• O número de desempregados ainda permanece em 16 milhões acima do nível pré-pandemia de 2019, revertendo a tendência de queda em 2020 e 2021 do desemprego global.
  • Pouco crescimento no mercado e pressão sobre condições decentes de trabalho podem minar justiça social
  • Entre os jovens entre 15 e 24 anos, a taxa de desemprego é três vezes superior à da população adulta.
  • Trabalhadores na contingência de aceitar empregos de qualidade inferior, muitas vezes com salários muito baixos, às vezes com horas insuficientes.
  • os preços aumentam mais rapidamente do que os rendimentos nominais do trabalho
  • a lacuna global de empregos ficou em 473 milhões em 2022, cerca de 33 milhões acima do nível de 2019.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta sobre o crescimento do desemprego e da precarização do trabalho no mundo em decorrência da desaceleração económica que se vive.

Na sua mais recente publicação periódica sobre a situação global do emprego no mundo, divulgado, nesta segunda feira, 16/01, na sua sede em Genebra, na Suíça, intitulado, “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo”, a OIT, alerta que “a actual desaceleração económica global provavelmente forçará mais trabalhadores e trabalhadoras a aceitar empregos de menor qualidade, mal remunerados, precários e sem proteção social, acentuando assim as desigualdades exacerbadas pela crise da covid-19”

Ainda segundo o relatório do organismo multilateral vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), o crescimento global do emprego será de apenas 1% em 2023, menos da metade do nível de 2022.

Em todo o mundo, o desemprego deve atingir outros 3 milhões de pessoas este ano, chegando em 208 milhões, o que corresponde a uma taxa de desemprego global de 5,8% da população economicamente activa do planeta.

O aumento projectado é justificado em grande parte à oferta restrita de mão-de-obra nos países de alta renda. Segundo a agência da ONU, a estimativa marcaria uma reversão do declínio no desemprego global visto entre 2020 e 2022.

Isso significa que o desemprego global permanecerá 16 milhões acima do valor de referência pré-crise, estabelecido em 2019, revertendo a tendência de queda em 2020 e 2021 do desemprego global. O documento aponta também que o alto desemprego deve implicar uma diminuição da qualidade dos empregos. Segundo o relatório, a escassez de melhores oportunidades forçará muitos trabalhadores a aceitar empregos de menor qualidade, frequentemente mal remunerados, e às vezes com um número reduzido de horas.

Estagflação atinge empregos e produtividade

O relatório aponta como causas para essa estagflação, que ameaça a produtividade e a recuperação do mercado de trabalho, as crescentes tensões geopolíticas no mundo, assim como a guerra na Ucrânia, “Todos estes fatores juntos criaram as condições para a estagflação — uma inflação elevada e um baixo crescimento económico simultaneamente —, pela primeira vez desde a década de 1970”, indica o estudo.

A desaceleração no crescimento global do emprego significa que não esperamos que as perdas sofridas durante a crise da covid-19 sejam recuperadas antes de 2025”, diz Richard Samans, diretor do Departamento de Pesquisa da OIT e coordenador do relatório.

Em todas as regiões, o mercado de trabalho para mulheres e jovens é especialmente adverso. Globalmente, a taxa de ocupação das mulheres foi de 47,4% em 2022, contra 72,3% dos homens. A diferença de quase 25 pontos aponta que, para cada homem desempregado, encontramos duas mulheres nessa condição. Entre os jovens entre 15 e 24 anos, a taxa de desemprego é três vezes superior à da população adulta.

O levantamento aponta que essa diferença de 24,9% significa que, para cada homem economicamente inativo, existem duas mulheres na mesma situação.

Mais de um em cada cinco, ou 23,5%, dos jovens não estão empregados, não estudam nem seguem qualquer formação.

Trabalho digno

Além do desemprego, “a qualidade do emprego continua a ser uma preocupação fundamental”, alerta o relatório, recordando sobre a pertinência “do trabalho digno para a justiça social”.

O documento aponta que uma década de progresso na redução da pobreza foi afectada pela crise do Covid-19. Apesar de uma recuperação ténue em 2021, a escassez contínua de melhores oportunidades de emprego pode agravar-se.

A OIT explica que a desaceleração significa que muitos trabalhadores terão que aceitar empregos de qualidade inferior, muitas vezes com salários muito baixos, às vezes com horas insuficientes.

Além disso, como os preços aumentam mais rapidamente do que os rendimentos nominais do trabalho, a crise do custo de vida corre o risco de empurrar mais pessoas para a pobreza, tendência se soma a quedas significativas na renda observadas durante a pandemia, que em muitos países afectou mais os grupos de baixa renda.

Lacuna global de empregos

O relatório também identifica a lacuna global de empregos.

Para além dos desempregados, esta medida inclui as pessoas que querem emprego, mas não procuram emprego ativamente, seja por desânimo ou por terem outras obrigações, como responsabilidades de cuidado.

Assim, a lacuna global de empregos ficou em 473 milhões em 2022, cerca de 33 milhões acima do nível de 2019.

Variações regionais

Em 2023, África e países árabes devem ter um crescimento do emprego de cerca de 3% ou mais.

No entanto, com suas crescentes populações em idade activa, é provável que ambas as regiões vejam as taxas de desemprego declinarem apenas modestamente. As estimativas apontam uma queda de 0,1% na África e 0,3% nos Estados Árabes.

Na Ásia e no Pacífico e na América Latina e no Caribe, o crescimento anual do emprego é projetado em cerca de 1%. Já na América do Norte, o relatório aponta que haverá poucos ou nenhum ganho de emprego em 2023 e o desemprego deve aumentar.

A Europa e a Ásia Central são particularmente afetadas pelas consequências econômicas do conflito na Ucrânia. Mas, embora o emprego deva diminuir em 2023, suas taxas de desemprego devem aumentar apenas ligeiramente, dado o cenário de crescimento limitado da população em idade ativa.

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