Países em Desenvolvimento Acusam Nações Ricas de Falharem Promessas Climáticas

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Questões-Chave:
  • Países como Somália, Gana e Ilhas Marshall acusam nações ricas de não cumprirem compromissos financeiros para enfrentar alterações climáticas;
  • Prometidos 100 mil milhões de dólares anuais desde 2009 só foram atingidos com atraso em 2022;
  • Meta acordada em 2023 para chegar a 300 mil milhões até 2035 considerada insuficiente face às necessidades de 1 bilião de dólares anuais;
  • Impactos: desertificação, migrações forçadas, ilhas ameaçadas pelo aumento do nível do mar;
  • Enquanto isso, os EUA, maiores emissores históricos, voltaram a sair do Acordo de Paris na segunda presidência Trump.

Líderes de países em desenvolvimento, mais vulneráveis às alterações climáticas, acusaram as nações ricas de não cumprirem as promessas de financiamento climático, numa sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, sublinhando que as consequências recaem sobre sociedades que menos contribuíram para a crise.

A Presidente das Ilhas Marshall, Hilda Heine, foi incisiva ao afirmar que “já passou da hora de o mundo rico cumprir as suas obrigações e canalizar o dinheiro para onde é mais necessário”. Heine criticou a distância entre promessas e realidade, lembrando que “promessas não recuperam terra em nações atoladas como a minha”, ameaçadas pelo avanço do mar.

Desde 2009, as nações ricas comprometeram-se a disponibilizar 100 mil milhões de dólares anuais para apoiar os países em desenvolvimento a enfrentar as alterações climáticas. Esse montante só foi atingido em 2022, com dois anos de atraso. No ano passado, na cimeira climática da ONU, foi acordada uma nova meta: 300 mil milhões anuais até 2035. Porém, muitos países em desenvolvimento consideraram-na largamente insuficiente, dado que estimativas independentes apontam para a necessidade de 1 bilião de dólares anuais até ao fim da década.

O Presidente das Fiji, Sitiveni Rabuka, foi peremptório: “Quem carrega a culpa deve arcar com a factura”. O argumento central é que as maiores potências industriais, responsáveis históricas pelas emissões desde a Revolução Industrial, devem assumir maior responsabilidade financeira.

O impacto social já é visível. O Presidente do Gana, John Mahama, ligou directamente as alterações climáticas ao fenómeno migratório, contrapondo o endurecimento das políticas anti-imigração nos países do norte. “Muitos desses migrantes são refugiados climáticos”, afirmou, acrescentando que “quando o deserto avança e as nossas aldeias se tornam inabitáveis, somos forçados a fugir”.

Por sua vez, o Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, destacou que as mudanças climáticas estão a obrigar os governos de países pobres a fazer “escolhas financeiras impossíveis” entre responder a emergências e investir em resiliência e desenvolvimento. Estima-se que cerca de 10% dos orçamentos nacionais dos países em desenvolvimento sejam hoje canalizados para enfrentar os impactos climáticos, como secas, cheias e subida do mar, ameaçando anular ganhos em matéria de paz e desenvolvimento.

O debate foi marcado também pela posição da Alemanha, que anunciou ter atingido a sua meta de financiamento climático, disponibilizando 11,8 mil milhões de euros em 2024, dos quais 6 mil milhões provenientes de fundos públicos.

Enquanto isso, o posicionamento dos Estados Unidos foi alvo de críticas acrescidas. No segundo mandato de Donald Trump, Washington voltou a abandonar o Acordo de Paris, suspendendo a maior parte dos compromissos financeiros. Numa intervenção polémica, Trump chegou a classificar as alterações climáticas como “a maior fraude do mundo”, em contraste com o governo de Joe Biden, que havia disponibilizado cerca de 11 mil milhões de dólares anuais.

O pano de fundo das acusações não poderia ser mais alarmante: 2024 foi o ano mais quente de que há registo, com temperaturas globais a ultrapassarem pela primeira vez os 1,5 °C acima da era pré-industrial, aproximando o planeta da ruptura dos limites definidos no Acordo de Paris.

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