Protestos pós-eleitorais e ciclone tropical comprometem crescimento económico de Moçambique

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A economia moçambicana enfrenta um momento crítico, marcado pela conjugação de tensões políticas, instabilidade económica e desastres naturais. Segundo Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank, a crise gerada pelos protestos pós-eleitorais que assolam o país desde Outubro de 2024 provocou uma contracção significativa na actividade económica, com impactos directos no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

“O PMI™ do Standard Bank Moçambique caiu para um nível corrigido de sazonalidade de 46,4 em Dezembro, em relação ao registo de 48,4 em Novembro, diminuindo pelo quarto mês consecutivo e atingindo o nível mais baixo desde Agosto de 2020.” Afirmou Fausio Mussá

Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank - Moçambique

PIB em declínio e perspectivas reajustadas

As estimativas de crescimento económico foram revistas em baixa pelo Standard Bank. De acordo com Mussá, o PIB deverá registar um crescimento de apenas 2,5% em 2024 e 3% em 2025, uma queda expressiva em relação aos 5,4% alcançados em 2023. Este desempenho reflecte não apenas os efeitos directos das manifestações e greves, mas também as dificuldades estruturais que afectam o país, como a insegurança em Cabo Delgado e os atrasos em investimentos estratégicos, sobretudo no sector do gás natural liquefeito.

Os protestos, desencadeados pela contestação aos resultados eleitorais, resultaram em paralisações de actividade, interrupções nas cadeias de abastecimento e redução significativa da procura agregada. Empresas em todo o país reportaram dificuldades em manter operações normais, com cortes nas aquisições e na produção. A diminuição do poder de compra e o encerramento temporário de fronteiras agravaram ainda mais o cenário.

Impacto das alterações climáticas

Além das tensões políticas, os efeitos das alterações climáticas têm contribuído para o agravamento da crise económica. O ciclone tropical Chido, que recentemente atingiu o norte de Moçambique, causou danos significativos em infra-estruturas, deslocações populacionais e perda de vidas. Estes impactos somam-se às pressões económicas já existentes, aumentando os desafios para as comunidades afectadas e para o governo.

Eventos climáticos extremos como o ciclone Chido não só comprometem a recuperação económica como também elevam os custos para o governo e para os sectores produtivos. A reconstrução de infra-estruturas danificadas e a resposta às necessidades humanitárias colocam uma pressão adicional no orçamento nacional, já afectado por desequilíbrios fiscais e cambiais.

Inflação e desafios fiscais

Apesar da desaceleração económica, o Standard Bank mantém a previsão de inflação anual em 5,8% para 2025. Contudo, Mussá alerta que os riscos inflacionários permanecem elevados, impulsionados por factores como a subida dos preços dos alimentos, a depreciação cambial e as restrições fiscais. Estes elementos criam um ambiente desafiador para o governo, que enfrenta uma tarefa complexa ao tentar equilibrar a estabilidade macroeconómica com a recuperação económica e social.

Um futuro incerto

Os comentários de Fáusio Mussá destacam a gravidade do momento vivido em Moçambique, mas também apontam para a resiliência necessária para enfrentar os desafios. “As perspectivas agravaram-se acentuadamente devido à tensão pós-eleitoral, ao recuo do crescimento do PIB, à subida da inflação e aos desequilíbrios entre a procura e a oferta de divisas”, afirmou Mussá, sublinhando que a conjugação de factores políticos, económicos e climáticos exige uma resposta coordenada e estratégica.

A curto prazo, a estabilização política será fundamental para restaurar a confiança no mercado. A médio e longo prazos, o país precisará de reforçar investimentos em sectores produtivos e infra-estruturas resilientes, diversificando a economia e promovendo reformas estruturais que atraiam capital estrangeiro.

Moçambique está perante um teste significativo à sua capacidade de recuperação. O caminho a seguir exigirá não apenas liderança política, mas também uma articulação eficaz entre o governo, o sector privado e a comunidade internacional para garantir um futuro mais estável e próspero.

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