
Euro em queda penaliza economia europeia
A situação corrente com o Euro e suas diferentes repercussões/impactos quer na própria zona Euro, quer na economia global e, sobretudo, os impactos prováveis nas economias que recebem apoio financeiro da EU, é descrita como bastante preocupante, com a moeda a registar depreciações históricas.
Pode-se argumentar que a depreciação do Euro seja atribuída a duas principais razões, nomeadamente:
- O alto nível de Inflação que o União Europeia está a registar (um nível historicamente alto, jamais visto nos últimos 20 anos).
- A rápida e forte tendência apreciativa do Dólar norte-americano.
A inflação média anual na União Europeia atingiu a fasquia de 8.6% em junho, com 14 países a registarem um nível de inflação acima da média, com o nível mais alto de 22%, pertencente a Estónia.
Apenas cinco economias da zona Euro estiveram abaixo desta média de 8.6%.

Uma das principais causas desta tendência galopante do alto nível de inflação, é atribuído ao conflito geopolítico entre a Rússia e a Ucrânia, que fez com que os preços das commodities energéticas e alimentares dos quais a Europa é altamente dependente disparassem.
Contrariamente a Europa, a economia dos EUA não é significativamente dependente de importações do petróleo e gás Russo, uma vez que esta economia dispõe das suas próprias reservas e fontes alternativas de energia, o que a torna, relativamente, imune as oscilações dos preços dos mercados destas commodities.
Para além disto, o Banco Central Europeu (BCE) não tem estado a restringir o seu programa de flexibilização quantitativa, e nem se quer a incrementar a taxa de juro de política monetária de forma proactiva, de forma a conter o alto nível de inflação. Ao contrário do BCE, o Banco Central Norte-americano (FED) tem estado a aumentar a sua taxa de juro de Política Monetária de forma proactiva, como forma de conter o alto nível de Inflação. Esta medida torna investimentos como obrigações de Tesouro denominados em Dólar mais atrativos, criando assim uma maior demanda por dólares e, consequentemente, uma maior valorização desta moeda. Estes aspetos são adicionais à forte demanda por Dólar impulsionada pelo seu status de `Safe Haven´ porto seguro em tempos de guerra/instabilidade, o que justifica a forte e acelerada apreciação do Dólar.
Embora possa se argumentar que subir as taxas de juro seja o primeiro passa para recuperação do Euro, o BCE encontra-se agora numa situação difícil, pois a UE não só esta sob o risco de Inflação, como também de uma recessão iminente. No entanto o BCE encontra-se num dilema, de um lado, o alto nível de inflação requere um aumento das taxas de juro, mas, do outro lado o crescimento económico da zona Euro encontra-se enfraquecido e baixas taxas de juro podem ser a melhor resposta para estimular a economia.
Sendo que o aperto quantitativo e subida das taxas de juro arriscam levar o bloco a uma segunda recessão em dois anos. Uma alternativa a ser considerada seria, conjugar um posicionamento expansionista de política Fiscal com uma relativa baixa taxa de juro. Contudo, é pouco provável que mexidas na política Fiscal salvem o BCE. Estudos revelam que mesmo com um enorme deficit fiscal, o impacto no nível de inflação e de crescimento económico seria moderado. Portanto, olhando a relação custo-benefício de um posicionamento Fiscal expansionista, depreende-se que os custos desta política pesariam mais que os seus benefícios.
A única, potencial, vantagem da desvalorização do Euro reside no possível aumento da sua demanda pela parte de outros países, fora do bloco, para importação de bens e serviços. Um euro enfraquecido pode beneficiar as exportações da EU, particularmente da Alemanha e da França. A Alemanha que já registava um excedente na sua conta corrente (e balança comercial), um euro enfraquecido poderá aumentar a sua competitividade comercial.
Em relação ao apoio financeiro à Ucrânia, prometido em maio, este parece estar a ser passado para segundo plano, uma vez que o bloco europeu enfrenta a perspetiva de graves problemas económicos no seu território. Embora a Presidente da comissão europeia, Úrsula Von der Leyen, tenha proposto o envio de 9 biliões de euros em empréstimos de emergência para a Ucrânia, até então, a UE somente conseguiu acordar com uma parcela inicial que cobre um nono do empréstimo de emergência.
Os governos do bloco europeu precisam, neste momento, de garantir que a resposta económica às consequências da guerra, seja forte o suficiente para evitar um maior enfraquecimento das economias do bloco. A UE poderá enfrentar novos desafios como o espectro de um corte total do gás russo, sobretudo a medida que os meses mais frios na Europa se aproximam, pois será no inverno europeu que a Europa irá ter uma maior necessidade de gás e outros produtos energéticos, para o aquecimento doméstico, para alem das necessidades industriais.
Portanto, perspetiva-se que se o bloco europeu não conseguir negociar com outros países exportadores de commodities energéticas, como o Azerbaijão ou EUA, em substituição ou para reduzir a alta dependência da Rússia, a Europa poderá sofrer severamente com uma subida substancial dos preços de energia e escassez de gás natural. E um dos impactos macroeconómicos mais óbvios e imediatos desta crise de energia será a continua deterioração do Euro, sobretudo em relação a sua principal moeda rival, o Dólar-norte americano, ao ponto de o Euro passar a custar menos que um dólar, ex: EUR/USD= 0.9962, conforme aconteceu no dia 14 de julho de 2022.

O gráfico acima ilustra a evolução do câmbio EUR/USD de 06-18 Jul-22.