
Governo Vai Intensificar A Mobilização De Recursos Para Financiar Sectores Produtivos E Geradores De Emprego – Salim Valá
O Ministro da Planificação e Desenvolvimento defende uma nova abordagem económica baseada na mobilização coordenada de recursos internos e externos, na criação de sinergias com o sector privado e instituições financeiras, e em parcerias estratégicas com os parceiros de cooperação para financiar actividades produtivas, geradoras de rendimento e emprego — com o agronegócio como sector âncora.
- O ministro posiciona a mobilização de recursos internos e externos como prioridade macroeconómica, canalizando capital para actividades com impacto directo em produtividade, emprego e rendimento;
- A estratégia assenta em parcerias com o sector privado, alianças com instituições financeiras e sinergias interinstitucionais com parceiros de cooperação e desenvolvimento;
- O FINOVA surge como caso-piloto dessa nova filosofia: crédito acessível, garantias, seguro climático e assistência técnica a operar de forma integrada;
- Disciplina de execução e transparência mensurável são condições para credibilizar o crédito e restabelecer a confiança entre Estado, banca e produtores;
- A visão abrange, para além do agro, a indústria transformadora, logística e energia, como eixos de uma economia produtiva e diversificada.
Na cerimónia de lançamento do FINOVA, Salim Valá apresentou uma agenda que vai além de uma linha de crédito. O ministro quer mudar a forma como Moçambique mobiliza, combina e aplica capital — público, privado e de parceiros — para financiar sectores produtivos. O ponto de partida é o agronegócio; o destino, uma economia onde o crédito deixa de ser estatística e passa a ser produtividade medida no terreno. “O crédito só terá credibilidade se gerar produtividade e rendimento”, disse, desenhando um pacto de parceria, disciplina e resultados.
Uma visão de mobilização e pragmatismo
Valá defende que o desafio não é apenas a escassez de recursos, mas como os mobilizamos e para quê. O Estado deve actuar como catalisador, articulando interesses, reduzindo riscos e atraindo capital para a economia real.
“Precisamos de transformar a forma como financiamos o desenvolvimento. O Estado mobiliza, a banca financia com segurança, o sector privado investe e executa. Todos partilham responsabilidades e resultados.”

O ministro listou como eixos imediatos agro e agro-processamento, a indústria transformadora ligada às cadeias agrícolas, logística e armazenagem e energia como factor de custo e competitividade.
Parcerias com o sector privado e a banca
A agenda de Valá assenta numa reconciliação estratégica entre Estado, banca e empresas. O ministro quer produtos financeiros adaptados aos ciclos produtivos, modelos de partilha de risco e critérios modernos de avaliação de crédito que considerem contratos de fornecimento, seguros, dados de produção e histórico de conformidade.
“O produtor não é uma variável de risco; é um agente económico. A banca precisa de olhar para a economia real com métricas de risco mais inteligentes.”
Para a banca, a mensagem é dupla: oportunidade e exigência. O Governo promete mitigação de risco e previsibilidade regulatória; em contrapartida, espera disciplina de crédito, celeridade operacional e transparência.
Sinergias com parceiros de cooperação e desenvolvimento
A visão inclui alianças de longo prazo com parceiros bilaterais e multilaterais, para blended finance e co-financiamentos que reduzam o custo do capital e ampliem a escala.
“A cooperação deve catalisar investimento, não substituí-lo. Precisamos de alinhar o apoio externo com as prioridades nacionais e com a velocidade que a economia real exige.”
Nesta lógica, o FINOVA é o protótipo: cooperação (KfW), entidade implementadora (ADVZ), gestão financeira pelo Banco de Moçambique e banca comercial a operar as linhas. Um consórcio institucional orientado por metas e entregáveis.
Arquitectura financeira e instrumentos
A estratégia enuncia uma verdadeira caixa de ferramentas financeiras concebida para atrair e acomodar capital de diferentes perfis. Inclui garantias públicas e mistas destinadas a reduzir o colateral e destravar o crédito produtivo; seguros climáticos baseados em rendimento ou em índices para proteger simultaneamente o produtor e o credor; linhas concessionais e veículos de blended finance que permitam alongar prazos e baixar custos de financiamento; e a securitização de carteiras agrícolas quando houver escala e desempenho comprovado, libertando os balanços bancários para novo crédito. Integra ainda sistemas de pagamentos e registos digitais que reduzem custos de intermediação, melhoram a conformidade e constroem histórico de crédito fiável.
