Prime Rate: Uma subida previsível, mas necessária?

A Prime Rate do mês de Abril foi incrementada em 90 pontos base, tendo esta se fixado em 23,50%. O aumento é visto por especialistas que consideram este evento como previsível no contexto actual da condução da política monetária em Moçambique. Analisando os impactos prováveis, com a subida da prime rate, Émerson Ubisse, Analista de Mercados do BNI, observa que as subidas na prime rate podem impactar diferentes sectores da economia.

“Seguindo a lei normal da economia, um aumento na taxa de juro pode levar a uma redução na demanda por empréstimos, pois as pessoas e as empresas podem achar mais difícil pagar à taxas de juro mais altas, o que pode ter um efeito negativo sobre o consumo, investimento e crescimento económico.” Observa Émerson Ubisse.

Conforme a ánalise que faz, num outro sentido, “o aumento das taxas de juro pode levar à uma maior atractividade para investidores estrangeiros, visto que estes podem obter retornos mais altos em relação aos investimentos em outros países.”

“Isto pode levar a um aumento no fluxo de capital para o país, o que pode ajudar a fortalecer ou a manter a estabilidade do Metical”. Frisou.

O especialista alinha no entendimento de que o aumento da PLR servirá para reforçar os esforços de contenção da inflação, desincentivando a contração de crédito para o consumo, habitação e empréstimos de curto prazo.

“Visto que as perspectivas de crescimento económico no país mantêm-se positivas por conta das perspectivas de aumento das receitas de exportação do gás, carvão e alumínio, que são relativamente independentes do custo do dinheiro no país, estes aumentos nas taxas de juro não deverão pesar significativamente sobre o crescimento económico do país.”. Afirma Emerson Ubisse.

Por seu turno, igualmente ouvido pelo O.Económico sobre o assunto, Vasco José da Standard Reserach, vê a actual prime rate de 23,5%, como reflexo de um pacote de medidas para estabilização da inflação que tem sido implementado desde o segundo semestre de 2022.

“A inflação média mensal segundo o INE tende a acelerar. O INE reporta uma inflação de 10,44% em Janeiro de 2023 face a 8,15% em Julho de 2022. No período entre Julho de 2022 e Janeiro de 2023, a inflação tem aumentando a um ritmo de 4,2% numa base mensal. A prime rate sofreu alterações similares (aumento) em Novembro de 2022 (de 20,6% para 22,5%) e em Fevereiro de 2023 (de 22,5% para 22,6%)”, fundamentou Vasco José.

Segundo ele, o risco inflacionário permanece relativamente alto e determinado pelo potencial aumento do preço de alimentos influenciado pela queda da produção agrícola impactada pelas cheias no Sul de Moçambique e ciclone Freddy essencialmente no Centro e Norte de Moçambique. O risco inflacionário decorrente do contexto global (conflito Rússia-Ucrânia) também permanece alto.

Respondendo à pergunta do O.Económico se a medida é recomendável, Vasco José, respondeu afirmativamente, alertando, no entanto, sobre a existência de um tarde trade off, “dado que, a expansão da prime rate (desde o primeiro semestre de 2022) cria condições para a restrição no financiamento a economia e queda do investimento privado. Todavia, o controlo da inflação permite fortalecer o poder de compra das famílias”

Insistimos sobre o facto de o poder de compra das famílias estar a decair significativamente, o que pode ser percebido como um efeito perverso da política monetária, Vasco José, explicou que efectivamente o poder de compra das famílias está em declínio afectado essencialmente pela queda do salário real (salário nominal medido pela quantidade de bens e serviços que os indivíduos podem adquirir).

“O salário nominal tem permanecido estacionário e os preços têm estado a aumentar entre 2020 e 2023 .  Entre 2020 e 2023, a revisão salarial tem estado em baixa dado o baixo desempenho da economia (afectada pelo Covid-19, pelo conflito em Cabo Delgado, desastres naturais como o Freddy, cheias no Sul, etc) e o contexto global marcado pela crise energética em linha com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia”. Disse Vasco José.

“Este quadro constitui uma justificação adicional de medidas para estabilizar a inflação”. Anotou.