Banco Mundial Alerta Para Desafio Urgente de Criação de Emprego em África: “O Relógio Está a Contar”

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No Simpósio Emprego Jovem em Moçambique – Soluções Baseadas em Evidências para um Mundo em Mudança, o economista Can Sever alertou que a região precisa criar milhões de empregos por ano para acompanhar o crescimento populacional, num contexto marcado por transformações tecnológicas, fragilidades estruturais e pressões socioeconómicas crescentes.

Questões-Chave:
  • África Subsariana necessita criar 15 a 20 milhões de empregos por ano até 2050;
  • A informalidade domina o mercado laboral, com baixa produtividade e fraco crescimento das empresas;
  • O avanço acelerado da Inteligência Artificial poderá redefinir o mercado de trabalho africano.

Num momento em que Moçambique e a África Subsariana atravessam uma transformação demográfica profunda, o economista do Banco Mundial Can Sever lançou um alerta contundente: “o relógio está a contar”. No Simpósio Emprego Jovem em Moçambique – Soluções baseadas em evidências para um mundo em mudança, Sever afirmou que o continente precisará criar milhões de empregos por ano para evitar uma crise económica e social de grandes proporções.

Um encontro que coloca o emprego no centro da agenda económica

O simpósio — promovido pelo Programa Crescimento Inclusivo em Moçambique (IGM) e organizado pela Direção Nacional de Políticas Económicas e Desenvolvimento (DNPED) do Ministério de Planificação e Desenvolvimento, em parceria com o Centro de Estudos de Economia e Gestão da Universidade Eduardo Mondlane e o UNU-WIDER — juntou decisores políticos, académicos, investigadores, parceiros de desenvolvimento e especialistas em mercados laborais. O encontro destacou-se como um espaço privilegiado para discutir soluções baseadas em evidência num momento de rápidas transformações tecnológicas e pressões demográficas intensas.

Demografia acelerada e a contagem decrescente para milhões de empregos

Can Sever iniciou a sua intervenção destacando que a África Subsariana enfrenta uma das mais intensas pressões demográficas do século XXI. As projecções indicam que a região terá de criar entre 15 e 20 milhões de postos de trabalho por ano até 2050, apenas para acomodar o crescimento da sua população jovem. Embora o continente registe algum crescimento económico, esse crescimento traduz-se em muito menos empregos do que em outras regiões emergentes, revelando vulnerabilidades persistentes e limitações estruturais profundas.

Mercados laborais dominados pela informalidade e baixa produtividade

O economista sublinhou que a grande maioria da força laboral africana permanece presa à informalidade, caracterizada por baixa produtividade, insegurança laboral e ausência de protecção social. Apenas uma pequena parcela da população activa se encontra no sector formal. Paralelamente, apesar de elevadas taxas de criação de microempresas, poucas conseguem crescer ou escalar, perpetuando uma economia fragmentada e com fraca capacidade de absorção de mão-de-obra jovem.

Moçambique num limiar crítico da sua transição demográfica

Moçambique, observou Sever, vive uma das transições demográficas mais aceleradas da África Austral, com centenas de milhares de jovens a entrar anualmente no mercado de trabalho. A economia nacional continua pouco diversificada e excessivamente dependente de sectores primários e de baixa produtividade, com a agricultura de subsistência a ocupar grande parte da força laboral. A escassez de empregos de qualidade coloca o país sob pressão crescente e acentua o risco de uma crise prolongada de empregabilidade juvenil.

Tecnologias disruptivas e o risco de um salto tecnológico incompleto

Um dos pontos centrais da apresentação foi o impacto transformador — e potencialmente disruptivo — da Inteligência Artificial. Sever advertiu que, enquanto nos países desenvolvidos a IA está a reconfigurar sectores de média e alta qualificação, em África o seu impacto poderá ser ainda mais assimétrico. Sem investimentos robustos em competências digitais, qualificação técnica e infra-estruturas tecnológicas, Moçambique e grande parte da região poderão ficar presos num “salto tecnológico incompleto”, incapazes de aproveitar as oportunidades emergentes da economia global digital.

A encruzilhada estrutural: informalidade, empresas frágeis e escassa transformação económica

Ao longo da sua intervenção, Sever sintetizou os desafios africanos em três eixos estruturais: a persistência de elevados níveis de informalidade, o crescimento lento e limitado das empresas, e a fraca transformação estrutural das economias. Estas três dinâmicas impedem que o continente converta o seu bónus demográfico em crescimento inclusivo e sustentável. A solução, observou, passa por políticas activas que promovam a formalização económica, o aumento da produtividade, o crescimento do sector privado e a diversificação para sectores modernos e tecnologicamente avançados.

Uma urgência que ultrapassa fronteiras

Na sua conclusão, Can Sever enfatizou que o futuro da África Subsariana não é apenas uma questão continental, mas um desafio global. O mundo possui um interesse directo no sucesso africano, dada a sua rápida expansão populacional e o potencial de se tornar uma das regiões mais dinâmicas do século XXI. “Sem inclusão económica, inovação e investimento no capital humano, arriscamo-nos a uma geração perdida. Com as políticas certas, África poderá ser o novo centro de crescimento global”, afirmou.

O simpósio encerrou com a convicção de que Moçambique, à semelhança da região, enfrenta uma encruzilhada decisiva: transformar o seu potencial humano em crescimento inclusivo e oportunidades de emprego, ou arriscar ver uma parte significativa da sua juventude excluída da economia global num período de rápidas mudanças tecnológicas e estruturais.

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