Moçambique está numa encruzilhada: 25.000 empregos formais gerados por ano, contra 500.000 entrantes no mercado de trabalho

0
1025

– Manuela Francisco Directora dos Departamentos de Macroeconomia, Comércio e Investimento do Grupo Banco Mundial.

A situação estrutural da economia moçambicana mostra que, as perspectivas de médio e longo prazo são favoráveis, mas concentradas no sector extractivo e no boom do GNL, essa característica representa desafios significativos face a necessidade de se com estabelecer um  crescimento inclusivo e que crie empregos.

Numa palestra intitulada “Transformação Económica para o Crescimento e o Emprego”,  que ministrou  na sexta-feira, 27 de Outubro, no Campus Universitário da Universidade Eduardo Mondlane, Manuela Francisco, Directora dos Departamentos de Macroeconomia, Comércio e Investimento do Grupo Banco Mundial, destacou o facto de se estar perante uma conjuntura em que , “há mais pessoas a procura de emprego do que postos de trabalho a serem criados”, e isto vai gerar uma tensão, e o Banco Mundial tem o papel de apoiar as economias auxiliando-as a contornarem esses desafios.

Observou a especialista do Banco Mundial que Moçambique se encontra entre os países da África Sub Sahariana, juntamente com a Etiópia, a República Democrática do Congo e o Níger,  cujo crescimento médio é do mais elevado entre os países de baixo rendimento a nível mundial e que atingiu as taxas médias de crescimento pré-pandemia.

Disse Manuela Francisco que “Moçambique cresceu rapidamente entre 1995 e 2015, mas a pobreza continua elevada e a desigualdade aumentou”. Sublinhou que “é um dos países mais desiguais em África”, a incidência da pobreza neste momento é de 63%.

Manuela Francisco, Directora dos Departamentos de Macroeconomia, Comércio e Investimento do Grupo Banco Mundial

Nos anos mais recentes (2021 – 2022), a recuperação económica ganhou ímpeto, principalmente apoiada pela recuperação no sector de serviços.

“Moçambique experimentou taxas de crescimento económico favoráveis durante algum tempo, contudo a desigualdade social e o desenvolvimento desigual no país ainda prevalecem”.

Daí que o País esteja a precisar de adoptar um modelo de crescimento que beneficie a todos. “O modelo de crescimento a volta do sector extractivo, por si só não cria muitos postos de emprego pois é mais de capital do que trabalho”.

Enfatiza Manuela Francisco que, apesar da tendência de crescimento que tem apresentado, “a criação de empregos permanece limitada: são 25.000 empregos formais gerados por ano, contra 500.000 entrantes no mercado de trabalho, em parte devido a limitadas mudanças na composição sectorial e na complexidade da economia”.

A economia tornou-se menos diversificada. Os bens extractivos são responsáveis por 60% das receitas de exportação”. Sublinhou.

Anotou que uma força de trabalho bem qualificada é a chave para a prosperidade do Estado.

Para ela, o que está em causa, quer dizer, para inverter este quadro, é usar o sector extractivo para dinamizar outras áreas da economia que criem mais trabalhos. Portanto, “criar uma economia diversificada, com vários sectores e que os recursos possam ser bem utilizados para construir esta economia, que beneficie o povo, com postos de trabalho. Não é errado ter recursos, muito pelo contrário”.

A especialista disse na sua alocação que o facto de Moçambique ter recursos naturais, é um bom ponto de partida, sendo necessário fazer com que os mesmos sejam uma bênção e não uma maldição. Citou os exemplos positivos, em África, do Botswana e do Senegal, do aproveitamento dos recursos minerais a favor do povo. A Noruega, a Holanda e recentemente o Timor Leste que estão a trilhar um bom caminho.

“O ponto de partida é bom, mas é preciso que se adopte políticas boas para que o ponto de chegada beneficie a todos”. Reformas são necessárias e uma delas que já está a ser levada a cabo é o Fundo Soberano, para garantir que não só a geração presente se beneficie, mas também a geração futura.

Na perspectiva que defende, Moçambique deve usar os recursos do sector extractivo, que são de capital intensivo, para desenvolver outras indústrias, para além de diversificar a economia, fazendo com que economia, no seu todo, não dependa apenas de um sector económico, uma situação que a expõe muito a volatilidade.

“É necessário construir uma economia resiliente a choques. E para desenvolver as outras áreas da economia é necessário criar condições para um sector privado dinâmico.” Argumentou Manuela Francisco.

Entretanto, alertou que “o esforço do desenvolvimento não deve ser apenas do Estado, o estado tem de criar condições favoráveis, leis e políticas e regular para que o sector privado desempenhe o seu papel e também contribua para a dinamização da economia, para criação de emprego.”

Moçambique aspira ser um país de renda média até 2043

Directora dos Departamentos de Macroeconomia, Comércio e Investimento do Grupo Banco Mundial, Manuela Francisco disse que Moçambique aspira ser um País de renda média até 2043, para isso Moçambique terá de ir além da indústria extractiva.

Há mais: É necessário “mitigar os riscos fiscais associados aos projectos de GNL, o Governo precisa de equilibrar a realização da consolidação fiscal, por um lado, e a gestão de receitas voláteis, por outro”, afirmou.

Para além disso, avançou Manuela Francisco, o País também deve impulsionar crescimento nos sectores não extractivos, para incluir todos nos benefícios do crescimento, o que passa por aumentar a produtividade agrícola, aumentar o sector de serviços em tamanho e sofisticação e,  apoiar um regime aberto de comércio e investimento através de um quadro regulamentar transparente e eficaz.

SUBSCREVA O.ECONÓMICO REPORT
Aceito que a minha informação pessoal seja transferida para MailChimp ( mais informação )
Subscreva O.Económico Report e fique a par do essencial e relevante sobre a dinâmica da economia e das empresas em Moçambique
Não gostamos de spam. O seu endereço de correio electrónico não será vendido ou partilhado com mais ninguém.