
BANCO MUNDIAL DEFINE ÁREAS-CHAVE PARA SUA INTERVENÇÃO EM MOÇAMBIQUE NOS PRÓXIMOS CINCO ANOS
Entre os sectores considerados estratégicos estão a agricultura, energia, infraestruturas.
No que concerne a expansão do acesso e energia elétrica o BM prevê aplicar pelo menos 150 US$ milhões, esperando-se maior participação do sector privado.
Para a próxima legislatura, o Banco Mundial assegura que vai continuar a apoiar o desenvolvimento económico e social do País e já traçou sectores-chave que merecerão tal apoio.
O Director do Banco Mundial para Moçambique, Mark Lundell, disse em exclusivo ao O.Económico que a instituição vai prosseguir com a sua política relativamente a ajuda ao desenvolvimento para o nosso País. “Vamos continuar a investir em agricultura, gestão de recursos naturais como pescas e florestas, mas também precisamos de aumentar o capital humano dos jovens e das mulheres jovens”, revelou Lundell.
Lundell referiu que o Banco Mundial preparou um novo projecto focado na educação para raparigas e mulheres jovens com vista a dar mais oportunidades à estas camadas sociais. No entender do Banco Mundial, isso aumentaria bastante o papel das mulheres na economia local, embora já tenham um papel importante na agricultura, todavia
existe a consciência de que é preciso aumentar a participação das mulheres em actividades como o comércio e nas pequenas e médias empresas.
O Banco Mundial continuará a apoiar o défice de investimento. “O sector de transporte e estradas vai continuar a merecer nossa atenção, concretamente na recuperação de estradas secundárias e primárias indo mais ao centro e norte do país”, disse Lundell.
Sobre o sector de energia, energia eléctrica mais especificamente, para alcançar a meta de 100% de acesso até 2030, segundo Lundell, será preciso um investimento de cerca de USD 150 milhões nos próximos 5 anos e ainda mais intensivamente depois disso. “Em relação a energia, outro sector essencial, devo dizer que a fundação para o sucesso do ProEnergia está a ser colocada. Nós vamos tentar ao máximo possível investir e também trazer a participação do sector privado que tem interesses neste sector”, concluiu Lundell.

Mark Lundell – Director do Banco Mundial
Banco Mundial incrementa investimento no sector agrícola no país
Após desembolsar USD 70 milhões para o Projecto de Desenvolvimento de Irrigação Sustentável (PROIRRI),
cuja implementação durou seis anos entre 2011 e 2017, a que abrangeu seis mil pessoas, maioritariamente camponeses, o Banco Mundial (BM) está a investir USD 55 milhões num segundo projecto agrícola denominado
IRRIGA, cuja implementação decorre em Manica, Sofala, Nampula e Zambézia e prevê beneficiar directamente 9000 pequenos produtores, incluindo o acesso melhorado a irrigação e serviços para aumentar a produtividade.
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que mais de 80 por cento das famílias moçambicanas vivem em áreas rurais onde a agricultura é a principal fonte de alimento e renda.
Aliás, o campo não produz o suficiente para as necessidades alimentares das comunidades. As secas prolongadas dos últimos anos, associadas aos sistemas de irrigação inexistentes ou deficientes, tem sido um entrave na produção para muitos pequenos agricultores.
Com vista a fazer face a este cenário, em 2011, o Banco Mundial mobilizou USD 70 milhões para financiar a implementação do Projecto de Desenvolvimento de Irrigação Sustentável (PROIRRI).
O mesmo tinha como principal objectivo aumentar a produção agrícola e melhorar o nível de produtividade dos agricultores através de novos e melhorados sistemas de regadios em vários distritos das províncias de Sofala, Manica e Zambézia.
Aliás, o PROIRRI recebeu um financiamento complementar no valor de USD 5.7 milhões do Governo de Moçambique e um donativo do Governo Japonês na ordem de USD 14.2 milhões, perfazendo um total de
USD 90 milhões de financiamento.
Num período de seis anos, o projecto abrangeu mais de 6.000 pessoas para além de assegurar a irrigação de um total de 3.000 hectares, dos quais 1.700 para arroz, 800 para horticultura e 500 para produção sob contrato.
“O investimento neste projecto seguiu uma abordagem integrada.
Investimos em empresas âncoras ligadas a agricultura e irrigação, e, notamos igualmente que o impacto é muito maior quando trabalhamos com grupos de produtores que se associam a um mercado ou uma empresa que processa seus produtos”, disse Mark Lundell, Director do Banco Mundial para Moçambique, para de seguida acrescentar que, “reforçamos igualmente o provimento de água; o que contribuiu de forma significante no aumento de áreas irrigáveis tendo sido recuperado uma faixa de quatro e cinco mil hectares com o projecto”.
Ainda em torno do impacto do PROIRRI, tal como fez referência o número um do Banco Mundial para Moçambique, foi possível assegurar-se mais sustentabilidade na produção.
“Com a água disponível, as comunidades passaram a irrigar as suas culturas, falo concretamente do milho, arroz, mas também testemunhamos o aumento na produção de hortícolas de forma mais bem-sucedida e os outros produtos que eles comercializaram quer a nível nacional ou internacional.
Por exemplo, numa área de 50 a 300 hectares é possível gerar, com novas técnicas de produção e todos recursos necessários, uma renda em dinheiro quase o triplo do que tinham antes, com esse valor melhoraram suas habitações, compraram uniformes escolares, sapatos para seus filhos, pagaram transporte e adquiriram meios de transportes como motorizadas e outros, e cobriram muitas outras necessidades do dia-a-dia. Acho sim, que esse é um impacto positivo”, frisou Mark Lundell.
