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“Confiança é o maior risco da economia moçambicana”: Oldemiro Belchior sobre os desafios e caminhos para a retoma

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Moçambique enfrenta uma das mais desafiantes conjunturas económicas e políticas da sua história recente. A crise pós-eleitoral intensificou fragilidades existentes, comprometendo sectores estratégicos e limitando a confiança no futuro económico do país. No Semanário Económico, Oldemiro Belchior, interpelado por João Carlos, âncora do programa, apresentou um diagnóstico detalhado sobre o impacto desta crise e sugeriu soluções concretas para mitigar os seus efeitos.

O Estado actual da economia moçambicana

Participando na “Conjuntura de Mercados”, do “Semanário Económico”, Belchior caracterizou a economia como “muito deprimida”, referindo-se à escalada das tensões políticas e sociais que resultaram em manifestações violentas, perturbações nos serviços essenciais e disrupções nas cadeias de valor. Entre os principais impactos, o economista, destacou: :

  • Sector Empresarial: Empresas moçambicanas, sobretudo micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), enfrentam dificuldades sem precedentes, agravadas pela escassez de liquidez e restrições operacionais. Encerramentos temporários de portos, serviços e indústrias diminuíram drasticamente a produtividade e aumentaram os custos.
  • Sistema Financeiro: O sector bancário, vital para a estabilidade económica, sofre com a escalada do crédito malparado. A combinação de taxas de juro elevadas e dificuldades das empresas em gerar fluxos de caixa suficientes colocou os bancos sob maior pressão, com implicações directas na rentabilidade e liquidez.
  • Consumo e Inflação: A redução da circulação de bens e pessoas afectou o consumo interno, enquanto as interrupções no abastecimento impulsionaram a inflação. Belchior antevê uma maior pressão inflacionária nos últimos meses do ano, exacerbada pela quadra festiva, quando o consumo normalmente aumenta.
  • Confiança dos Agentes Económicos: O economista sublinhou que a confiança, um elemento crucial para a recuperação, está “severamente deteriorada”. O adiamento de decisões de investimento por parte de agentes económicos reflete a incerteza quanto ao futuro político e macroeconómico do país.

Impactos no PIB e nas Finanças Públicas

As manifestações pós-eleitorais já resultaram numa perda de 350 milhões de dólares, equivalente a 2% do PIB, segundo Belchior. Estas perdas são agravadas por um cenário macrofiscal crítico, com a dívida pública interna a atingir 97% do PIB em 2024, muito acima do limite de sustentabilidade de 60% para países de baixo rendimento, conforme estabelecido pelo FMI.

A despesa pública, impulsionada pela massa salarial, juros da dívida e despesas extraordinárias decorrentes de choques climáticos, tornou-se insustentável. Belchior alertou que, se a situação não for resolvida rapidamente, Moçambique poderá ultrapassar 100% do PIB em dívida pública até 2025, com graves repercussões na confiança dos investidores e no financiamento externo.

Recomendações para a Recuperação

Para mitigar os efeitos desta crise e preparar o país para um futuro mais estável, Belchior apresentou três soluções estratégicas:

  1. Resolução Política e Diálogo Nacional:
    • A prioridade é estabilizar o cenário político através de um diálogo construtivo entre o partido no poder e a oposição.
    • A resolução do impasse deve ser imediata, restaurando a coesão social e a normalidade nas actividades públicas e privadas.
  2. Medidas Fiscais para Apoio às Empresas:
    • Implementar moratórias fiscais e de contribuições sociais para aliviar a pressão financeira sobre as empresas.
    • Criar incentivos fiscais que estimulem a actividade empresarial, permitindo às empresas manterem operações e protegerem empregos.
  3. Intervenção no Sistema Financeiro:
    • Reestruturar dívidas bancárias de empresas e famílias, ajustando prazos e condições aos desafios actuais.
    • Evitar aumentos nas taxas de juro, que poderiam agravar ainda mais o custo de financiamento num contexto de extrema fragilidade económica.

Cenário Regional e Global

Moçambique não está sozinho nas suas dificuldades. A nível da África Subsaariana, problemas como o elevado endividamento público, pressões inflacionárias e choques climáticos continuam a limitar o crescimento. Globalmente, o FMI prevê um crescimento económico moderado de 3,2% em 2024 e 2025, insuficiente para resolver problemas estruturais como a pobreza e o desemprego.

Belchior destacou que o contexto geopolítico, incluindo a guerra na Ucrânia e as tensões comerciais entre os EUA e a China, mantém altos os níveis de incerteza, o que afecta negativamente os países em desenvolvimento, como Moçambique.

Visão para o Futuro

Apesar dos desafios, Belchior mostrou-se optimista quanto à capacidade de Moçambique para superar a crise. Referiu que o país já enfrentou momentos difíceis no passado e possui “maturidade suficiente” para lidar com as tensões actuais, desde que haja vontade política e um compromisso com as reformas.

“Se não encontrarmos soluções imediatas, a destruição de valor será irreversível”, alertou, referindo-se à quebra nas actividades económicas e à deterioração das contas públicas. No entanto, reiterou que, com as medidas certas, Moçambique pode recuperar a confiança dos mercados e retomar um caminho de crescimento sustentável.

A análise de Oldemiro Belchior evidencia a urgência de uma resposta coordenada para mitigar os impactos da crise política e económica em Moçambique. O diálogo político, a protecção do tecido empresarial e a estabilidade do sistema financeiro são pilares fundamentais para restaurar a confiança e revitalizar a economia. O futuro do país dependerá não apenas das decisões internas, mas também de como se posicionará no contexto global, aproveitando oportunidades de cooperação internacional e promovendo reformas estruturais.

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