
METAIS RAROS: A MATÉRIA-PRIMA INVISÍVEL QUE MOVE A NOVA ECONOMIA MUNDIAL
Essenciais para a transição energética e a tecnologia moderna, os metais raros estão no centro de uma disputa estratégica entre potências globais
O Que São e Por Que São Tão Importantes
Os chamados metais raros, ou elementos de terras raras (REE – Rare Earth Elements), são um grupo de 17 elementos químicos: quinze pertencentes à série dos lantanídeos, mais o ítrio e o escândio.
Embora sejam designados “raros”, muitos destes elementos são mais abundantes que o chumbo; o que os torna escassos é a dificuldade em encontrá-los em depósitos concentrados e economicamente exploráveis. Estão normalmente misturados com outros minerais, o que torna a sua extração e refinamento complexos, caros e ambientalmente delicados.
Onde São Utilizados
Estes metais são indispensáveis à indústria moderna. Encontram-se em quantidades minúsculas, mas em componentes críticos de tecnologias de alto valor:
- Neodímio e disprósio são usados em ímans permanentes que alimentam motores eléctricos e turbinas eólicas;
- Cério e lantânio servem na refinação de petróleo e na produção de catalisadores;
- Itérbio e európio são usados em monitores, lasers, fibra óptica e sistemas de radar;
- Aplicam-se também em veículos eléctricos, smartphones, computadores, aparelhos médicos, e em sistemas militares, como mísseis, caças F-35 e radares.
Sem eles, as cadeias de abastecimento da economia digital e da defesa moderna paralisariam rapidamente. O impacto foi visível em 2024, quando várias montadoras tiveram de suspender a produção de veículos eléctricos devido às restrições chinesas à exportação de certos metais raros.
A Dominância da China
Embora o processo de separação e refinação destes elementos tenha sido desenvolvido por cientistas norte-americanos nos anos 1950, foi a China que, desde a década de 1980, consolidou o domínio global da indústria.
A razão: custos mais baixos, regulamentação ambiental permissiva e forte apoio estatal.
Actualmente, a China é responsável por cerca de 60% da produção mineira global e 90% ou mais da refinação e fabrico de ímanes de terras raras.
É esta concentração que confere a Pequim um poder estratégico considerável sobre as cadeias produtivas globais — especialmente nas áreas de tecnologia verde, defesa e energia.
Porque São Estratégicos
Os metais raros são considerados recursos críticos não apenas pela sua aplicação industrial, mas pelo seu impacto em segurança nacional, autonomia tecnológica e transição energética.
A transição para veículos eléctricos, a expansão das energias renováveis e a digitalização da economia mundial aumentam exponencialmente a procura destes elementos.
Sem acesso estável a terras raras, nenhum país consegue competir em sectores como inteligência artificial, mobilidade eléctrica, energia limpa, telecomunicações e defesa.
Corrida Global Por Independência Tecnológica
A dependência da China motivou projectos de diversificação em várias regiões:
- EUA: programas de mineração e refinação doméstica no Texas, Califórnia e Wyoming;
- Austrália e Canadá: novos investimentos em extração e processamento, com incentivos públicos;
- União Europeia: legislação de “materiais críticos” para reduzir vulnerabilidades externas;
- Japão e Coreia do Sul: parcerias com fornecedores alternativos (Vietnam, Malásia, África Austral).
Contudo, recriar uma cadeia de valor completa fora da China levará anos e exigirá grandes investimentos em tecnologia, infra-estruturas e sustentabilidade ambiental.
O Peso Geopolítico e o Caso Sino-Americano
Os metais raros tornaram-se ferramenta de negociação geopolítica.
O recente acordo entre Donald Trump e Xi Jinping, assinado em Busan, ilustra essa interdependência:
os Estados Unidos reduziram tarifas sobre produtos chineses em troca de garantias de fornecimento contínuo de metais raros — uma clara demonstração de que a economia verde e a segurança energética estão profundamente entrelaçadas.
Enquanto os EUA tentam reconstruir a sua capacidade produtiva interna, a China utiliza o controlo da cadeia dos REE como instrumento de influência estratégica, equilibrando poder económico e político no tabuleiro global.
Desafios Ambientais e Sustentabilidade
A extração e o processamento de terras raras geram impactos ambientais significativos, devido ao uso de produtos químicos e à geração de resíduos radioactivos.
O desafio actual é aumentar a produção e ao mesmo tempo reduzir a pegada ecológica, através de:
- novas tecnologias de separação limpa;
- reciclagem e reaproveitamento de metais em equipamentos obsoletos;
- economia circular aplicada à electrónica e à mobilidade eléctrica.
Implicações Para África e Moçambique
Embora Moçambique ainda não figure entre os grandes produtores, a crescente valorização dos metais raros abre oportunidades significativas.
O país pode posicionar-se como destino de investimento para exploração, processamento e fabrico de componentes, integrando-se nas cadeias africanas de valor energético e tecnológico.
Com políticas de industrialização e desenvolvimento de competências locais, Moçambique pode passar de mero exportador de recursos para fornecedor de produtos transformados de alto valor, reduzindo vulnerabilidades externas e aumentando o retorno económico.
Perspectiva Global
A procura global por metais raros deverá duplicar até 2035, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).
O seu preço e disponibilidade continuarão a depender de factores como:
- políticas de exportação da China;
- ritmo da transição energética;
- capacidade dos países ocidentais de criarem circuitos alternativos de refinação e reciclagem;
- tensões comerciais e conflitos geopolíticos.
A disputa pelos REE é, na prática, a nova corrida do ouro tecnológico — uma batalha pelo controlo das matérias-primas que definem a economia do futuro.
Mais do que um tema industrial, os metais raros representam o coração silencioso da revolução tecnológica e energética global.
Quem controlar a sua exploração, transformação e fornecimento, controlará o ritmo da inovação, da defesa e da economia verde nas próximas décadas.
O debate em torno das terras raras, portanto, não é apenas sobre minerais, mas sobre poder, soberania e o futuro da economia mundial.
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