Do PROIRRI ao IRRIGA
Entretanto, após os resultados positivos alcançados com o PROIRRI, o Banco Mundial mobilizou mais USD 55 milhões com vista a financiar o Projecto para o Desenvolvimento de Irrigação de Pequena Escala, denominado IRRIGA, que está a ser implementado nas províncias de Manica, Sofala, Nampula e Zambézia.
Com o mesmo período de duração, o projecto IRRIGA enquadra-se nos objectivos e estratégias constantes do Plano Nacional de Investimento no Sector Agrícola e do Programa Nacional de Irrigação.
Espera-se que o projecto beneficie directamente 9000 pequenos produtores, incluindo mulheres e jovens, com acesso melhorado a irrigação e serviços para aumentar a produtividade e o acesso ao mercado.
Refira-se que o IRRIGA está avaliado em USD 55 milhões com um potencial de financiamento adicional de USD 45 ou USD 50 milhões.
Entretanto, questionamos ao Director do Banco Mundial se existe algum acompanhamento junto as comunidades beneficiárias destes projectos, ao que respondeu nos seguintes termos, “a cada três meses uma equipa multissectorial de supervisão visita os vários perímetros onde o projecto é implementado”.
Banco Mundial reitera apoio ao sector agrícola
Os resultados alcançados nos projectos desenvolvidos na área agrícola são animadores tal como reconheceu o Director do Banco Mundial para Moçambique. E justamente por isso que aquela instituição da Bretton Woods reitera seu compromisso de continuar a financiar projectos agrícolas no território nacional.
Com 70% da população a trabalhar na agricultura, e com uma tendência cada vez mais forte de urbanização, Mark Lundell, entende que nos próximos 10 a 15 anos cerca de 60% da população moçambicana vai morar em
áreas rurais e trabalhar parcialmente da agricultura, daí que não vê como não continuar a investir neste sector.
“E se me perguntares qual é a área que nós precisamos investir mais e até o dobro do que fazemos hoje, responderia que é a agricultura. Eu sei que há uma nova política recentemente anunciada de se investir quase três ou quatro vezes mais na agricultura, o que é bom, embora existam desafios relacionados com a sustentabilidade desses investimentos.
Ao mesmo tempo, temos o desafio das mudanças climáticas”, disse Lundell.
Sector de Energias
Para além do financiamento no sector agrícola, o Banco Mundial tem financiado outros projectos, nomeadamente na área de energias.
Embora nos últimos sete ou 10 anos tenha se canalizado ou investido pouco neste sector, ou seja, cerca de 5% da carteira de investimentos neste momento, nota-se uma evolução na nossa carteira bastante grande. Por exemplo, temos estado a apoiar o programa ProEnergia do governo.
Trata-se de um projecto que o Banco Mundial está a financiar com outros parceiros, num montante avaliado em 180 milhões de dólares e visa fundamentalmente expandir a transmissão e transformação de energia.
“E por último, temos o projecto de linhas de transmissão de energia que vai de Temane para Maputo, com um investimento que ronda os USD 500 milhões financiados parcialmente pelo Banco Mundial.
Quase 60% desse montante inclui outras fontes coordenadas em pacotes de financiamento e depois tem outra parte suportada pelo sector privado”, disse Lundell.
Com este projecto poderá ser construída uma estação de energia com capacidade de produzir 450 megawatts o que representa uma expansão da carteira de energia de 5 a quase 20%.
Indústria do Gás
O assunto gás é incontornável na esfera pública nacional. Com investimentos acima de USD 60 biliões nos próximos anos, Moçambique entra para o top cinco dos países produtores de gás a nível mundial.
Para o Banco Mundial, o gás é uma bênção para Moçambique porque vai ter dois efeitos principais, nomeadamente gerar demanda para sectores do gás em termos de serviços de construção, serviços de abastecimento de logística, e outros onde as empresas moçambicanas possam prover quer em Palma, Temane e noutras regiões.
E mais, de acordo com o Banco Mundial, também tem um impacto em receitas do Estado no futuro.
Em 10 anos, de acordo com Mark Lundell, a projecção é que a receita proveniente do gás aumente por volta de USD 5 biliões ao ano, quer dizer, se hoje em dia o PIB situa-se por volta de USD 4 a USD 5 bilhões a tendência será de aumentar progressivamente em função das novas receitas.
Estas receitas podem permitir o aumento de investimento público.
“Hoje em dia o nível de investimento público está na faixa de 8 a 9%, historicamente alcançou um nível de 14%, mas temos que voltar para esse tipo de situação onde o Governo tem mais recursos para infra-estruturas, para investir em escolas secundárias, para expansão da rede de serviços de saúde, investir em programas de seguros
contra mudanças climáticas, investir e estimular a produção agrícola”, disse Lundell.
Mas qual é o risco de se apostar no gás em detrimento de outros sectores ligados ao desenvolvimento da economia? Lundell respondeu da seguinte forma: “o desenvolvimento do sector de gás vai ser de 15 a 20% ao ano, e outros sectores não vão crescer assim tão rápido. Será mesmo importante envidar esforços para a diversificação da economia, investindo em sectores como turismo, construção, agricultura e outros. Isto vai ajudar para que não tenhamos apenas uma economia baseada no sector do gás”, esclareceu Lundell.
Acrescentando, “Moçambique precisa manter esse grau de diversificação da economia para conseguir aumentar o emprego para o resto da economia. Como sabem, o sector de gás não vai impactar directamente o nível de emprego. O mesmo poderá potencialmente empregar entre 10 e 15 mil pessoas. Moçambique precisa de criar centenas de milhares de empregos a cada ano. Essa diversificação para outros sectores é possível e é primordial”.
Veja o vídeo da peça a segir:
 
                			
                                        			
















