sustentabilidade desse crescimento. Sem reformas mais ambiciosas, o país pode permanecer preso num modelo económico desigual e vulnerável.

A Directora do Banco Mundial para Moçambique, Idah Pswarayi-Riddihough, em entrevista ao O Económico, não hesita em alertar para os riscos dessa trajectória. “Se o País não acelerar as reformas económicas e não diversificar a sua economia, continuará preso num ciclo de crescimento frágil e desigual”, afirmou.

Crescimento económico não se traduz em desenvolvimento sustentável

Nos últimos anos, Moçambique registou avanços pontuais, mas insuficientes para transformar a sua estrutura produtiva. A economia tem sido altamente dependente do sector extractivo, um modelo que, segundo Pswarayi-Riddihough, coloca o País numa posição vulnerável. “Precisamos de uma estratégia que vá além do gás natural”, sublinha.

A falta de investimento em sectores como a indústria transformadora, a agricultura e o turismo impede que o crescimento económico beneficie toda a população. A qualidade deficiente da educação e a falta de capacitação da força de trabalho são outros entraves críticos. “Sem mão de obra qualificada, a diversificação económica será sempre limitada”, destaca a economista.

O cenário é agravado pela instabilidade no norte do País e pelos impactos das mudanças climáticas, que aumentam as dificuldades económicas. “A reconstrução do Norte exige mais do que apenas financiamento. É necessário um compromisso estruturado que envolva oportunidades económicas e sociais reais para as comunidades afectadas”, alerta.

Reformas económicas avançam a um ritmo insuficiente

A necessidade de reformas estruturais é amplamente reconhecida, mas a sua implementação tem sido lenta e desigual. O Governo criou o Fundo Soberano de Moçambique e introduziu regras fiscais para melhorar a sustentabilidade orçamental, mas isso, segundo Pswarayi-Riddihough, não é suficiente. “Essas medidas são um passo na direção certa, mas precisam de ser acompanhadas de um compromisso mais forte com a transparência e o ambiente de negócios”, afirma.

O País continua a enfrentar obstáculos sérios que travam o crescimento sustentável. A política fiscal mantém-se frágil, com uma dívida pública elevada e despesas rígidas que limitam a capacidade de investimento. O ambiente de negócios é pouco atrativo, com burocracia excessiva e insegurança jurídica que afastam investidores. Além disso, a dependência do gás natural e de matérias-primas mantém a economia exposta a flutuações externas imprevisíveis.

A janela de oportunidade para o futuro de Moçambique

O crescimento económico projectado para os próximos anos pode ser uma oportunidade ou um risco. Sem reformas estruturais eficazes, Moçambique poderá continuar num modelo de desenvolvimento desigual e instável. Para Pswarayi-Riddihough, o sector privado deve ser visto como motor do crescimento, mas para isso precisa de incentivos reais. “Não basta atrair investimentos; é necessário garantir que esses investimentos beneficiem amplamente a população”, sublinha.

Moçambique precisa urgentemente de acelerar a diversificação da economia, reduzindo a dependência dos recursos naturais e investindo em sectores estratégicos. A eficiência na governação económica tem de ser reforçada para garantir uma gestão mais sustentável da dívida e da despesa pública. Infra-estruturas resilientes devem ser prioridade, com investimentos direcionados para responder às mudanças climáticas e às desigualdades regionais. Além disso, o sector privado precisa de um ambiente de negócios mais favorável, com menos barreiras burocráticas e estímulo ao empreendedorismo e inovação.

Pswarayi-Riddihough deixa um aviso claro: “Moçambique tem potencial para crescer de forma sustentável, mas sem reformas decisivas, esse potencial pode ser desperdiçado. É uma escolha entre avançar com determinação ou permanecer numa posição vulnerável.”

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