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Durante décadas, o sector pesqueiro foi um dos pilares económicos de Moçambique, contribuindo significativamente para as receitas do Estado e o emprego. Contudo, a sua competitividade enfrenta um colapso acelerado devido a altos custos operacionais, baixa produtividade e ausência de políticas ajustadas às dinâmicas actuais. Em entrevista ao O.Económico, Muzila Nhatsave traça um retrato detalhado dos factores que condicionam o futuro do sector.

Declínio da competitividade

O número de embarcações no sector reduziu-se drasticamente. Há 20 anos, existiam 92 barcos dedicados à pesca de camarão, enquanto hoje operam menos de 36. Segundo Nhatsave, o declínio é consequência de uma combinação de factores, incluindo a redução dos recursos, as alterações legais e a falta de viabilidade económica. “Estamos a enfrentar uma situação insustentável, em que os custos superam amplamente os rendimentos”, lamenta.

Custo operacional e sustentabilidade financeira

Nhatsave ilustra as dificuldades financeiras enfrentadas pelas empresas do sector. O custo operacional de um barco pequeno, por exemplo, pode ultrapassar os 300 mil dólares mensais, incluindo combustível e outros insumos. Esta realidade inviabiliza a operação, forçando empresas a abandonar a actividade ou diversificar para outras pescarias, como a gamba. “A estrutura de custos actual não permite eficiência nem competitividade”, afirma.

Muzila Nhatsave, Presidente da Associcao Moçambicana dos Armadores de Pesca Industrial e Camarão (AMAPIC)

Necessidade de reformas estruturais

O líder da AMAPIC defende reformas profundas para salvar o sector. Entre as principais propostas estão a modernização das embarcações para torná-las mais eficientes, a revisão dos períodos de veda em função das especificidades regionais e o aumento da fiscalização para combater a pesca ilegal. Ele destaca ainda a importância de criar incentivos para atrair investimentos que possam revitalizar a indústria.

Nhatsave acredita que a sobrevivência do sector depende de um equilíbrio entre exploração e conservação. Ele propõe um realinhamento completo das políticas do sector, incluindo a adopção de práticas mais selectivas e sustentáveis. “Se não tomarmos medidas agora, em poucos anos não teremos mais um sector pesqueiro industrial em Moçambique”, alerta.

As declarações de Muzila Nhatsave ao O.Económico, reflectem a complexidade e a urgência dos desafios enfrentados pelo sector pesqueiro moçambicano. A revitalização do sector requer acções estruturantes e transaccionais que vão além da simples exploração dos recursos. Sem estas intervenções, Moçambique pode perder não apenas uma actividade económica vital, mas também um elemento essencial da sua identidade e soberania.

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