Turismo Maputo

TURISMO: DIAS MELHORES CONTINUAM A SER ADIADOS

“Precisamos trabalhar muito (…)”, Rui Monteiro, CTA
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A realização do potencial do nosso sector turístico continua nos mínimos, adiando os impactos positivos que um sector turístico dinâmico proporciona ao crescimento económico e desenvolvimento económico e social abrangente. Entretanto, o turismo de negócio parece ser a nova aposta para a alavancagem do sector.

Rui Monteiro, Presidente do Pelouro de Cultura e Turismo da Confederação das Associações Económicas (CTA): “eu acho que ainda não está muito saudável.”

Este é o retrato da CTA sobre o turismo, um dos sectores mais importantes e fonte de promoção de emprego, que nos últimos cinco anos criou mais de 27 mil postos de trabalho, o correspondente a uma média de aproximadamente seis mil postos de emprego por ano. Portanto, um incremento de postos de trabalho nas áreas de alojamento, restauração, agências de viagens e outras actividades turísticas – de 58 mil postos de trabalho em 2015 para 64.6 por cento, em 2018.

Como resultado, o país está a registar um crescimento gradual neste sector, a uma média anual de 3.6%, tendo em 2018 contribuído com cerca de 2.7% no Produto Interno Bruto, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).

As receitas no sector alcançaram 5.08 mil milhões de meticais no ano passado, representando um crescimento de 2.6% face ao igual período de 2017.

Relativamente a estrutura da receita, 47% referem-se ao alojamento, 42% a restauração. Estes índices estão em harmonia com as receitas de 2017 que foram de 47% para o alojamento e 41%, para a restauração.

No que diz respeito ao movimento de hóspedes nacionais por província, as Estatísticas do Turismo 2018 (INE) mostram que a cidade de Maputo é a que recebeu maior número de hóspedes com 41.0%, seguida por Gaza com 8.7% e Manica 7.9%.

As províncias de Maputo e Tete são as que menos hóspedes nacionais tiveram com 2.6% e 4.1%, respectivamente.

No mesmo período, a Cidade de Maputo alcançou 69.1%, seguida por Inhambane com 10.0% e Província de Maputo com 6.5% – províncias que receberam maior número de hóspedes estrangeiros –, enquanto as províncias de Sofala com 0.9%, Tete e Niassa com 1.1% e 1.3%, respectivamente, são as que receberam menor número de visitantes.

Avaliando os números, Rui Monteiro observou que “estão ainda aquém do desejado”.

“Precisamos trabalhar muito para atingir um turismo saudável e que possa contribuir fortemente para o Orçamento do Estado. Ao fim de tudo, essa é a intenção de todos, não só contribuir, mas poder ser uma indústria sustentável porque neste momento está a ser com apenas poucos hotéis a serem sustentáveis,” observou Rui Monteiro.

Moçambique é um país com um potencial turístico Top de Gama.

A localização estratégica do País favorável a prática de um turismo competitivo a nível regional e internacional e com vários segmentos de negócios.

A vasta linha costeira, a existência de lindas praias, clima tropical, fauna e flora marinhas e terrestres exuberantes constituem condimentos de referências apreciados em todo o mundo. A rica cultura, incluindo a gastronomia

complementam o ambiente acolhedor e agradável das suas gentes variadas de Norte a Sul do País.

Para uma melhor exploração do sector, o Governo introduziu nos últimos anos vários pacotes de incentivos para a promoção e desenvolvimento do turismo.

Este resulta do facto de que este sector tem uma grande capacidade de gerar emprego, promover a construção de infraestruturas, impulsionar o crescimento das economias locais e criar divisas necessárias para o equilíbrio da balança de pagamentos. Investimentos neste sector produzem efeitos multiplicadores que se repercutem nos demais sectores. Em Moçambique é considerado o quarto pilar prioritário de desenvolvimento do país.

Turismo de negócios: nova aposta para o país

O sector turístico está a transformar-se. Nos anos 90, o sector caracterizava-se por promover o turismo de lazer. Mas nos últimos anos, esta realidade mudou. O país está a desenvolver-se economicamente o que abre espaços para o surgimento e afirmação gradual de novos segmentos de negócios. Assiste-se ao aparecimento de turismo misto, que tende para o lazer e para negócios. Nos últimos anos, o turismo de negócios está a afirmar-se cada vez mais, uma situação que para Rui Monteiro, é justificada com o incremento dos investimentos na área dos recursos naturais, em particular no Petróleo e Gás Natural.

No caso, Tete e Maputo são um exemplo disso – os hotéis desenvolveram-se por causa de negócios.

O mesmo comportamento verifica-se em Pemba, continua Monteiro, “que teve uma baixa muito grande ao nível do lazer e depois começou a ressurgir por causa do turismo de negócios, portanto, creio que agora a transformação está a consolidar-se.”

