Mercado Bolsista no 3º trimestre de 2024 cresceu de forma moderada, empresas continuam deprimidas

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O PCA da BVM, SA destacou, durante o Economic Briefing realizado no dia 12 de Dezembro de 2024, que o crescimento do mercado bolsista no 3º Trimestre de 2024, quer quando comparado com o período homólogo ou com o trimestre anterior, vem a consolidar a percepção de um crescimento do mercado bolsista em 2024 superior ao de 2023. No entanto, sublinhou que o crescimento foi mais significativo em relação ao 3º Trimestre de 2023 (período homólogo) do que ao 2º Trimestre de 2024 (trimestre anterior), em virtude de este ter sido um ano eleitoral, marcado por muita prudência nas expectativas e perspectivas dos empresários e investidores. 

Incertezas no contexto económico global 

A economia global continua num clima de elevada incerteza, marcada por uma série de conflitos, quer no Leste Europeu quer no Médio Oriente, com todas as consequências ao nível da procura e dos preços das principais commodities nos mercados internacionais, e as pressões fortemente inflaccionárias decorrentes das restrições económicas. 

As projecções do crescimento anual do PIB para 2024 e 2025, segundo o World Economic Outlook do FMI, Outubro de 2024, apontam para uma descida de 3,3% em 2023 para 3,2% em 2024, o mesmo que se prevê para 2025, mantendo-se assim as perspectivas de abrandamento da economia mundial em 2024 e 2025. De igual forma, mas desta vez com sentido positivo, mantêm-se as perspectivas de desaceleração da inflação da economia mundial para 2024 (5,8%) e 2025 (4,3%), face ao ano de 2023 (6,7%).

Salim Valá , Presidente do Conselho de Administração da BVM

Moçambique continuou condicionado pelas tendências em baixa da economia global, sendo afectado pelo impacto negativo da descida da procura e dos preços internacionais das principais commodities de exportação do País, acrescido da subida dos preços dos combustíveis, transportes e bens alimentares, que tem afectado com mais gravidade a população de baixa renda. Os receios da ocorrência de eventos climáticos extremos e dos seus efeitos, continuam a ser uma preocupação persistente, com o impacto negativo sobre a produção agrícola e a destruição de infraestruturas, afectando a prestação dos serviços essenciais mais sensíveis, como o transporte, a saúde e a educação, a que acresce o risco de insegurança alimentar. 

Economia doméstica inspirando cuidados 

A  economia  nacional  continua  a  registar  sinais  de recuperação  a  avaliar  pelo  desempenho  que  tem  vindo  a  registar-se  desde 2021, tendo o Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm) registado um crescimento de  3.20%  no 1º Trimestre de 2024,  contra 4.42% registado no período homólogo de 2023, enquanto que no 2º Trimestre de 2024 a taxa de crescimento do PIB foi de 4,5%, mas excluindo o Gás Natural Liquifeito (GNL), o crescimento no trimestre foi de 3,6%.

No 3º Trimestre de 2024, o crescimento do PIB, excluindo o GLN, situou-se em 2,8% e incluindo o GNL foi de 3,7%, tendo contribuído para esse crescimento o desempenho principalmente da indústria extractiva, seguido da agricultura. O crescimento moderado do PIB está abaixo dos 5,5%,  previsto no Plano Económico e Social e Orçamento do Estado para 2024, encontrando-se também abaixo do seu potencial.

A taxa de juro da Política Monetária, que estabelece os níveis de taxa de juro do crédito à economia, baixou de 14,25% para 13,5% no 3.º Trimestre deste ano, e actualmente está em 12,5%, com as perspectivas da inflacção manter-se em um dígito, no médio prazo, mas continuando a sua tendência de desaceleração, ao fixar-se em 2,7% em Outubro, 2,5% no final de Setembro de 2024, depois de 3,0% em Julho e 2,8% em Agosto, que permitem perspectivar a manutenção da inflação em um dígito no médio prazo, reflectindo a estabilidade do metical.

Estima-se que a economia cresça, no médio prazo, de forma moderada, apesar da prevalência de incertezas e riscos quanto aos impactos dos choques climáticos, da instabilidade e dos conflitos geoestratégicos, bem como a duração da tensão pós-eleitoral e o seu impacto sobre os preços dos bens e serviços, sobretudo ao se aproximar a quadra festiva. As reservas internacionais líquidas mantém-se em níveis confortáveis, suficientes para cobrir mais de 5 meses de importação de bem e serviços, e a má notícia é que a pressão sobre o endividamento público interno mantém-se elevada.

A HCB – Hidroeléctrica de Cahora Bassa, SA, foi a empresa mais negociada no 3º Trimestre de 2024, com 39,5% da quota do mercado accionista, seguida pela CMH – Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA e pela CDM – Cervejas de Moçambique, SA, ambas com uma quota de 27,9% cada.

