Inovação Digital Redesenha o Sistema Financeiro Global: Oportunidades e Riscos

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Questões-Chave:
  • Pagamentos digitais instantâneos como o Pix (Brasil) e UPI (Índia) transformaram a inclusão financeira;
  • Fintechs e Big Techs ampliam o crédito a pequenas empresas e regiões negligenciadas pelos bancos;
  • Criptoactivos e stablecoins oferecem inovação, mas levantam riscos de volatilidade, fraude e soberania monetária;
  • Tokenização pode revolucionar pagamentos transfronteiriços e mercados de capitais, com liquidação atómica e melhor gestão de colateral;
  • Política pública é essencial para orientar a inovação e evitar riscos sistémicos, como mostra o exemplo do Project Agorá.

A transformação digital está a reconfigurar profundamente o sistema financeiro mundial. Fintechs, Big Techs, criptoactivos e sistemas de pagamentos instantâneos estão a desafiar o domínio dos bancos tradicionais, criando novas oportunidades de inclusão e eficiência, mas também riscos que exigem uma resposta regulatória coordenada.

Segundo Iñaki Aldasoro, Jon Frost e Vatsala Shreeti, economistas do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), a inovação financeira dos últimos anos ilustra um ciclo em que ideias radicais começam por ameaçar os modelos existentes, mas acabam frequentemente por complementar e reforçar o sistema financeiro, aumentando a concorrência e a diversidade de serviços.

Pagamentos digitais: a revolução silenciosa

Nos mercados emergentes, os pagamentos digitais instantâneos marcaram a maior transformação. No Brasil, mais de 90% da população adulta já utiliza o Pix para transacções quotidianas; na Índia, o UPI tornou-se uma plataforma universal para bancos, fintechs e Big Techs; e na Tailândia, o PromptPay consolidou-se como solução integrada. Estes sistemas públicos contrastam com realidades como os EUA, onde Venmo e Zelle operam como “jardins murados”, sem interoperabilidade.

O resultado é claro: quando bem desenhadas, as infra-estruturas públicas de pagamento aumentam a inclusão financeira, reduzem custos e forçam os incumbentes a modernizar-se.

Crédito digital: Big Techs e Fintechs ganham espaço

No crédito, plataformas como Amazon (EUA), Alibaba (China) e Mercado Pago (Argentina) abriram espaço a pequenos comerciantes e consumidores tradicionalmente excluídos do sistema bancário. Nos EUA, fintechs de crédito a pequenas empresas têm canalizado recursos para áreas com elevado desemprego e falências, enquanto na China o crédito digital mostrou menor dependência do valor dos colaterais imobiliários.

Ainda assim, os bancos continuam presentes, adaptando-se: algumas fintechs, como a britânica Revolut e a brasileira Nubank, chegaram a tornar-se bancos licenciados, borrando as fronteiras entre o “novo” e o “tradicional”.

Criptoactivos, stablecoins e tokenização

Os criptoactivos e a finança descentralizada (DeFi) prometem um sistema baseado na confiança em algoritmos e não em instituições. Contudo, os riscos permanecem elevados: volatilidade extrema, fraude, branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo.

As stablecoins surgiram como alternativa, ancoradas em moedas fiduciárias e lastreadas em activos como títulos do Tesouro dos EUA. No entanto, o facto de mais de 98% do seu valor estar indexado ao dólar levanta preocupações de soberania monetária para outros países.

Apesar das fragilidades, conceitos como programabilidade e tokenização têm potencial para redesenhar pagamentos internacionais, permitindo liquidações instantâneas, maior eficiência no sistema bancário corresponsal e novas soluções para os mercados de capitais.

O papel da política pública

A experiência mostra que a inovação, deixada por si só, nem sempre gera os melhores resultados. Foi graças a infra-estruturas públicas e políticas pró-activas que exemplos como o Pix e o UPI se tornaram casos de sucesso.

Hoje, novas iniciativas procuram moldar o futuro, como o Project Agorá, que reúne bancos centrais e bancos comerciais para testar um registo unificado tokenizado aplicável a pagamentos transfronteiriços.

A revolução digital na finança já não é promessa, é realidade. Os pagamentos estão mais rápidos, o crédito mais acessível e as possibilidades de inovação multiplicam-se. Mas, como alertam os autores, o desafio está em conciliar inovação com estabilidade. Isso requer não apenas engenho tecnológico e investimento privado, mas também regulação clara, infra-estruturas robustas e coordenação entre actores públicos e privados para garantir que os ganhos cheguem a toda a sociedade.

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