Contudo, Monteiro alerta para os perigos da sazonalidade do turismo de negócios: “os turistas só se deslocam quando há eventos a decorrer.”

O nosso interlocutor acrescenta que, no geral, a indústria turística, enfrenta problemas estruturais que incluem a falta de infraestruturas apropriadas (energia, fornecimento de água, etc.), segurança, poucas estâncias turísticas de alta qualidade, insuficiência da mão-de-obra qualificada, lacunas em competências e conhecimentos nas instituições do sector público e fraca cooperação e/ou coordenação entre os sectores público e privado.

Portanto, Monteiro considera que todas estas bases têm que lá estar para poder desenvolver a indústria do turismo. Frisou a necessidade de união de sinergias entre os diferentes intervenientes para reforçar a contribuição do turismo no País assim como a necessidade de requalificação e desenvolvimento dos polos turísticos.

Ciente de que o ordenamento territorial também constitui um dos obstáculos para o desenvolvimento do turismo em Moçambique, o Governo seleccionou alguns destinos turísticos para serem requalificados.

Nesta iniciativa, a Baixa da Cidade de Maputo será pioneira.

Tenciona-se abranger outros destinos como a faixa de Vilanculos e Inhassoro, incluindo o Arquipélago de Bazaruto; o Parque Nacional da Gorongosa, associado à Reserva Nacional de Chimanimani, o Arquipélago das Quirimbas, o Lago e a Reserva do Niassa.

Rui Monteiro - Presidente do Pelouro de Cultura e Turismo da CTA

Rui Monteiro – Presidente do Pelouro de Cultura e Turismo da CTA.

Burocracia na concessão de vistos turísticos condiciona o desenvolvimento do sector

O relatório sobre hospitalidade da plataforma africana de viagens Jumia, referente ao ano de 2018, aponta que as viagens e o turismo contribuíram com 8,5% do PIB de África. Este índice equivale a USD 196,2 mil milhões resultantes da entrada de 67 milhões de turistas internacionais em 2018.

A lista inclui Marrocos e a África do Sul como os principais destinos, com cerca de 11 e 10 milhões de chegadas anuais, respectivamente.

Os dados revelam ainda que Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe estão entre os 20 Países africanos que mais facilitaram a entrada de turistas em 2018. Como menos restritivos em matéria de vistos turísticos estão as Maurícias, o Benim e o Ruanda.

A par dessa questão, Rui Monteiro refere que a posição ocupada por Moçambique não é aconchegante. Segundo observa, há necessidade de maior celeridade na concessão dos vistos de turismo de modo a aproximar cada vez mais o serviço aos turistas.

A título de exemplo, o homem da Cultura e Turismo na CTA, refere que se é moroso o processo de aquisição de vistos para uma pessoa, a situação poderá ser dramática para atender um cruzeiro que em média transporta 1500 pessoas.

De salientar que a procura por produtos e serviços turísticos é maior no verão do que no inverno, particularmente nos meses de Outubro,

Novembro e Dezembro, sendo este último mês em que se regista o pico. Assim, o último trimestre, época de maior fluxo, foi responsável por 27.69% das dormidas do ano 2018 e 10.3% ocorreram em Dezembro.

No período homólogo de 2017, registou-se no último trimestre 30.65% e uma cifra de 12.34% em Dezembro de 2017, evidenciando uma queda em torno de 2-3 pontos percentuais quando comparado com 2018. 

O turismo dispara no mundo…

O turismo é um sector económico em constante crescimento em todo o mundo. O ano 2018 foi o nono ano consecutivo de crescimento com a maior expansão registando-se no Oriente Médio com 8%, seguido da Ásia e Pacífico com 6%. As chegadas na Europa cresceram 4%, na África 3% e nas Américas 2%.

Esta é uma actividade económica internacional que, entre Janeiro e Junho do presente ano, movimentou 671 milhões

de turistas internacionais, quase mais de 30 milhões do que no mesmo período de 2018, com um crescimento das receitas de exportação geradas pelo turismo para USD 1.7 trilhão em 2018, representando um aumento de 4% comparado com o ano anterior.

Esse valor representa USD 5 bilhões de receitas todos os dias, segundo a publicação Destaques do Turismo Internacional da Organização Mundial do Turismo. O sector representa agora 7% das exportações globais, crescendo a uma taxa mais rápida do que as exportações de mercadorias nos últimos sete anos.

De acordo com o Índice de Competitividade de Viagens e Turismo 2019 recentemente divulgado pelo Fórum Económico Mundial, a Espanha, a França e a Alemanha ocupam as três primeiras posições dos principais destinos entre os viajantes em todo o planeta para o presente ano 2019.

O bom posicionamento desses países deve-se a sua diversidade cultural, grande quantidade de recursos naturais e a infraestrutura de transportes consolidada, o que facilita viagens – sejam elas por estradas, rodovias ou aeroportos.