Nada disto é cosmético: são instrumentos concebidos para transformar o risco difuso em risco gerível — condição essencial para que o capital privado entre de forma sustentável no financiamento produtivo.
Reformas habilitadoras
Valá vincou que reformas micro e institucionais são inseparáveis do financiamento produtivo. Entre as prioridades, destacou a necessidade de cadastro e titulação funcional (DUATs) e de um registo electrónico de garantias que assegurem a segurança jurídica do colateral; de procedimentos simplificados para micro e pequenas empresas, em matérias como contabilidade, licenciamento e IVA, que reduzam o custo de formalidade; de uma justiça económica e insolvência ágil, capaz de acelerar a resolução de litígios e permitir reestruturações céleres; e de sistemas de dados e meteorologia aplicada ao seguro e ao crédito agrícola, complementados por um score de risco sectorial baseado em produtividade e conformidade.
“Financiamento sem reformas é areia movediça. Sem simplificação, sem cadastro confiável e sem justiça rápida, o custo do capital continuará alto e a inclusão, baixa.”
A prioridade é canalizar capital para actividades com retorno económico e social claro.
Disciplina, métricas e transparência
O ministro propõe governança com prova de vida: indicadores públicos e auditorias independentes. No caso do agro, medir rendimento por hectare, hectares irrigados, capacidade de armazenagem, empregos criados, percentagem de mulheres e jovens beneficiários, sinistros pagos em tempo e incumprimento da carteira.
“Queremos medir impacto, não apenas desembolsos. Haverá reporte periódico e dados abertos. Confiança constrói-se com resultados visíveis.”
Para coordenar, Valá acena a um mecanismo de delivery interinstitucional que alinhe MPD, banca, ADVZ e parceiros, com metas trimestrais e correcções de rota.
FINOVA como caso-piloto
O FINOVA materializa essa filosofia: crédito, garantias, seguro e assistência técnica sob a mesma arquitectura. A ADVZ conduz a implementação com foco em empresas líderes que integrem pequenos produtores nas cadeias de fornecimento.
“É um programa para gerar valor, não dependência”, sintetiza a mensagem operacional.
A ambição é acelerar substituição de importações, agro-processamento e logística pós-colheita, reduzindo perdas e encurtando o spread entre produtor e indústria.
Alcance social e territorial
A agenda é económica, mas também social e territorial. O desenho privilegia projectos liderados por mulheres e jovens, e a desconcentração para fora das capitais provinciais, onde o défice de crédito é mais agudo.
“Desenvolvimento é incluir. Queremos que a geografia do crédito se pareça com a geografia do país real.”
Riscos e mitigação
Valá não contorna os riscos. Clima, câmbio, governação e execução são os pontos de atenção. O antídoto: seguros com payout rápido, mecanismos de cobertura cambial quando necessário, auditorias e dados abertos para prevenir captura e assistência técnica de proximidade para sustentar performance.
“O risco existe para ser gerido, não para ser desculpa de inacção.”
Os próximos doze meses
O ministro delineia um roteiro de curto prazo: escala no agro com o FINOVA; produtos financeiros temáticos para agro-processamento e logística; ajustes regulatórios que reduzam fricções; e expansão do modelo para indústria e energia quando houver evidência de performance.
“O plano é aprender depressa, corrigir a tempo e escalar o que funciona.”
O discurso de Salim Valá inaugura uma nova gramática de financiamento ao desenvolvimento em Moçambique: mobilizar, combinar e aplicar capital com propósito, parceria e prova de impacto. O agronegócio é o primeiro grande campo de ensaio — não o único. Se a execução corresponder à ambição, o país dá um passo real rumo a uma economia produtiva, mais inclusiva e resiliente, na qual crédito é sinónimo de crescimento e crescimento é sinónimo de prosperidade partilhada.

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