Mercado digital no agronegócio: Mercagro projecta minimizar perdas para agricultores

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  • O agronegócio em Moçambique poderá ganhar um novo ímpeto com o lançamento do Mercagro, um mercado digital e inovador que liga a oferta e a procura no sector do agronegócio. 

A chegada da pandemia de Covid-19 é um dos acontecimentos de que o mundo não se esquecerá, pelos menos quando se falar do impacto que teve na economia mundial e os danos que provocou. 

Muitos agricultores, que têm no seu trabalho uma fonte de renda para o sustento familiar, viram embaraçados, pois dificilmente os compradores iam às machambas para efectuar as compras. Octávio Queface, empreendedor na área de tecnologias e agricultor de pequena escala, fez a pesquisa de mercado e depois das constatações feitas decidiu dar oportunidade aos agricultores para ampliarem a sua renda através do uso da Internet.

Octávio Queface, empreendedor na área de tecnologias

Sabemos que um dos maiores desafios dos agricultores moçambicanos tem a ver com o acesso a mercados. Todos os dias são reportadas notícias de que o agricultor X tem determinada quantidade de produtos, mas não têm mercado”, destaca Queface para depois descorrer sobre a solução que desenvolveu:

“ Então, todos os dias nos deparamos com este tipo de notícias e ao mesmo tempo por vezes encontramos intervenientes do mercado que estão à procura de determinados produtos, mas não conseguem encontrar então o mercado. Então surge a ideia de tentar conectar a oferta e a procura do agronegócio. Quando o País estava a ser assolado pelo Covid-19, as pessoas não podiam mais levar os seus produtos para os mercados normais, os agricultores não tinham outra opção. Ficavam com os produtos ou acabavam vendendo ooa mesmos o mais próximo da sua rede imediata. Mas isto é facto e isso acabavam tendo muitas perdas pós colheita. Então eu e um parceiro decidimos criar uma plataforma em que é possível juntar os diversos sectores da cadeia de valor do agronegócio do mundo que facilite o encontro, primeiro,  e,  depois,  as transações”.

Queface enumerou os vários desafios que os agricultores enfrentam no acesso aos mercados, entre os quais a precariedade das infraestruturas, a falta de transporte adequado, a capacidade limitada para alcançar compradores fora das áreas rurais, a falta de informações sobre a procura, dificultando a tomada de decisões de negócios informadas. E dai traz a sua contribuição na minimização desses constrangimentos: 

“Eu colocaria isso em três pontos: Primeiro, os agricultores teriam acesso a um mercado mais amplo. Se formos a ver sem esta plataforma, os agricultores muitas vezes vendem os seus produtos, mesmo dentro daquilo que é a sua zona de residência ou de produção. Com esta plataforma, mesmo nas suas farmas, nas suas residências, os agricultores podem anunciar os seus produtos para o País inteiro e estarem exposto a diversos compradores, algo que não seria acessível se estivessem a actuar como actuam sem esta plataforma. Então, o primeiro ponto é um mercado mais amplo. A segunda questão é que esta plataforma vai eliminar a dependência a intermediários. Sabemos que os intermediários são aqueles que têm mais conexões, têm mais informações de mercado. Então, por falta de compradores, acabam vendendo os seus produtos a preços muito baixos. A terceira questão tem a ver com a informação de mercado. Com esta plataforma, o agricultor pode ver aquilo que são as tendências e o que é que os compradores estão à procura. E isso vai ajudar naquilo que é um processo de decisão. Quando eles iniciam aquilo que é que é a sua campanha de produção, então no lugar de produzir uma cultura ou porque gosta ou porque tem disponibilidade imediata de semente e quando olhar para o mercado, entra na nossa plataforma e vê que os compradores estão à procura disto”.

O agricultor pode fazer uma inscrição entregando alguns dados. Dependendo da categoria dos produtos há uma taxa simbólica a ser paga pelo uso da plataforma.

Neste exacto momento, os agricultores não estão a pagar nada, mas está nos nossos planos, começar a cobrar. O agricultor tem que disponibilizar a informação que tem a ver com a qualidade, quantidade e o preço, assim como a localização exacta. Feito isto, os dados são lançados na nossa plataforma e ficam disponíveis para compradores em todo o país. E de seguida, porque estes mesmos compradores manifestam interesse em negociar directamente com os produtores. Chegam a um acordo e fecha-se um negócio. Na nossa plataforma temos diversas categorias.”

Com a plataforma, o agricultor poderá ter acesso a informações em tempo real sobre preços e procura, capacitando-se a tomar decisões de negócios acertadas, o que trás vantagens no bolso.

Ao vender directamente aos compradores, o agricultor vai beneficiar-se de preços mais elevados. Neste caso, aquela quota que se destina os intermediários vai para o bolso do agricultor e nós achamos que é uma situação mais justa”. Explicou.

Com o Mercagro os agricultores não têm apenas acesso aos compradores, mas também podem beneficiar de serviços complementares e importantes para a sua actividade.

Para além da venda da produção pelos agricultores, nós acabámos por também colocar disponível a venda de produtos e serviços de equipamentos de fornecedores. E são esses mesmos produtos que, e serviços que os agricultores vão comprar para as suas actividades agrícolas. E então porque nós temos diversas categorias. A título de exemplo, o autor que quer promover vender cereais, paga uma taxa para o anúncio durante 30 dias. Mas um fornecedor que quer vender um trator paga mais naturalmente, uma vez que não são produtos da mesma categoria. Então nós pensamos que é um custo que que vale a pena. Ou seja, não teria um impacto tão grande no bolso do agricultor e achamos que o mesmo pode se suportado pelo mesmo”.

A maioria dos agricultores do país está na zona rural. E o grau de literacia pode ser um entrave para o uso das plataformas digitais 

Na verdade, esse é um dos principais desafios que nós estamos a deparar. E, como bem disse, o grosso dos agricultores são os rurais e estes não têm acesso. Digamos que a penetração da Internet primeiro é muito baixa e mesmo o acesso a dispositivos móveis, que é um pré-requisito para aceder à plataforma, é muito baixa. Com isto, nós estamos a tentar adoptar algumas estratégias. Uma delas são parcerias com organizações de desenvolvimento, aquelas organizações que lidam com a agricultura. Com estas parcerias nós pretendemos dar sessões de formação a este agricultor, assim como aceder à plataforma sobre como vender e como utilizar. A segunda é que estamos a identificar grupos de agricultores, isto é, no lugar de um único agricultor que tem um campo de um hectar a anunciar o seu produto, digamos que 800 quilos de milho. A nossa ideia é sensibilizar os agricultores a juntarem-se em grupos, a agregar os seus produtos e nestes grupos tentar identificar aquilo que tem mais saída. Digamos que tenha a capacidade de usar um dispositivo móvel, ter acesso à Internet e este mesmo vai acabar por representar o grupo. Então acredito que desta forma podemos colmatar um pouco este desafio, que é o acesso a dispositivos móveis e Internet e mesmo o conhecimento para usar estas plataformas digitais.”

Queface acredita que a tecnologia pode capacitar os agricultores, aumentar a eficiência e promover uma agricultura mais sustentável. A plataforma também oferece um mecanismo de pagamento para tornar as transações seguras, assim como serviços de logística para facilitar o escoamento dos produtos. Recentemente, a plataforma abriu espaço para a compra e venda de insumos, equipamentos e serviços que o agricultor possa precisar no desenvolvimento de suas actividades agropecuárias, posicionando-se assim como um espaço único para todas necessidades do agronegócio.

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