Análise dos ‘49 Anos da Economia Moçambicana’: Sabemos o que não mais devemos fazer – José Chichava

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Ao longo de uma extensa entrevista que concedeu ao “Semanário Económico”, o economista e professor universitário, José Chichava, procedeu a uma “reflexão histórica e identificou “aprendizados”.

Sabemos o que não mais devemos fazer, disse de forma categórica, José Chichava.

O economista observa que, ao longo dos 49 anos de independência, Moçambique enfrentou inúmeros desafios e experimentou diversas fases de desenvolvimento económico, e destacou pontos cruciais sobre o percurso económico do país e os aprendizados acumulados.

“Um dos principais aprendizados foi a necessidade de um plano de médio e longo prazo para o desenvolvimento do país. Este sonho coletivo é essencial para evitar descontinuidades nos processos governativos, que têm sido uma constante ao longo dos anos. A falta de continuidade nos ciclos de governação resulta em retrocessos económicos, como foi observado repetidamente”. Afirmou.

Chichava sublinhou que, “em vez de reiniciar processos, deve-se corrigir o que está errado e continuar com as iniciativas bem-sucedidas”

Descontinuidades e suas consequências

A descontinuidade tem sido um dos maiores entraves ao desenvolvimento contínuo de Moçambique. De acordo com o também professor universitário e antigo governante, a alternância de políticas e a falta de uma agenda colectiva e unificadora resultaram em retrocessos significativos. Por exemplo, a interrupção de programas promissores e a não implementação de planos eficazes desenhados no passado levaram o país a perder oportunidades de progresso. Deu um exemplo do passado que eventualmente tenha sido uma das maiores frustrações desses tempos: “ A falta de apoio do Conselho de Ajuda Mútua Económica (CAME) no início dos anos 80 ilustra como as expectativas frustradas podem impactar negativamente o crescimento económico”.

Entrevista no Semanário Económico com Dr José Chichava

Moçambique Hoje: Que Realidade Económica

Chichava considera que, actualmente, Moçambique é visto como um país com grande potencial, especialmente devido à descoberta de recursos naturais significativos. Apesar dos reveses , conforme observa o economista, “o país conseguiu construir capacidades intelectuais e humanas reconhecidas por instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial”.  No entanto, “a gestão inadequada e a falta de continuidade em políticas económicas resultaram em períodos de crise, como a suspensão do apoio internacional devido à crise das dívidas não declaradas.

Desafios e caminhos para um Desenvolvimento Sustentável**

O economista identifica como principal desafio económico actual de Moçambique a necessidade de discutir e encontrar um modelo de desenvolvimento inclusivo. “Este modelo deve priorizar a agricultura, considerada por ele como inegociável para o crescimento económico sustentável”.

 A transformação da agricultura moçambicana em uma agricultura mecanizada e comercial é vista como por ele como algo fundamental. Além disso, “é necessário desenvolver cadeias de valor, transformando a produção agrícola em produtos finais para consumo”.

Instado a pronunciar-se se Mocambiqwue podia preterir a sua actual base de desenvolvimento, subsituindo-a por uma economia de serviços, Chicava recusou categorimente esta asserção, afirmamndo que já o colonialismo experimentou esse modelo e ate hoje Mocambique não construiu uma economia robusta, argumentando que o desenvolvimento deve ser endógeno, aproveitando os recursos e capacidades internas do país.

O Papel do Estado e do Sector Privado

Para alcançar um desenvolvimento económico sustentável, José Chichava ressalta a importância de um Estado regulador que apoie o sector privado. “O Estado deve criar as condições para que o setor privado cresça, sem interferir directamente na produção”. Afirmou, acrescentando que neste momento “há Estadio a mais na economia” e, “isso tem de mudar’.

 Um ponto crucial por ele destacado é a necessidade de investimentos no sector privado, especialmente em pequenas e médias empresas, que devem ser apoiadas e capacitadas para contribuir efectivamente para a economia nacional.

Chichava reitera que Moçambique possui um vasto potencial de desenvolvimento, mas enfrenta desafios significativos que precisam ser abordados de maneira estratégica e inclusiva. A criação de um modelo de desenvolvimento que priorize a agricultura, a industrialização e a educação, além da profissionalização da força de trabalho, é  para ele crucial. 

“É imperativo que o Estado desempenhe seu papel de regulador e apoiador, permitindo que o sector privado cresça e contribua para o desenvolvimento económico do País. Com um plano colectivo e um compromisso com a continuidade das políticas, Moçambique pode transformar suas riquezas naturais e capacidades humanas em um crescimento económico sustentável e inclusivo”. Sublinhou.

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