Em termos de desempenho quantitativo, o 3.º Trimestre de 2024 culminou com uma capitalização bolsista de 202.303 milhões MT, um rácio de capitalização bolsista de 28,12% sobre o PIB, um volume de negócios de 23.993 milhões MT, um índice de liquidez de 11,86%, um financiamento total à economia de 344.468 milhões MT. No final do trimestre em análise estavam cotados 91 títulos na BVM, dos quais 16 títulos são de acções e 27 de Dívida Corporativa, sendo os restantes títulos de Obrigações do Tesouro. O número de títulos registados na Central de Valores Mobiliários até ao final de 3.º Trimestre de 2024 foi de 311 títulos e de 26.305 titulares.

Valá referiu que durante o 3.º Trimestre de 2024, a CDM – Cervejas de Moçambique, SA, a primeira empresa a ser cotada no mercado accionista em 2001, registada na Central de Valores Mobiliários como obrigatoriamente preconizado na lei, pagou dividendos no montante de 519,3 Milhões MT aos seus accionistas. A obrigatoriedade do registo das empresas na Central de Valores Mobiliários, quer estejam ou não cotadas na Bolsa de Valores, é uma das acções prioritárias a ser levadas a cabo pela BVM para os próximos anos.

Transformações profundas na BVM-SA e o Plano Estratégico 2024-2028

Salim Valá referiu que depois de cerca de 25 anos a funcionar como um Instituto Público, e tendo como objectivos ser uma alternativa de financiamento da economia, ser um mecanismo de promoção da poupança e assegurar o seu direcionamento para o investimento produtivo, o Governo decidiu transformar a instituição numa Sociedade Anónima. A mudança operada formalmente em Abril de 2023 visou dar a instituição uma maior robustez e transparência na governação e gestão, imprimir maior capacidade de tomar decisões económicas e comerciais, manter uma melhor e maior proximidade às empresas e investidores e alinhar-se com as boas práticas internacionais no tocante ao mercado de capitais e Bolsas de Valores.

A BVM está a implementar alguns instrumentos de gestão, nomeadamente o Plano de Negócios da BVM, SA e o Plano Estratégico da BVM, SA, ambos para o período 2024-2028. No que concerne ao Plano Estratégico da BVM, SA 2024-2028, referir que ele está orientado para as grandes necessidades e prioridades do mercado de capitais e da Bolsa de Valores, como a ampliação do mercado (no sentido de ter mais empresas e investidores), a modernização tecnológica, ter uma maior diversidade de novos produtos, serviços e instrumentos financeiros, fortalecimento do quadro normativo e desenvolvimento institucional e promoção da visibilidade.

Actualmente estamos a testemunhar mudanças no domínio tecnológico, particularmente no sistema de negociação e da Central de Valores Mobiliários (CVM), nas áreas de governação e gestão, controlo interno, introdução de novos produtos e instrumentos financeiros, potenciamento da área comercial e marketing, reforço da capacidade dos recursos humanos, gestão de riscos e Compliance, bem como a adopção de políticas e boas práticas nos domínio legal e ético, prevenção ao branqueamento de capitais e por forma a evitar riscos legais, regulatórios e reputacionais.

O PCA da BVM, SA enfatizou que a empresa está a reforçar a sua proximidade às empresas e investidores, está procurando ampliar a sua estratégia de internacionalização, incluindo atrair investidores para o nosso mercado e prosseguir com o arrojado programa de literacia financeira em curso. Estamos empenhados em reposicionar a BVM na economia moçambicana, ser um centro incontornável de negócios no país e ser um efectivo barómetro que posa mensurar as tendências da nossa economia. Neste momento, apenas 5 das 100 maiores empresas moçambicanas estão listadas em bolsa, mas se nos próximos 7 anos subíssemos de 5 para 25 grandes empresas cotadas, a capitalização bolsista em % do PIB subiria dos actuais 29% para cerca de 110%, e ai teríamos muitos mais empresas financiando-se através do mercado de capitais e da Bolsa de Valores.  

Títulos Verdes e atracção de grandes empresas para o Mercado Bolsista

Valá enfatizou  que o mercado de títulos verdes em Moçambique é essencial para o país, à semelhança do resto do mundo, considerando os compromissos climáticos assumidos com o Acordo de Paris, e o potencial impacto que o lançamento deste mercado pode ter na nossa economia em sectores como a energia renovável, a agricultura sustentável e a economia azul. A cotação de títulos verdes, como as Obrigações Sustentáveis (Green Bonds, Blue Bonds, Social Bonds, Sustainability Bonds, e outros) vai atrair novas emitentes, incluindo empresas estatais, instituições financeiras e empresas privadas que procuram financiamento para projectos alinhados com os critérios de sustentabilidade – os critérios ESG (Environmental, Social and Governance), que a BVM, SA tem procurado incorporar essa abordagem no nosso mercado.