Um facto curioso é que, apesar de não fazer parte dos 10 principais destinos turísticos do ano, Portugal foi recentemente congratulado pela terceira vez consecutiva com o “Óscar” de melhor destino turístico do mundo pelo World Travel Awards (organismo reconhecido globalmente como a principal marca de excelência do sector).

Além de Portugal, estavam nomeados para este prémio o Brasil, Colômbia, Costa Rica, Dubai, Grécia, Índia, Indonésia, Jamaica, Quénia, Malásia, Maldivas, Maurícias, Marrocos, Nova Zelândia, Ruanda, África do Sul, Espanha, Sri Lanka, Estados Unidos e o Vietname.

Na categoria de cidades, o prémio foi atribuído a Moscovo, superando cidades com um forte sector turístico como Paris, Londres ou Rio de Janeiro, que também competiam pelo título dos World Travel Awards.

O estudo da consultora Euromonitor International 2018 indica que as chegadas internacionais a África cresceram 6,5% em 2017, atingindo 18,55 milhões de chegadas, face a 16,351 milhões registadas em 2012, devendo o número de visitantes continuar a crescer de forma acentuada até atingir 25 milhões em 2022.

Quanto ao desempenho da África Subsaariana refere-se que o PIB da indústria de viagens e turismo dos países desta região totalizou aproximadamente a USD 42.1 bilhões em 2018, com 37.4 milhões de chegadas de turistas, cerca de 1.6% e 3% do total global, respectivamente. Sendo que 35% deste PIB corresponde a contribuição da África Austral, 35% da África Ocidental, os restantes 30% são da África Oriental e as chegadas de turistas situaram-se em 49%, 23% e 28%, respectivamente, segundo o Fórum Económico Mundial.

No entanto, o Fórum Econónico Mundial avança ainda que a África Subsaariana mostra um grande potencial inexplorado para turismo natural, que pode ser melhor utilizado com mais desenvolvimento e investimento. Algumas das maiores melhorias da região incluem a prontidão para as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), abertura internacional e competitividade de preços.

Em geral, com a maioria das economias da região classificadas como de baixa ou média-baixa renda, a África Subsaariana carece da robusta classe média e recursos económicos necessários para gerar viagens intra-regionais e investimentos turísticos na mesma escala que outras partes do mundo, embora ambos os aspectos estejam demonstrando crescimento.

Em particular, a actual falta de investimento significa que a região possui a infra-estrutura menos desenvolvida no mundo, entupindo as artérias vitais das viagens e do turismo.

A infraestrutura de transporte aéreo da região – definida por uma fraca linha aérea doméstica e falta de densidade aeroportuária – mina enormemente a capacidade das economias locais de facilitar viagens turísticas e de negócios, que já são dificultadas pelo vasto tamanho e barreiras geográficas da África.

Como foi possível perceber ao fazer-se uma análise sub-regional, a África Austral é a mais competitiva das três sub-regiões da África Subsaariana, mas experimentou um lento crescimento da competitividade nos últimos dois anos. Para além da competitividade, as outras maiores vantagens da África Austral sobre as outras duas sub-regiões têm haver com a infraestrutura de serviços turísticos e priorização de viagens de turismo.

O crescimento da África Austral deve-se principalmente ao desempenho do Lesoto, que subiu quatro posições no ranking do Índice de Competitividade de Viagens e Turismo em 2019 para uma posição na classificação global de 124a. No entanto, a África do Sul, que ocupa a 61a posição, responde actualmente por aproximadamente 70% do PIB de viagens e turismo da África Austral e é o artilheiro da sub-região neste índice, com uma forte liderança sobre os países do resto da região em áreas relacionadas a recursos culturais e viagens de negócios.

Para o caso específico de Moçambique (que ocupa a 127a posição), o Fórum Económico Mundial referencia que o potencial turístico do nosso país está em larga medida por explorar, sendo necessários investimentos em infraestruturas, recursos humanos e condições de saúde e higiene, que reforçariam a competitividade do sector e da economia em geral.

Para a próxima década, o Fórum Económico Mundial estima uma evolução da contribuição da indústria de turismo e viagens para o PIB global, saindo de 10% para 50%.

Um dos aspectos ressaltados pelo relatório deste ano foi que o crescimento da infraestrutura favorável ao turismo – estradas, portos, aeroportos e hotéis, por exemplo – ficou em apenas 1,4%. Expectando-se que até 2026, a Índia seja o destino a registar maior crescimento nas viagens de lazer, seguido de Angola, Uganda, Brunei, Tailândia, China, Birmânia, Omã, Moçambique e Vietname, e que as economias da África Subsaariana poderão ter a segunda maior taxa de crescimento do PIB de viagens e turismo nos próximos 10 anos (2019 a 2029), segundo o Conselho Mundial para Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês).

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