A integração de princípios de sustentabilidade no mercado de capitais moçambicano pode facilitar a mobilização de recursos para implementar as prioridades de desenvolvimento do país, conforme estabelecido na Estratégia Nacional de Desenvolvimento.  A introdução de Obrigações Sustentáveis irá contribuir significativamente para o desenvolvimento do mercado de capitais, como a experiência da África do Sul e do Kenya assim o demonstram, podendo expandir significativamente a capitalização bolsista da BVM, que actualmente é de MT 207,8 mil milhões, cerca de USD 3.221 milhões, que representa 29% do PIB nacional. Outrossim, referir que as Obrigações Sustentáveis são uma das iniciativas importantes constantes no Plano Estratégico da BVM, SA 2024-2028, a par das Obrigações Municipais, Obrigações de Renda, Obrigações Universitárias, Certificados de Depósito, entre outros instrumentos financeiros já em uso noutras praças financeiras.

O PCA da BVM reiterou que a acção da BVM, SA de promoção da literacia financeira junto às empresas e investidores vai ser prosseguida tendo em vista dinamizar o mercado secundário, instando as empresas à usando o mercado de capitais, imprimindo-lhe a velocidade que é necessária para criar um ciclo virtuoso e progressivo de adesão ao mercado. Entre as medidas para “catalisar vigorosamente” a adesão das empresas à Bolsa de Valores, Valá referiu será “induzida a adesão de empresas dos mais diversos sectores económicos e de relevante importância para a economia, cuja entrada no mercado iria atrair muito mais empresas e muitos mais investidores”. 

Salim Valá terminou convidando os bancos, seguradoras, operadoras de telefonia móvel e de carteira móvel, empresas de exploração de recursos naturais, empresas do Sector Empresarial do Estado, e a cotação em bolsa dos Megaprojectos, Parcerias Público-Privadas, Concessões Empresariais, entre outras, nos termos já estabelecidos na lei vigente e que é necessário fazer cumprir. 


Indicadores bolsistas no 3º trimestre de 2024

O dirigente da BVM, SA afirmou que no 3.º Trimestre de 2024, a análise dos indicadores bolsistas relativamente ao período homólogo de 2023, voltou a ser de evolução positiva, tal como já havia acontecido com o trimestre anterior, nomeadamente no número de emissões de Dívida Corporativa (+35,0%), Volume de Negócios (+24,1%), Número de Acções Cotadas (+23,1%), Número de Títulos Registados na CVM (+21,0), Número de Títulos Cotados (+19,7%), Financiamento da Economia (+13,4%), Capitalização Bolsista (em termos absolutos) (+13,3%), Rácio de Capitalização Bolsista face ao PIB (+12,2%), e Índice de Liquidez do Mercado (+9,5%).

Analisando o 3º Trimestre de 2024 face ao seu trimestre anterior, o crescimento foi mais modesto, sendo de destacar o crescimento do Volume de Negócios (+43,7%) e o Índice de Liquidez do Mercado (+44,8%). O Número de Títulos de Dívida Corporativa Cotados na BVM desceu de 30 para 27%, representando uma queda de 10,0%, enquanto que os restantes indicadores bolsistas tiveram oscilações não significativas entre os -1,8% (Rácio de Capitalização Bolsista) e os +3,3% (Número de Títulos Registados na CVM).

Ao nível do mercado bolsista, registaram-se 66 eventos corporativos durante o 3.º Trimestre de 2024, sendo 58 de pagamento de juros, 7 amortizações/reembolsos de capital, 1 pagamento de dividendos, e o registo de 10 novos títulos e de 231 novos investidores.

Até ao final do 3.º Trimestre, e no mercado de Dívida Corporativa, ocorreu uma emissão no montante de 365,95 milhões MT pela taxa de juro de 22,5%, inferior às três emissões no montante de 1.315,4 milhões MT que haviam ocorrido no trimestre anterior. Já a taxa de juro de 22,5% foi superior à taxa de juro de emissão no 2.º Trimestre que foi de 22,13%, e também superior à taxa de juro média do stock de Obrigações Corporativas que é de 19,0%, revelando uma tendência ascendente da taxa de juro das emissões corporativas.

Ao nível do Papel Comercial registaram-se duas emissões no montante de 882,76 milhões MT à taxa média ponderada de 14,0%, quando no trimestre anterior tinham sido registadas cinco emissões no montante de 1.277,25 milhões MT pela taxa de juro média de 14,6%. O número de emissões e o montante foram inferiores ao trimestre anterior, mas a taxa de juro foi mais favorável neste trimestre (14,0% face a 14,6%), e também relativamente à média do stock de dívida de Papel Comercial que é de 14,3%. 

Ainda no 3.º Trimestre de 2024, foram admitidas à cotação 3 emissões de Obrigações do Tesouro no montante de 2.634,3 milhões MT pela taxa de juro média ponderada de 15,33%, em tudo inferior ao trimestre anterior, onde o número de emissões foi de cinco, o montante de emissão foi de 12.270,95 milhões MT e a taxa de juro média foi de 16,6%, também inferior à média da taxa de juro do stock de Dívida Pública de 17,0%.

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